
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/trote-uma-pratica-medieval-que-desafia-as-universidades
Em meu artigo da semana passada mencionei os trotes e passeatas do “bixo”, mas não nomeei a universidade a que me referia. Não fiz isto porque o artigo não era sobre trotes e nem sobre universidades, era sobre outra situação: a diferença de tratamento a aglomerações e “bagunças” de acordo com a origem social. Mas, diante de alguns questionamentos, digo que me referi sim ao trote aplicado aos calouros da ESALQ e a sua passeata de “libertação dos bixos”. Fiz esta referência por considerar um bom exemplo da situação que analisava. No entanto, mais do que isto, eu sou também um crítico ferrenho dos trotes, não só os da ESALQ, mas de todos eles, sejam em instituições públicas ou privadas. Ocorre que longe de serem brincadeiras de integração, como muitos defendem, os trotes que vejo são, geralmente, rituais de humilhação, assédio e, muitas vezes de coação e violência físicas. No que humilhar alguém, fazendo-o comer embaixo da mesa, por exemplo, ou fazendo-o se ajoelhar diante de veteranos em público (vi as duas coisas) faz para “integrar” alguém? E obrigar ou incentivar alguém a beber até passar mal, Integra o quê e como? Não vejo integração aí, vejo demonstração de hierarquia, de poder. Vejo uma mal disfarçada ação sádica que se perpetua, porque o “bixo” deste ano vai dar o “troco”, fazendo o mesmo no ano que vem, quando ele próprio for um veterano.
Existem, é verdade, formas mais amenas de “trotes”. Um ex aluno da e ESALQ chamou minha atenção sobre isto contando que também se arrecada alimentos para muitas instituições de caridade durante a temporada de “escravidão” dos calouros. Ótimo, mas a meu ver isto não justifica outras atitudes e nem mesmo representa a maior parte das “brincadeiras” feitas, nem aqui e nem em nenhuma universidade ou faculdade. Ao contrário, é comum vermos notícias de violência que terminam de maneira trágica e mesmo as que vemos são apenas uma pequena parte que os meios de comunicação divulgam. Some-se a isto o resultado da violência moral, psicológica, que muitas vezes não aparece, mas fica naquele que a sofreu. Perdoem-me todos os alunos de todas a escolas e universidades que praticam trotes agressivos, mas eu não posso aceitá-los . Se você ingressou em um curso superior, parabéns! Você provavelmente fez por merecer estudando bastante. Porém, sem querer estragar sua alegria, permita-me duas observações.
Primeira: o ambiente universitário que você cria é reflexo e perpetuador do ambiente social em que você vive. Se criar, através de trotes violentos, por exemplo, um ambiente de tensão, arrogância, humilhação e violência, estará reproduzindo fatos da nossa sociedade, que é bem rica nestes fenômenos. Se você não compartilha destes fenômenos sociais, então não os reproduza no seu ambiente de estudo. Ao contrário, faça diferente e ajude a criar um círculo positivo que rompa com as distorções sociais. Integre de verdade, pelo esporte, pela comemoração e pela solidariedade àqueles que estão em uma posição mais “frágil” do que a sua, por estarem ingressando em um ambiente que lhes é desconhecido.
Segunda: se você ingressou em uma faculdade pública, lembre-se de que por mais que você tenha pago para estudar em cursinhos e bons colégios, nesta universidade, seu estudo continua sendo pago, em dinheiro, por milhões de brasileiros que recolhem impostos. E a esmagadora maioria dos que pagam indiretamente pela manutenção de sua universidade, nunca porá os pés ali e não terá a chance que você tem agora. Honre, portanto, esta chance e o sacrifício de milhões que a custeiam, ainda que seja rompendo com práticas de assédio e humilhação que povoam nosso quotidiano, ajudando a criar uma cultura diferente.
Ah, e antes que você pense que eu sou um ex-calouro magoado, eu nunca sofri trotes. Quando ingressei na universidade (pública) vivíamos ainda o final da ditadura. E como execrávamos a violência dos ditadores, atitudes como trotes violentos não eram bem vistas.
PS: para que não fiquem dúvidas de que minha crítica é ao trote de TODAS as universidades, a foto acima é de um realizado na UFRJ.
Posted in: Artigos
Juliano Brisa Scarpelin
5 de fevereiro de 2014
Obrigado,
O texto levanta questionamentos em mais um período de ingressantes.
Que todos possam refletir e assim escolher que realidade moldar em suas vidas universitárias e além.
Anônimo
5 de fevereiro de 2014
“Que obedece ordem mesmo que a ordem seja irracional”
Urubu
5 de fevereiro de 2014
Cara esse video que você postou do babaca da esalq é uma piada. Se o cara tivesse apanhando ele estaria se contorcendo de dor. Isto é apenas uma corda feita de couro a qual faz um estralo. Eu estou no vídeo , de azul ao lado direito do vídeo.
Quanta babaquisse foi quem fez esse blog, cada um com seus ideais.
blogdoamstalden
5 de fevereiro de 2014
Ok Urubu. Obrigado por esclarecer. Eu não vi mesmo ninguém sendo chicoteado, mas achei uma brincadeira de mal gosto e perigosa. Por motivos que não vêm ao caso, no passado eu aprendi um pouco a usar um chicote. E é um instrumento bem perigoso para ser manuseado perto de outras pessoas, sabe? Eu cheguei a partir um rato ao meio com um assim. Foi por isto que postei. Porque não acho um bom instrumento para ser usado em uma brincadeira, entende. Quanto ao resto, vc. tem todo direito de não gostar do Blog e das opiniões aqui expressas. Mas, considerando que temos um público bastante variado e educado, peço a gentileza de, na sua próxima intervenção e comentário, não usar termos chulos, do tipo “babaquice”. Vc. não deve ser um garoto, Urubu, mas um homem. E por isto deve saber que temos que ter responsabilidade, inclusive legal, sobre nossas palavras.
