No dia do evento “Abraço no Rio Piracicaba” recebi a visita do amigo de profissão e de debates políticos Sérgio Contente, que em determinado momento me mostrou a seguinte indagação:
“POR QUE ??o número de LATROCÍNIOS BATEU RECORDE dos últimos 10 ANOS.
se:
– Nunca a população civil esteve tão desarmada.
– Nunca na história deste país se fez tanto pelo social
– Nunca a educação publica esteve tão boa como agora, embora precise muito melhorar
– Nunca tivemos tantos programas governamentais de inclusão social
– Nunca se deu tantas bolsas de auxilio.
– Nunca tivemos tantas ofertas de empregos..
– Nunca se ofereceu tantas vagas nas escolas, cursos técnicos e bolsas em faculdades.
– Nunca tivemos tantos programas assistencialistas, desde auxilio para compra da casa própria, passando por remédios gratuitos, como até tratamento para sair das drogas.
– Nunca tivemos tantos cursos de qualificação profissional, onde o aluno ganha até para estudar.
– Nunca se respeitou tanto os direitos humanos, que até pai não pode dar palmada nos filhos
– Nunca tantos sairam de pobreza para ingressar na classe média.
O que está acontecendo, Se a causa é a desigualdade social e nunca se fez tanto pela causa então o que está acontecendo ? Por que estão aumentando os latrocínios?”
Apesar de concordar com a maioria das razões apresentadas, não entrarei no mérito de nenhuma delas. Apenas considerando-as como verdadeiras tentaremos debater sobre as perguntas feitas no final, que também é um fato que não podemos ignorar.
Antes disso quero dizer que sou entusiasta dos programas sociais e os apoio com todo vigor, pois a função do Estado é regular as relações entre seus cidadãos e uma das obrigações principais delas é deixar que a tendência natural ao pensamento EGOcêntrico seja atenuada, o que infelizmente até pouquíssimo tempo atrás nunca fôra pensado.
O governo de FHC começou timidamente a dar os primeiros passos contra essa lógica perversa de concentração de renda que sempre houve no país e depois, Lula e Dilma aceleraram drasticamente o processo, porém ainda insuficiente se compararmos com países estrangeiros com indicadores sociais excelentes.
Mas e aí? Tudo isso e os latrocínios aumentando e a população com cada vez mais medo. O estado de insegurança é público e notório que os grupos de extrema direita já estão começando com a estória de bandido bom é bandido morto trazendo o pânico para a classe média.
Quem me conhece sabe que eu procuro uma solução lógica e baseada ao máximo na racionalidade de informações, de elementos para poder gerar uma hipótese ou trazer algum tema para o debate. Confesso que essa colocação me fez imaginar algumas coisas que possam tentar explicar o fenômeno supracitado, vamos a elas.
– A cultura extrema do TER sobrepujar o SER: Tenho acompanhado apreensivamente desde uns 10 anos pra cá que a importância de sermos educados, cortêz, solícitos, piedosos entre muitas outras coisas consideradas qualidades está caindo. A importância de se TER vem tomando proporções assustadoras, talvez até alavancadas pelas novas oportunidades abertas pelos governos social-democrata sem que houvesse uma ênfase no ensino de algumas matérias humanas como a finada OSPB ou sociologia, levando as novas gerações a conclusão de que estar no mundo é poder consumir mais … e mais … mais …
Não basta ter o que comer .. tem que ter o lazer … não basta ter o lazer … tem que ter o carro … não basta ter o carro … tem que ser melhor que o do vizinho … e assim por diante. Melhorou-se as condições básicas porém não se educou o povo.
Obviamente essas pessoas não conseguem sempre estar a vanguarda do vizinho e acabam procurando por soluções mais fáceis, já que o que importa é o TER e não o SER.
– A cultura do “Homo Videns”: A muito tempo, quando li essa obra do autor italiano Giovanni Sartori, indicada pelo meu dileto amigo Claudinei Monteiro, logo comecei a notar esse padrão de comportamento nas pessoas ao qual eu nunca havia reparado: Elas não são mais o que pensam e sim o que veem. A grande massa da nossa sociedade não mais produz pensamentos diversos e sim reproduz pensamentos que eles olham.
