Gosto muito de gamão, o jogo de origem árabe (egípcia, segundo alguns) que se joga com dados e estratégia de movimento das peças. Não sou um bom jogador, sou mediano, mas gosto assim mesmo. E o que mais me fascina no gamão, é a combinação de sorte e habilidade necessária para se vencer. Maquiavel já dizia que na vida, tudo era “virtu et fortuna”, virtude – habilidade e fortuna – sorte. Sun Tzu, estrategista chinês (tão adaptado e tão pouco entendido) também advertia que um general pode fazer tudo ao seu alcance para vencer, mas no final, a sorte também contava. É assim no gamão e é assim na vida. Nós podemos dispor, tal como no jogo, nossas peças, nossas energias e nossos esforços em um determinado sentido. Mas também estamos sujeitos a ver toda esta disposição e todo nosso esforço, serem abalados ou frustrados por fatores externos, aleatórios. Uma mudança econômica drástica no mundo, por exemplo, pode atrapalhar seus planos e até mesmo inviabilizar seus projetos. Não foi você o responsável, mas aconteceu e afetou a você da mesma maneira, principalmente em uma época globalizada, em que um evento econômico na China nos atinge em pouco tempo. E esta é a verdade, apesar de todos os nossos esforços, não controlamos tudo, aliás, controlamos bem pouco.
Mas, então, que postura assumir diante desta realidade? Deixar de fazer planos, de tentar, de iniciar projetos? Entregar-se ao pessimismo e à apatia depressiva? Ou, ao contrário, ignorar totalmente que o aleatório existe e pode nos deter, vivendo em um otimismo infantilizado? Se nos entregamos ao pessimismo, morremos no mesmo lugar. Se nos entregamos ao otimismo cego, podemos sofrer uma frustração tão intensa que pode nos matar também. E aí que vejo, no jogo de gamão, uma resposta. O jogo, como eu disse, depende dos dados (sorte) e também de nossa habilidade em mover as peças. O bom jogador sabe que depende dos dados também e, por isto, move suas peças de maneira que esteja razoavelmente preparado para o momento em que os dados trouxerem resultados ruins. Quando os resultados dos dados são bons, há que se ocupar as casas de tal maneira que, no momento seguinte, se os resultados forem ruins, ainda tenhamos uma outra opção, um outro caminho para continuar o jogo. Se forem ruins, há que se mover as peças de tal maneira que se abra espaço para um movimento rápido e progressivo quando pontos bons vierem.
Quem joga gamão sabe que é assim. Que não pode se entusiasmar demais com bons momentos e se expor avançando muito as peças. Mas sabe também que não pode deixar de se mover, temeroso sempre do momento em que a sorte for desfavorável. Esta é a sabedoria do gamão. A busca de um movimento constante, mas sólido, equilibrado. E esta é, penso eu, a maneira mais adequada de pensarmos nossa vida, nossos projetos e nosso Ano Novo também.
É necessário sim, fazer novos projetos, novos planos e iniciar novas formas de agir e viver no ano que chega. Mas é necessário também ser realista e agir de maneira que estejamos preparados para tornar a adversidade do momento na chance do futuro, no recomeço mais sólido quando o cenário for melhor. Eu não sou um bom jogador, como já disse, mas jogo e tento, sempre, na vida e no gamão, aprender esta sabedoria do jogo. Ao final, ganhando ou perdendo uma partida ou um projeto, eu terei sempre crescido, aprendido, amadurecido. E, talvez, seja este o grande sentido do jogo da vida: crescer, tornar-se mais sábio.
Eu lhes desejo um Feliz Ano Novo. Desejo que tenham saúde, principalmente. Em seguida, que tenham ânimo e coragem para viver e “jogar”.
Alexandre Diniz
31 de dezembro de 2013
Posso acrescentar professor? No induismo temos o Senhor Shiva. Ele é o deus da destruição, do fim. O Ocidente não gosta da palavra fim. Mas se não for o fim, não há o começo. É essencial que o Senhor Shiva destrua, para que o Senhor Brahma crie o novo. Assim, em Heráclito de Éfeso encontramos a palavra grega “Panta Rei”, ou seja, Tudo flui.
Que flua então professor… em karmas, em sorte, em estratégia, em Vishnu ( deus indu que mantém). Amém.
Carlos Zem
31 de dezembro de 2013
sinais para 2014…
Carla Betta
31 de dezembro de 2013
Tantas discussões se somos nós ou o destino o que nos conduz! E não há “ou”, mas sim “e”. Muito bem colocada a metáfora com o jogo de gamão! FELIZ 2014!! ABÇS!!
Antonio Carlos
2 de janeiro de 2014
‘Ao final, ganhando ou perdendo uma partida ou um projeto, eu terei sempre crescido, aprendido, amadurecido.’ Gostei. ‘Sorte’ no jogo, ‘sorte’ no amor. Sorte existe para quem gosta de viver.