E, que bom que vc não se machucou estando perto do chicote.
Alexandre Diniz
5 de fevereiro de 2014
Professor Amstalden, ao ler seu artigo, fiquei pensando em alguns aspectos antropológicos. Há uma tribo indígena em que, para se passar da infancia para a vida adulta e tornar-se um guerreiro, o indivíduo precisa subir numa árvore alta e derrubar um enxame de abelhas. Há outras tribos com diversos rituais de passagem. Não quero defender os trotes, mesmo porque eu sou contra. Porém, não seriam esses trotes uma adaptação de ritos tribais?
Anônimo
5 de fevereiro de 2014
Viva a sua realidade!
blogdoamstalden
5 de fevereiro de 2014
???????????????????????
Esalqueano
5 de fevereiro de 2014
O trote da ESALQ é so para quem passa por ele e o entende, se você não passou, você não sabe ao certo o que é o trote ESALQUEANO, se o trote na ESALQ existe a mais de 50 anos e mesmo com toda essa pressão nunca acabou é porque não é tão ruim assim. Se analisar o numero de pessoas que moraram em republicas e se submeteram ao trote que são bem-sucedidas, isso chega a quase 100%. Ah, e só mais uma coisa, se a pessoa se submete ao trote é porque ela quer, ninguém é obrigado a fazer nada. QUEM É DE FORA NÃO DEVERIA OPINAR PORQUE NAO SABE O QUE FALA!!!
blogdoamstalden
5 de fevereiro de 2014
Muito bem, Lucas. Agradeço seu comentário. Mas, permita-me uma análise. Segundo o seu raciocínio, se eu não sou da ESALQ não posso fazer comentários, certo? Então se não sou católico não posso criticar o comportamento de padres pedófilos? OU se não sou evangélico não posso comentar a pressão de pastores para se obter doações? Ah, vc. vai argumentar que pedofilia e estelionato são crimes. Bem, mas assédio moral ou físico também são…
Se o trote da ESALQ não é coercitivo, ótimo.
Resta saber se ninguém é discriminado por não participar.
Por último, gostaria que você refletisse sobre minhas afirmações finais. A ESALQ não é de vocês, nem minha. É pública e assim todos temos o direito de opinar sobre certas coisas que lá acontecem. Você faz parte dela, mas não a possui. E seu comportamento lá reflete sim, uma realidade, inclusive de posse e de privilégio, gueto, com sua fala de: “quem é de fora não deveria opinar…”.
Enfim, se vc. quer uma opinião de “dentro”, aí vai. http://www.antitrote.org/depoimentos/
Quanto a pressão, bem, tem coisas no Brasil que são muito pressionadas e tampouco acabam.
Esalqueano
5 de fevereiro de 2014
Interessante sua afirmação, somente expressei minha opinião sobre um assunto que de fato se torna muito dificil de ser discutido devido a complexidade desse “mundo trotista”. O que eu quis dizer com “quem é de fora”é porque muitas vezes as pessoas só ouvem falar e veem alguma manifestação mais “radical”e acabam tornando as coisas às vezes muito piores do que elas realmente parecem. As pessoas muitas vezes são sensacionalistas com determinados assuntos.
Quanto a criticar padres pedófilos e etc… o foco não é esse, e tenho comigo que só entro em discussão de determinado assunto quando eu tenho pleno conhecimento daquilo, muitas vezes as pessoas são hipócritas e criticam as coisas sem ter o mínimo embasamento sobre aquilo que estão falando.
Garanto pra voce que as pessoas que não participam dos trotes da ESALQ não são discriminadas até porque participar ou não é uma opção da pessoa e isso deve ser respeitado. A ESALQ com certeza é uma faculdade publica, pode não ser minha mas sinto como minha e da mesma maneira que pessoas trabalham para sustentar este órgão MEUS PAIS também trabalham para isso, eu faço parte da ESALQ, mas com certeza a ESALQ é o que é, não só pelos professores mais também pelos alunos que a “constroem”. Voce está no seu direito de opinar e eu também. Quanto a pessoas de fora não opinarem, volto a falar no embasamento do assunto, pois pessoas de fora infelizmente não conseguem saber o que realmente acontece de dentro.
Ja conheço o blog, e o livro do professor Antonio Almeida é a melhor aula de trote que possa existir, muito do que está escrito é verdade, mas quase tudo está completamente distorcido, e muitas coisas não existem.
Pessoas que entram no mundo universitário ja tem maturidade suficiente para fazer suas escolhas, o problema é que no Brasil os pais acabam criando os filhos para si e não para o mundo (o que acontece por exemplo nos Estados Unidos), e esses pais extremamente protetores acabam fazendo IMENSAS tempestade em copo d’água, somente para “proteger o meu filhinho” que ja possui 17,18 anos de idade e não é mais criança.
Mas enfim, o mundo só é mundo porque pessoas tem opiniões diferentes e tem a oportunidade de discutir.
blogdoamstalden
5 de fevereiro de 2014
Lucas, partamos da sua pressuposição de que eu não tenha embasamento do que estou falando, mesmo assim, meu amigo, penso que o trote não é tão ameno e voluntário quanto você está afirmando. E isto eu provo com o seguinte fato: a esmagadora maioria dos comentários aqui e no facebook foi feita por alunos da ESALQ e, principalmente no face, as críticas são muitas. Eles não sabem do que estão falando, assim como eu? Sim, seus pais trabalham e milhões de outros. Mas vc entendeu minha colocação no final do texto original? Da reprodução de um ambiente coercitivo? Da formação de uma cultura? Se leu, não preciso explicar, preciso? E sim, a ESALQ é o que é pelos alunos, professores e funcionários (vc. esqueceu deles) que a constroem, daí sua responsabilidade em, sendo beneficiário de uma instituição pública, saber que tipo de universidade está construindo.