E pra onde eles olham? Há décadas olham para a TV e agora a superexposição chega mais forte pela Internet, onde grupos que exaltam o direito de TER sem a conscientização de SER se espalharam e de forma sem controle. A mídia diz: TENHA e não importa a que custo e o cidadão não se sente nem mais constrangido em roubar, matar ou ferir o irmão para obedecer o que ele viu.
– O desarmamento e a certeza de não encontrar reação: Assim o homo videns tão obstinado em TER e não se importando com o SER, vai procurar por meios fáceis um jeito de levar vantagem sobre os demais, e sabendo que é muito tranquilo encontrar um cidadão que tem certeza estar desarmado, vai pra cima dele.
Oras, prometi que não iria entrar no mérito de cada questão, mas no caso do desarmamento da população civil na minha humilde visão eu enxergo uma causa da violência e não como um fator de não-violência pois traz a certeza do “roubo fácil”. Quanto mais fácil, mais adeptos a prática traz e ladrões cada vez menos experientes, com medo e empoderados que, ao menor sinal de perigo pra ele mata a vítima.
– Falta de credibilidade nas instituições: As instituições no Brasil nunca passaram por tantas dificuldades de credibilidade. Os três poderes, nas três esferas carecem de legitimidade. Isso ocorre porque a cultura que eles tem lá em cima acaba incentivando os de baixo a serem como eles e também pelo ataque seleto da parte da grande mídia faz aos governantes, colocando-os todos no mesmo balaio de sujeira.
Nesse último caso, recomendo uma boa dose de estudos para acabar com chavões do “tudo igual” que só interessa ao político ruim. Assim como taxar determinada casta da sociedade como “coisa ruim”.
Por fim, deixo aberto ao debate sobre essa questão que vem povoando o imaginário do cidadão trabalhador, de classe média e que muitas vezes inconscientemente trouxe essa cultura nefasta pra grande massa e agora é refém da própria criação.
Edu Pedrasse
20 de fevereiro de 2014
Me ajude a entender direito.
Você está sugerindo que se população estivesse armada o número de latrocínios iria diminuir?
Eduardo Stella
20 de fevereiro de 2014
Olá Xará, tudo bem?
Estou sugerindo que a certeza do não enfrentamento com poder de fogo igual encoraja ações desse tipo. Mas não há correlação direta entre armamento da população e o latrocínio, mas o fato de não encontrar resistência anima bastante os meliantes.
Se não corrigirmos as causas, sofreremos os efeitos. O fato do TER ter se tornado mais importante que o SER e a falta de pensamento coletivista é uma das causas que penso eu são mais fortes.
A falta do pensamento coletivista é o que torna as instituições desacreditadas, levadas pelos néscios e interessados apenas no bem próprio.
Edu Pedrasse
20 de fevereiro de 2014
Hum…entendi…
Giovani Gandelim
21 de fevereiro de 2014
Edu, nessa sua mesma linha de raciocínio do desarmamento, eu acho que cabe a redução da maioridade penal, não é que prender os ladrões com 16 ou 17 anos vai resolver, o que é ruim é o fato desses muleques terem a certeza da impunidade, ou você acha que um cara de 16 ou 17 anos com uma arma na mão não sabe o que está fazendo ? A lanchonete aqui ao lado da loja foi assaltada por 2 caras, pegaram os 2, um de maior que estava de condicional havia 5 dias e um menor com 8 passagens por roubo.
Um abraço.
Giovani
Eduardo Stella
21 de fevereiro de 2014
Gilão,
Eu tenderia a pensar dessa forma se não tivesse observado e analisado outros indicadores sociais em confronto direto com o de outros países. A maioridade penal é uma delas, os EU é um país bem violento e lá a maioridade oscila entre 15 e 17 anos. Os países de mais baixo índice de criminalidade são os que a maioridade são altas e também as armas (exceto EU) são bem livres. Não consigo achar lógica que consiga amarrar essas informações de forma coerente.
