Seção Estante. Um livro romântico

Posted on 8 de março de 2014 por

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Eu-receberia

Hoje, dia da mulher, eu pretendia resenhar um livro mais sério, que falasse da situação feminina. Pensei em “O Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir, um  clássico estudo sobre a condição feminina. Pensei também em “A Boa Terra” de Pearl Buck, uma obra  maravilhosa,  ambientada na China e que descreve uma família camponesa que ascende, mas cuja condição de O-Lan, a mãe, não se altera na sociedade machista. Os dois são, de fato, muito bons, já os cite por aqui e ainda vou escrever sobre eles. Mas, hoje acabei optando por outro livro, de um gênero sobre qual raramente  escrevo. Um livro de amor, um romance, que celebra o amor.

Este é o tema de “Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios”, de Marçal Aquino. Em uma cidade no interior do Pará, Cauby, um fotógrafo convalescente, vive na pensão da Dona Jane. Em suas conversas com Altino, um bancário aposentado, vai relatando e relembrando sua história  e o seu caso de amor com Lavínia, ex garota de programa retirada das drogas e da prostituição por um pastor evangélico que se casou com ela. Entremeada com a história de Cauby, Altino também conta a sua vida e seu amor inalcançável por Marinês. As duas histórias, com foco na primeira, se entrelaçam e se misturam ao dia a dia da vida em uma cidade no interior do Pará, em meio à floresta e aos tipos humanos do norte do país. Eu achei genial e particularmente tocante. O livro fala dos amores desesperançados que desafiam a lógica pragmática dos “amores possíveis” e quotidianos. Fala do amor de entrega, independente da lógica, do comodismo e da razão. Claro, são amores “difíceis” e “sofridos”. Alguém poderia dizer, inclusive, que são amores “neuróticos”. Pode ser. Mas no fundo, qual amor não é um tanto neurótico? Se fossemos guiados somente pela lógica e pelo pragmatismo, estaríamos amando mesmo ou somente fazendo um “calculo” de custo & benefício? Sou franco, eu não sei. O que sei é que amar nunca é fácil, nunca é simples e é aí que está a magia. No livro, os personagens sofrem por amar, mas vivem também por amar, são plenamente humanos pelo mesmo motivo. A obra foi filmada, mas eu gostei tanto do texto que não quis assistir ao filme. Jamais vi um filme tão bom quanto o livro que o inspira. Pode até ser diferente e bom, mas nunca tão bom. Enfim, se quiser, veja o filme e leia o livro, assim você tira suas próprias conclusões. O livro, pelo menos, eu recomendo.

Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios. Marçal Aquino. Cia das Letras. 2005

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