Agora, suas observações sobre o prof. Antônio são contraditórias. Por favor, reveja o que escreveu: “Ja conheço o blog, e o livro do professor Antonio Almeida é a melhor aula de trote que possa existir, muito do que está escrito é verdade, mas quase tudo está completamente distorcido, e muitas coisas não existem.” Muito do que está escrito lá é verdade, mas quase tudo está completamente distorcido. Se está distorcido não é verdade, é manipulação. Se não existe, como vc. também afirma, então tampouco é verdade. Desculpe, mas não ficou clara sua posição em relação ao livro e ao site. Por último, fico feliz em receber sua garantia de que ninguém é discriminado por não participar do trote. Mas pelo jeito e pelo número de comentários e acessos, muitos de seus colegas não concordam. Lucas eu não imaginava que o assunto seria tão discutido. E se é, é porque tem uma grande contradição envolvida. Se quiser, escreva um artigo defendendo seu ponto de vista e eu publico.
ESALQUEANO 2
5 de fevereiro de 2014
Também sou da ESALQ, e me deixa de verdade muito triste ver os comentários do meu colega “ESALQUEANO”, me parece que ele faz parte do “seleto” grupo hipócrita de estudantes que compactuam com essa prática desumana. Sou do segundo ano da ESALQ e vivenciei o circo recentemente…
Quando vc entra na ESALQ se sente um torrão de açúcar jogado num formigueiro, os moradores das repúblicas quase pulam em você no dia da matrícula, ai vc vai lah, e conhece a tal “mansão”, chega lah e tah tudo limpo, as calcinhas foram retiradas do ventilador, os posteres machistas idem, porém, bastam algumas semanas de “atividades normais” e vc começa a sacar qualé que é da parada, e ai, vc jah está todo “formatadinho”, sempre se apresenta de joelhos, não acha nada, não tem opiniões, faz todos os serviços e é submetido a n práticas que não vou listá-las aqui.
Depois de algum tempo, tomei a decisão de deixar o tal “esquema”, algum tempo depois descobri pela boca das pessoas que eu não tinha tomado uma decisão a partir do que sentia e vivenciara, mas sim que eu havia “ESPANADO”, que eu não havia aguentado o tal “esquema”, sendo assim, “perdi” um pacote de pessoas que me pareciam companheiras e dispostas a me ajudarem nessa nova etapa de minha vida, perdi aqueles a quem me referia como “amigo” naquele momento…
Felizmente consegui que a máscara caísse antes de piores decisões e hoje sou muito feliz com o novo círculo de pessoas que conheci.
blogdoamstalden
5 de fevereiro de 2014
Muito interessante, Esalqueano 2. E contradiz frontalmente as garantias do contrário dadas por alguns de seus colegas. E agora? Onde está a verdade.
Alexandre Traldi Reichel
5 de fevereiro de 2014
Olá, Fernando.
Primeiramente gostaria de dizer que gosto do seu blog, acho corajoso de sua parte escrever sobre assuntos tão polêmicos como você o faz. (Espero que não se incomode por chamá-lo por “você”).
Li esse seu texto e resolvi comentá-lo pois sou aluno da Universidade mencionada e resolvi dar a minha opinião.
Para começar gostaria de dizer que a matrícula na ESALQ é um grande exemplo de boa conduta a ser seguido por todas as outras universidades brasileiras. A próxima ocorrerá nos dias 12 e 13 deste mesmo mês de fevereiro e posso garantir-lhe que nela não ocorrerá nenhum tipo de violência ao calouro. Ao contrário do que acontece em outras universidades, tanto públicas como também particulares, na matrícula da minha Escola (Superior de Agicultura “Luiz de Queiroz”) não há sequer traços de tinta nos calouros e muito menos qualquer tipo de violência psicológica nem física.
Sou de uma república tradicional aqui de Piracicaba e me sinto muito orgulhoso em dizer isso. Nós, como em muitas outras repúblicas temos “rituais de passagem” como alguns preferem rotular.
Antes que alguém resolva desistir de ler isso aqui e diga que sou hipócrita etc, quero dizer que temos sim rituais de passagem, mas ao contrário do que muitos possam pensar, não temos jamais a intenção de humilhar alguém ou de submeter qualquer pessoa a alguma coisa que não deseje fazer.
Para começar a minha justificativa, eu não teria porque humilhar um calouro, que aqui chamamos de Bixo, sabendo que essa pessoa pode vir a morar comigo por mais alguns anos na república e conviver comigo na faculdade.
Ao contrário do que muitos pensam, as repúblicas são muito diferentes entre si, assim como cada indivíduo é diferente do outro. Falo aqui pela minha república e caso alguém se sinta ofendido ou discorde, por favor, manifeste-se. *Além dessa diferença, apesar de gostarmos de tradições, também gostamos de uma conversa mais descontraída e de opiniões diferentes, caso contrário não moraria em uma república em que cada pessoa pensa diferente da outra e foi criado em um canto diferente do país.