Veja essa tabela sobre a maioridade penal, ficará surpreso em saber que a China é aos 25 anos, Japão e Finlândia 20 anos, Suécia, Alemanha e Noruega até 21 anos. Por outro lado figura a Jamaica com idade de 14 anos seguida de Macedônia e Namíbia com 16. Países violentos!
http://lh6.ggpht.com/-VK3DRmSAfPI/UYN7VlrQagI/AAAAAAAAKfU/3RBD5k7c2Zo/Maioridade%252520penal_thumb%25255B3%25255D.jpg?imgmax=800
E tem outro detalhe: Ficar preso como “de menor” não é exatamente um prazer … há punições severas pra esses menores.
Eu também pensava nisso, mas hoje minha cabeça mudou muito em relação a essas políticas pois comecei a participar ativamente e tudo é mais complicado que imaginamos. Não há um estalo e pumba! Resolveu tudo!
Ainda não formei uma conclusão de ONDE exatamente mexer pra resolver o problema, talvez nunca consiga formar, por isso o debate de forma honesta e respeitosa se torna URGENTEMENTE necessário.
Debater o POVO sobre políticas PÚBLICAS.
Anônimo
21 de fevereiro de 2014
Eu acho que esta “certeza de impunidade” não tem relação tão relevante assim com a criminalidade. Pode até ter alguma influência, mas ínfima. Quem comete delitos não o faz medindo as consequências, não podemos medir isso baseado em nós, no que pensamos, como agimos.
Eduardo Stella
21 de fevereiro de 2014
Concordo com essa visão. Exceto o fato da ocasião faz o ladrão, que pode ter uma certa influência pouco mais robusta.
victor808
21 de fevereiro de 2014
Bem, eu não acho tão surpreendente assim esses dados mesmo que em frente às melhoras sociais alcançadas nesse últimos 10, 12 anos. Isso porque, por mais que a criminalidade esteja estreitamente conectada a baixos índices socioeconômicos, assim como o uso de psicoativos o estão, que não deixam de tornar mais frequentes os delitos, as políticas de segurança pública e de inclusão social devem, para se efetivarem ao máximo, ser concebidas e aplicadas pelos governos locais (estaduais e municipais) – e o motivo é simples, pois, além de cada região do país possuir sua própria peculiaridade social, muito mais facilmente se aplica qualquer medida política quando ela se apresenta moldada à(s) esfera(s) a que visa remediar, em contraposição aos esforços federais, incapazes por natureza de se aprofundarem nas mazelas cada qual muito própria de um estado ou município.
E é precisamente isso, uma revolução nos programas de inclusão social por parte de governos locais, que míngua em nosso país. Será que basta toda a assistência socioeconômica do governo federal, quando o estado de São Paulo, por exemplo, assim como o Rio de Janeiro, continua a perpetuar suas estruturas segregatórias em praticamente, senão em todas, as esferas da vida social (a universidade, a polícia, o ensino básico, a cultura, enfim…)? Creio que uma das piores heranças de nosso passado colonial seja exatamente a ausência de uma preocupação mais ativa e questionadora dos governos locais, que parecem ter suas responsabilidades e deveres atribuídos majoritariamente à Presidência da República, ainda que em dissonância com a Constituição. Assim, cada região do país parece na realidade ainda pertencer ao Brasil do século XX, porque de fato assim foram deixadas.
Eduardo Stella
21 de fevereiro de 2014
Amigo Victor.
Sim, estou esperando passar um pouco mais de tempo pra vermos algum resultado do trabalho local da prefeitura de SP na Cracolândia. Os números ainda não saíram, mas acho que o resultado pode estar favorável no trabalho PESSOAL que o prefeito está fazendo por lá.
Ano passado esse debate sobre “mendigos” suscitou em nossa Câmara de Vereadores. Mas o vereador governista então tratou-os como caso de polícia, como “dejetos sociais”. Coisa que desde que o Brasil é Brasil sistematicamente estamos fazendo.
O resultado está aí … país gigante, com GINI ainda muito alto e com uma violência superior as de zonas de guerra.