Quando os bixos, que sempre serão bixos do seu veterano (aqui Doutor) ficam de joelhos, a princípio, quando entram, isso é o pontapé inicial para um começo de conversa. O bixo não conhece ninguém e quando chega para se apresentar de joelhos, já fala logo o seu nome e demonstra um prazer de querer conhecer a pessoa mais velha. Pra você pode ser uma humilhação, para nós é sinal de força de vontade e também respeito por alguém que já passou por aquilo. Devo lembrar que só fica de joelhos quem quer ficar de joelhos, ninguém obriga ninguém a isso, pelo menos não os meus conhecidos. Isso é algo tradicional na ESALQ e exatamente pela falta de obrigatoriedade nesse gesto é que a humilhação fica de lado.
Sobre comer debaixo da mesa: os bixos que vem conhecer as repúblicas, poucas vezes chegam sozinhos. Geralmente chegam acompanhados de outros colegas (calouros que entraram juntos) e ficando debaixo da mesa, eles acabam conversando uns com os outros e se conhecendo pela primeira vez. (Tenho dois grandes amigos que conheci desta maneira). Lembrando que também entram debaixo da mesa apenas se quiserem, ninguém obriga ninguém e quem já passou por isso sabe que é verdade.
Você chegou a comentar que o Bixo deste ano vai dar o “troco” no ano seguinte, pode ser a sua visão, mas não é a minha. O Bixo que entra na ESALQ aprende a dar valor à Escola. Ele aprende não somente quem foi Luiz de Queiroz, mas também a sua história e porque gostaria de ter fundado uma Faculdade de Agricultura aqui. Além disso o Bixo aprende que não é melhor do que ninguém que entrou com ele, ele tem as mesmas oportunidades aqui dentro e ninguém vai se importar se ele é rico, se é pobre, se é preto, branco, vermelho ou amarelo. E quem vai ensinar isso a ele? Justamente o Bixo que entrou no ano anterior e que aprendeu estes valores com os mais velhos.
Veja bem, não estou dizendo que é algo perfeito e que não há pessoas por aí que cometam abusos. Estes devem ser punidos sim. Só digo que há algo aqui que é tradição e é muito bonito, mas que às vezes pode ser mal interpretado por quem enxerga isso apenas como “trote violento”.
O trote reprime, humilha. Essas tradições a que me refiro não humilham ninguém, ninguém é obrigado a ficar de joelhos na ESALQ.
Concordo com o que você disse sobre a integração no esporte, o esporte integra mesmo. Sou atleta desde criança, joguei tênis e depois pólo aquático. Representei a ESALQ em diversos jogos universitários e tive o prazer de conquistar medalhas pela minha Escola. Quando não participei competindo, participei ajudando na nossa querida Associação Atlética Acadêmica “Luiz de Queiroz”, incentivando a todos os atletas a continuarem e incentivando também quem não praticava a praticar alguma coisa. Torci muito pelas equipes, como instrumentista da Torcida Baixaria “Luiz de Queiroz” e me sinto muito feliz por ter feito parte de tudo isso.
Concordo também quando diz que “a esmagadora maioria dos que pagam indiretamente pela manutenção da sua universidade, nunca porá os pés ali e não terá a chance que você tem agora”. Acho apenas ridículo você querer colocar a culpa em alguém que está ingressando ou ingressou há pouco tempo na universidade pública por méritos próprios, sendo que não é ela a responsável por tudo o que o ocorreu em todo o nosso país desde o século XVI. Infelizmente o nosso sistema universitário público é sim extremamente elitista, mas pressionar o universitário e culpá-lo apenas por querer ser universitário é extremamente perigoso e grosseiro, além do mais, muitos batalharam muito para estar ali, seus pais também pagaram impostos e se os outros não estão ali é provavelmente porque o sistema educacional no Brasil é falho.
Para os acima que não tiveram o prazer de se identificar, como Amstalden o fez, não digo nada, eles não o merecem.
Ao autor, agradeço ao direito de resposta e estou aberto a qualquer continuação neste diálogo.
Enfatizo a coragem do autor em falar de assuntos polêmicos, assim é que chegamos a grandes debates e a grandes conquistas!
Alexandre Traldi Reichel – Narguilê
blogdoamstalden
5 de fevereiro de 2014
Boa noite Alexandre. Antes de mais nada, obrigado pelo elogio e pela sua participação e comentário. Mas não me julgo corajoso por escrever aqui, sabe? Apenas tento ser coerente. Sua descrição do trote ou ritual de passagem é muito lúcida e equilibrada. A melhor que li até agora e agradeço por você ter postado. Sobre a violência, bem, volto a dizer que, em primeiro, o volume de comentários aqui e no facebook demonstram que a ausência dela (e da exclusão e coação) não são unanimidades dentro da ESALQ, logo temos aí um fenômenos que, se não é de interpretação de fatos é de uma tensão sim, com centro no trote.
Você é pelo menos o quarto comentarista a garantir que não há violência, coação ou tintas.. Bom, o que posso dizer? Oxalá seja verdade. Eu conversei pessoalmente com muita gente (ao longo de muitos anos e agora também) que diz o contrário. Quem está com a razão? Tomara que seja você.
Quanto a seus comentários sobre eu ter sido “ridículo e grosseiro” fazendo comentários “perigosos”, eu discordo, mas se esta leitura, que seja. O que eu disse, e talvez não tenha ficado claro para você e outros, é que no Brasil há um comportamento elitista e agressivo generalizado. Esta avaliação é calcada em muitos autores, dos quais cito Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil. Ele e outros demonstram o caráter excludente, elitista e de apropriação do bem público pelo interesse privado. Eu entendo costumes do trote, como ajoelhar-se e outras, como uma reprodução destas práticas, inclusive pela hierarquização. A universidade brasileira também repete o mesmo comportamento, já que a sociedade funciona como um todo. Quando, no entanto, eu digo que vocês tem a responsabilidade e a oportunidade de ajudar a mudar isto, não estou culpando vocês, mas lembrando que, exatamente por estarem em uma instituição de excelência, podem criar um outro ambiente e uma outra cultura que rompa, a partir daí, com as distorções de exclusão do país. Não, vocês não vão salvar o mundo e nem o pais, mas vão iniciar um processo de mudança a partir de um local intelectualmente privilegiado. Mas, claro, se você diz que NÃO há violência, coação e exclusão, então vocês já estão fazendo diferente. Porém, pelos motivos que expus acima, não há um consenso, há?
Uma coisa curiosa é o fato de que fiz críticas aos trotes de TODAS as universidades, mas o assunto só causou polêmica entre os alunos da ESALQ. Sim, eu a citei diretamente, mas também falo das outras. A reação daí me parece, novamente, demonstrar que vocês tem um problema sim.
Agora, faço então uma pergunta. Se não existe coação, tinta, humilhação etc, por que tantos alunos da própria ESALQ dizem o contrário? E professores também? Na sua avaliação, o que motiva estes comentários e relatos deles? Se quiser escrever um artigo sobre isto, eu ficaria contente. Aliás, acho que seria mais produtivo do que vc. somente comentar longamente. Os comentários nem todos leem.
Aliás, já convidei o professor Oriowaldo Queda (você deve conhecer) para escrever um artigo aqui sobre isto. Você pode debater com ele também assim que ele escrever.
Mais uma vez agradeço seus comentários e seu elogio. Ressalto, novamente, que não considero a expressão de ideias um ato de coragem, a menos que se viva em uma ditadura, o que, penso eu, não é nosso caso.
Abraço.
Rubens
5 de fevereiro de 2014
Não consigo entender como uma pessoa pode julgar e até mesmo condenar algo que nunca vivenciou! Lastimável! Muito triste!
blogdoamstalden
5 de fevereiro de 2014
Rubens, você precisa vivenciar o racismo, o machismo, o nazismo e outros fenômenos deste tipo para julga-los e condená-los? Ou basta saber o que eles significam? Se eu errei na interpretação dos significados, então me corrija com argumentos.
Pepino, o breve !
6 de fevereiro de 2014
Distorção total, qual é a relação entre um ‘bixo’ e um ‘escravo’ ?
Não me lembro nunca ter visto um escravo bater no peito e dizer que ama ser ‘escravo’ e o faz por livre vontade, ou então um judeu gostar da ideia de ser perseguido por nazistas…
Como você disse que ‘basta saber o que eles significam’, assume-se que o senhor não possui conhecimento algum sobre o assunto para compará-lo a regimes que maltrataram diversas culturas, aliás, acho tal comparação uma falta de respeito com os povos anteriormente citados, visto que milhares de judeus e africanos foram extremamente explorados e massacrados e estão tendo sua história comparadas com exemplos escrotos que minimiza-os!
Desculpas seriam aceitas, mas todos que leram um trecho do seu blog puderam compreender a sua vontade de não assimilar os fatos bons e querer apenas expor cenas (que você diz não saber ao certo) que tendem a denegrir a história escrita por anos na Esalq.
Não posso falar do modo que você administra a sua casa ou sua família porque não o conheço, este é o sentimento recíproco em relação a sua matéria e a minha República !
HILÁRIO !
6 de fevereiro de 2014
Além de não ter conhecimento sobre os trotes,parece não conhecer o nazismo,a escravidão e ‘outros fenômenos deste tipo’ kkkkkkk
blogdoamstalden
6 de fevereiro de 2014
É, Hilario, talvez vc. e o Pepino conheçam melhor do que eu. Falta só prestar mais a atenção na leitura. Quer debater, em público, comigo os significados do racismo, machismo e nazismo? Talvez você pudesse me ensinar alguma coisa.
blogdoamstalden
6 de fevereiro de 2014
Curioso, Pepino, como vc. defende sua república sem que eu tenha sequer citado repúblicas. Isto me leva a uma questão: a república depende do trote para existir e ter laços solidários? Sobre escravos, quem usa a analogia, historicamente, não sou eu. Mas o fim dos trotes não é a “passeata da libertação dos bixos em primeiro de maio?”. Quando aos demais exemplos, penso o seguinte. Eu não aprecio relações de coação, hierarquização humilhante e outras afins. Estas são, também, atitudes comuns ao nazismo, ao racismo e ao machismo. Eu conheço “um pouco” a história e os mecanismos destes fenômenos para saber que existem substratos comuns à outras formas de violência, mas você parece achar que conhece mais do que eu… Enfim, sua leitura é a que vc. quer ter. Eu respondi que v.c não precisa ter vivenciado na pele coisas para achá-las ruins. Eu acho os trotes, NÃO SOMENTE OS DA ESLAQ, já estou cheio de dizer, ruins e posso, sim criticá-los. Ah, aliás eu falei “racismo”, não escravatura. Vc. leu errado.
No fundo, a reação dos pró trotes é, com exceções aqui elogiadas, histérica. Parece que vocês estão na defensiva, caso contrário não perderiam tempo discutindo.
Alguns de seus colegas argumentaram bem melhor e, neste caso, os melhores argumentos deles foram: a) o trote não é obrigatório, b) quem não participa não sofre discriminação; c) não há violência física, psicológica e nem humilhação, nem mesmo tinta… então, se é tudo isto, está ótimo. Mas porque tanta preocupação se não é?
Guido Brunelli - Pauer
6 de fevereiro de 2014
Olá Amstalden,
Vim a esse blog pela recomendação do Alexandre (Narguilê). Sou ex-morador da mesma República dele e, mais interessante, ele é meu bixo e, sem dúvidas, um de meus melhores amigos (um irmão, pode se dizer).
O Alexandre é uma pessoa inteligente e muito crítica. O ponto de vista ele representa o de muitas pessoas mais esclarescidas da ESALQ. Sendo assim, não vou me preocupar em reescrever aquilo que já foi dito e peço licença para pegar suas palavras emprestadas e acrescentar algumas ideias pontuais:
1- A cultura trotista não se limita somente ao primeiro ano do aluno da ESALQ. Ela se perpetua e, assim como qualquer ideia diferente daquilo que o indivíduo conviveu até aquele momento, se amadurece com o tempo. Normalmente os artigos a respeito do trote mostram somente o lado do bixo, passando pelos rituais de ingresso e se omitem na hora de analisar as pessoas que passaram por isso e seus laços de amizade e desenvolvimento humano e profissional em fase mais avançada da vida. Digo isso por ter vivido em uma República de 1971 onde os laços entre os ex-moradores (desde os fundadores) e os moradores são muito fortes, como uma família.
2- A segregação, como mencionada, entre aqueles que optam pela cultura trotista e os que não decorre, não por preconceito, mas pela convivência mais próxima com alunos que escolheram o mesmo caminho. Veja bem, durante o primeiro ano (mais especificamente durante o primeiro semestre), os bixos têm suas agendas 100% preenchidas. Além das aulas, há atividades esportivas, eventos de repúblicas e, dentre outras, um sistema criado pelas Repúblicas de incentivo aos bixos a encontrarem a moradia a qual mais se identificam: o Estágio. Aqui os bixos tem a liberdade de passarem um tempo na República que desejarem, sem despesa alguma (desde moradia até de lazer), de forma a não criar compromissos e que possam realmente realizar um rodízio entre as mesmas. O que isso tem a ver? Bom, como todos sabem, existem repúblicas trotistas e não-trotistas. Os bixos que optam pelas repúblicas trotistas vão procurar fazer estágio nas que se encaixam aqui, e os que não, vão procurar nas demais. Como resultado temos dois ambientes distintos onde circulam dezenas de ingressantes. Obviamente os laços entre aqueles que compartilham o mesmo serão mais fortes do que com alguém que escolheu o outro caminho devido à convivência. Isso ocorre no primeiro semestre do aluno na ESALQ, fase onde irá fazer mais amizades e criar seu círculo social.
Não vou dizer que não existam pessoas de cabeças pequenas que praticam a discriminação. Estamos em 2014 e isto infelizmente existe em qualquer lugar do planeta. No entanto, a “segregação” é mais consequência do que causa. E também não vou dizer que são grupos isolados, pois eu mesmo sempre tive muitos amigos que não participaram do trote (inclusive um primo distante) e que nunca tive problema algum com eles. Basta não ser estúpido e radical. Não temos espaço para mais gente assim na sociedade atual.
3- Somente uma dica: procure também professores/profissionais que passaram pelo ambiente trotista e que possuem uma visão diferente daquela do prof. Antônio Almeida e Oriowaldo Queda para opinarem. Sei que a exposição é mais difícil para eles devido ao preconceito existente e, por muitas vezes, participarem de instituições com posicionamento contrário ao trote.
Obrigado pelo espaço e gostaria de dizer que aprecio muito o autor que se dispõe a discutir as opiniões sobre suas publicações.
blogdoamstalden
6 de fevereiro de 2014
Perfeito Guido. Esta é uma resposta reflexiva ao meu artigo. Fico feliz em recebê-la. Você abordou uma fraternidade que surge do trote. Gostei. Não vou retornar, também, a meus argumentos, só ressalto que vocês tem sim, um fenômeno em curso, e ao que parece, é maior do que o trote em si, é uma tensão interna. Enfim, este já seria outro assunto. Mas digo a você o mesmo que disse ao Narguilé: melhor seria escrever um artigo e postar como principal. A maioria das pessoas não tem paciência para ler os comentários e assim a sua resposta, assim como a dele, que merecem ser lidas, fica menos “visível”. Escrevam, pode ser a muitas mãos. Eu publico. Quanto aos professores, eu conheço vários lá, inclusive alguns em cargos de chefia. Mas nenhum deles falou favoravelmente ou mesmo falou sobre o tema. Isto demonstra, mais uma vez, a delicadeza da situação. Não vou nomeá-los aqui já que eles não se nomearam. Peço, então, uma sugestão. Vc. conhece, dentre professores e funcionários, alguém que falaria a favor ou faria uma análise alternativa? Eu gostaria de ouvi-los.
Grande abraço e espero contar com sua participação em outros posts ou mesmo como autor.
HILÁRIO !
6 de fevereiro de 2014
‘ por enquanto é o seguinte
Se não chegou até você é porque não é pra você ser ouvinte’ -EMICIDA
Alexandre Traldi Reichel
6 de fevereiro de 2014
Não comentaram sobre isso porque são muito pressionados pela USP a serem totalmente contra o trote. Mas na ESALQ o trote não é trote, se é que me entende. Depois eu respondo novamente. Aceito o convite de escrever algo a ser publicado. Obrigado!
blogdoamstalden
6 de fevereiro de 2014
Ótimo, Alexandre. Estou aguardando. Quando tiver o texto, mande uma mensagem pelo facebook e eu envio meu email a vc.
Carla Betta
6 de fevereiro de 2014
O trote é TÃO grotesco! Para fortalecer laços de amizade precisa desta grosseria tão primitiva? Ou a convivência em anos de curso, em aulas, em estudos, em debates, em discussões não pode ser o suficiente?! Alunos de repúblicas estão sem seus familiares e esta condição não basta para se solidarizarem fraternalmente?! O “meu” trote foi assim: brincadeiras, palestras, uma “caça ao tesouro” para que conhecêssemos as dependências da faculdade e arrecadação de roupas a serem doadas. Graças a DEUS!
Esalqueana
7 de fevereiro de 2014
Sou ex-aluna da ESALQ, não cheguei a morar em nenhuma republica tradicional pelos trotes ou brincadeiras acadêmicas como chamam, ao contrário montei com minhas amigas que considero irmãs nossa própria casa que também chamávamos de república, durou o tempo da nossa graduação… Mas como tudo não devemos ser extremistas, há coisas muito boas, porque vejo que a ESALQ prepara para a vida! Sem dúvidas apesar dos exageros, há uma dedicação muito grande em conhecer e socializar os bichos, o trote psicológico, as pegadinhas, somente quem viveu na gloriosa pode saber do que estou falando. Um exemplo disso, foi quando morei no pará por uma temporada, minha comida vinha estragada algumas vezes pela distancia no campo, usei um banheiro de beira de estrada que no lugar do papel higiênico era um sabugo de milho, tomei água de igarapé… desde meus primeiros anos de formada até hoje, minha equipe foi predominantemente masculina (já coordenei uma frente de trabalho com mais 350 homens e 3 mulheres), hoje trabalho num projeto e viajo o Brasil inteiro. Ou seja, lido desde o peão de campo até o presidente da empresa, e a ESALQ nos dá esse diferencial de sabermos que não somos melhor que ninguém, que se for preciso pegar na enxada, faremos, se for preciso trabalhar no sol quente como foi essa semana em Porto Alegre, estaremos transpirando, mas firmes! O problema é que sua teoria contempla um cenário que poderá existir sim, mas no futuro, seria o mundo ideal! Mas onde sou útil está muito longe das quatro paredes da minha casa, do mundo que eu controlo. Basta saber um pouco de história para lembrar de onde viemos, de umas das culturas mais atrasadas da europa! E a propósito, como ficou irritado quando desmereceram seu blog, também não deveria colocar o vídeo intitulado babaca da ESALQ!
blogdoamstalden
7 de fevereiro de 2014
Muito obrigado pelo seu comentário, Esalqueana. Não deixa de ser uma visão nova: o trote como um treino de resistência. Ok, é uma forma de ver. Só que tem uma coisa que parece que muitos não viram. Ocorre que eu não estou desmerecendo a ESALQ e sim os trotes, aliás, de todas as universidades. Não acho que seja a única forma de socialização e mesmo de “treinamento”, como você se refere. Sinceramente, acho que vocês estão muito na defensiva,sabe? Seria melhor, também, se vc. tiver tempo, ler outros comentários, inclusive aquele que respondo sobre o chicote. Não coloquei pelo título, coloquei pelo fato de eu conhecer o chicote como arma (já comentei acima) e não acho que armas devam ser usadas em meio a outras pessoas, muito menos bebendo. Vc. acha isto boa mistura? Já ministrei treinamentos com armas, inclusive para policiais, e a regra número um é não brincar e nem misturar álcool com elas.
Mas, no fundo o que fica é o seguinte: existe violência física e moral nos trotes? Alguns de seus colegas negam, outros admitem e, indiretamente, como você, dizem ser um “preparo”. Ok, daí vem a segunda pergunta: os bixos são obrigados a participar? Nova polêmica, alguns de seus colegas dizem que não, outros dizem que sim. Se não são, então, depois, existe discriminação aos que não participaram? De novo, parte diz sim e parte diz não. Ao final, tudo se resume ao seguinte. Se vocês querem fazer a “brincadeira” e outros querem participar, tudo bem, o fundamental é respeitar que NÃO quer e NÃO discriminá-los, concorda?
E, não, não fiquei irritado por ter o blog sido desmerecido. Este blog, aliás, é desmerecido por vereadores, deputados e membros do executivo (um dia, quem sabe, você possa ler posts antigos e verá) e isso nunca me irritou. Ao contrário, sinaliza que estou no caminho certo levando o incômodo do questionamento e da dúvida ao que está razoavelmente “acomodado”. Esta é minha intenção, sabe?
Quer saber o que me irrita? Comentários feitos sem que os textos tenham sido lidos ou lidos corretamente. Irrita a agressividade de quem se fecha e quer ganhar um debate no “grito”. Quem faz isto, já perdeu o debate.
O seu comentário, felizmente, não é destes tolos (que aliás, eu não deletei, como você pode ver). E é por isto que eu sinceramente agradeço.
blogdoamstalden
8 de fevereiro de 2014
Olhem só o que recebi por email… Parece que não sou o único a achar que o caráter público da ESALQ não combina com os trotes.
Trote – carta à comunidade esalqueana
Congregação da ESALQ
03 de maio de 2007
Informe nº 179/07
Prezado(a) Professor(a):
Tendo em vista as constantes manifestações relacionadas ao TROTE encaminhadas à Direção da Escola, a douta Congregação da ESALQ, em reunião de 26/04/2007, deliberou pelo encaminhamento a toda a Comunidade Esalqueana da presente manifestação contendo orientações e informações relacionadas ao assunto.
Presente no cotidiano de nossa Unidade a prática de trote entre os alunos é um elemento de grande preocupação da Congregação e não corresponde a uma postura adequada de membros de uma Universidade Pública, que possuem suas atividades custeadas através de impostos pagos por toda a sociedade. O trote não corresponde a nenhum tipo de valorização de nossa Instituição, pois, além de problemas acadêmicos e de relacionamento entre os membros da Comunidade Esalqueana, projeta para a sociedade uma imagem extremamente negativa.
Destaca-se que, de acordo com a Portaria GR no. 3154, de 27/04/1999 – Artigo 1º. – “fica PROIBIDO O TROTE na Universidade de São Paulo” e “toda e qualquer manifestação de recepção a novos alunos, em todas as Unidades e em todos os campi, deverá estar integrada à Semana de Recepção aos Calouros”. O Artigo 2º. desta mesma Portaria define que “não será tolerado qualquer tipo de manifestação estudantil que cause, a quem quer que seja, agressão física, moral ou outras formas de constrangimento, dentro ou fora do âmbito da Universidade”, e o seu parágrafo Único define que “a prática de tais atos será considerada falta grave, importando na aplicação das penalidades de expulsão ou suspensão previstas no regime disciplinar da Universidade, após processo administrativo, assegurados o contraditório e a ampla defesa”.
O docente deve exercer sua autoridade em sala de aula, sendo também de sua responsabilidade os procedimentos a serem adotados para o bom andamento dos trabalhos acadêmicos. Desta forma, o Professor não deve permitir o acesso às aulas e demais atividades acadêmicas de alunos fantasiados, com pinturas, cabelos cortados de forma extravagante, chapéus e/ou carregando objetos não condizentes com tais atividades. Da mesma forma, alunos aparentemente sob efeito de álcool devem ser impedidos de participar de tais atividades e a Diretoria deverá ser notificada. No caso de aulas, o aluno deverá ter sua falta registrada em boletim de freqüência. Se o aluno insistir em participar da aula, o Professor deverá suspender a aula, considerar a matéria como lecionada e enviar comunicação ao Diretor. Caberá às Chefias dos Departamentos verificar o cumprimento destas orientações.
A mesma postura deverá ser adotada para as demais atividades desenvolvidas no Campus, ou seja, não permitir acesso de alunos vestidos de forma imprópria a serviços como bibliotecas, laboratórios, Centro de Informática, praça de esportes, atendimento médico-odontológico (exceto em casos emergenciais), serviço de graduação e de apoio assistenciais e administrativos.
Destaca-se, também, que estão sujeitos a processo administrativo e suas penalidades quaisquer alunos que participem de atividades relacionadas ao TROTE, dentro e fora do Campus, ingressante ou veterano. Também estão sujeitos a tais processos, professores e servidores não-docentes que estimulem ou participem de qualquer prática trotista.
A Congregação decidiu, também, por registrar o NÃO APOIO à “passeata do bixo”, bem como informar sobre esta decisão às autoridades policiais do Município. Também os casos de denúncia de trotes e tumultos em “repúblicas” deverão ser levados ao conhecimento das autoridades policiais pela população.
Esalqueana
8 de fevereiro de 2014
Sou contra a violência física, assim como obrigar alguém a ingerir bebida alcoólica. Resumindo, sou contra os excessos de ambos os lados, da proibição ao descontrole. Durante a graduação nunca bebi por obrigação, acabei inventando uma desculpa qualquer. Um conselho que digo para a bichada, sejam vocês e não tenham medo de descobrir com seus olhos e pernas o seu caminho! Cada vez as pessoas mais violentas e exageradas estão sendo uma voz isolada, a bichada tem vindo muito mais informada e consciente sobre o assunto. Acredito que este blog e outros canais sejam uma forma de elucidar o fato e promover a discussão, fiz parte do centro acadêmico e sei como essa chuva de idéias é importante! Mas essa aversão ao trote, me faz lembrar quando entrei na faculdade, não podia nem ouvir o nome republica. No final, o que constatei foram que estas “brincadeiras (não todas, claro)” são muito mais saudáveis do que quem proclama a paz e o amor e passa a semana inteira “noiado (a)”, totalmente apático dos acontecimentos e ferozmente contra todo o sistema. E não são poucos! Tem muita coisa boa no trote, quando digo trote não falo dos excessos, como diz um velho ditado, não vão jogar fora a água da banheira com o bebê dentro!! Temos essa mania, de achar que nosso modelo mental é a resposta para a humanidade, foi assim quando derrubaram a monarquia no Brasil e expulsaram Dom Pedro II, quando deram o golpe militar e enxotaram Jucelino e será assim até quando? Nos esquecemos que a verdadeira mudança não ocorre com uma carta de proibição, uma lei, outorgam uma constituição nova ou chamam a polícia . Ela acontece quando mudamos o interior das pessoas, como a exemplo dos grandes nomes da história.. Jesus, Mahatman Gandhi, Bashô, Martin Luther King…
blogdoamstalden
9 de fevereiro de 2014
Gostei Esalqueana. Estou aguardando dois colegas seus escreverem um texto sobre isto, os aspectos positivos do trote. Quando escreverem, vou publicar.
andregorga
8 de fevereiro de 2014
Todo trote é uma forma de coerção, queiram ou não. Alguns esalqueanos aqui se manifestaram a favor do trote e disseram que as pessoas que não passaram pela escola não podem saber o que acontece por lá ou nas repúblicas. Podem sim… Não estudei na Esalq, mas nasci e resido em Piracicaba há anos e tenho vários amigos aqui da cidade que estudaram lá na década de 80 e, apesar de não terem morado em república (pois já residiam na cidade), muitos frequentavam as repúblicas e me narravam os trotes a que eles ou outros calouros eram submetidos. Alguns trotes eram engraçados, outros um pouco mais humilhantes ou apelativos e alguns violentos. Acredito que os trotes, atualmente, deixaram de ser violentos mas não perderam sua característica apelativa, humilhante, coerciva. Acho que estudantes que possuem capacidade intelectual para ingressar na mais concorrida faculdade de agronomia do país deveriam ter um mínimo de criatividade para desenvolver outros processos de integração dos calouros diferente do trote humilhante, coercivo e/ou violento.