Para ser honesto, devo dizer que não aprecio futebol. Pior um pouco, não “acredito” em futebol… Com tanto dinheiro e tantos negócios envolvidos, tenho dificuldades de acreditar que os jogos são todos “limpos”, que ganha sempre o melhor time e que não existem interferências de empresas, emissoras de TV e de outros poderosos nos resultados de campeonatos. Da mesma forma, não idolatro e nunca idolatrei jogadores. São, a meu ver, no máximo bons atletas, mas suas habilidades no campo nada têm a ver com patriotismo, causas ou mesmo caráter. Tem a ver com o gerenciamento de suas carreiras, com o dinheiro e a fama que podem obter. E estes resultados, por sua vez, também são, as vezes, construídos. Nem sempre um jogador rico e famoso é necessariamente o melhor, mas aquele “escolhido” e “orientado” pelos grandes negócios. E mesmo que seja o melhor, isto tampouco lhe garante o caráter. E isto, o caráter de uma pessoa é que é um motivo para que eu o aprecie.
Porém, apesar de minha desconfiança e de minha postura de desencanto, no futebol, assim como em todas as faces da vida, ocorrem momentos de pura magia. Esta magia, por sua vez, pode estar em uma jogada, mas para mim, geralmente ela está em outros fatos, naqueles que envolvem as pessoas e suas atitudes.
Um destes momentos de magia ocorreu esta semana, no jogo entre Brasil e África do Sul. Durante a partida, uma criança de sete anos “invadiu” o gramado e tentou se aproximar do time brasileiro. Os seguranças intervieram e seguraram o garoto, mas o jogador Neymar o tomou nos braços e levou até os outros jogadores brasileiros, que brincaram com o garoto e o “jogaram no ar”, além de tirar fotos com o menino.
Foi sim, mágico e emocionante. Naquele momento, Neymar e a seleção brasileira tiveram meu respeito e admiração. Ao tratarem a criança com tanto carinho, deixaram para ela e para o mundo uma imagem de beleza e sentimento humano, de respeito para com a infância e os sonhos infantis. Não sei quem é o garoto e como ele vai relembrar este fato em sua vida. Mas se fosse eu, lembraria eternamente do dia em que ao invés de viver a “expulsão” pelos seguranças, vivi o carinho e o afeto dos jogadores. E é isto, é esta a verdadeira necessidade humana, sermos aceitos e queridos, como Ayo (este é o nome do menino) foi. Tomara que ele se lembre sempre e, da forma que puder, passe a frente esta experiência, dando carinho e acolhimento a outros que encontrar em sua vida. E tomara que todos os que assistiram e assistem agora a cena, também o façam, repetindo em outras ocasiões e de outras maneiras, o gesto de Neymar e dos jogadores.
Não “acredito” em futebol, mas “acredito” no acolhimento e no afeto. Ayo “acredita” em futebol, tomara que cresça também acreditando em acolhimento e bondade.
Quanto a mim, no que me concerne, a seleção e Neymar se sagraram campeões naquele jogo.
Bom Domingo.
Amstalden
Anônimo
9 de março de 2014
Não acredito na cordialidade brasileira, característica esta tão propalada e atribuída ao nosso povo por Sérgio Buarque de Holanda, porém eventualmente chego a desconfiar de minha própria descrença. São em momentos mágicos, como esse destacado com muita propriedade pelo Luiz Fernando, quando pelas mãos de Neymar um garoto é recebido festivamente por todo o time do Brasil, que penso ter a cultura brasileira preservado um humanismo gratuito, diferenciado de outros povos. Gostei muito do artigo do Amstalden. Aliás, não é a primeira vez que o Luiz revela suas emoções diante de espetáculos esportivos. Lembro-me muito bem de seus emocionados comentários a respeito da final das Olimpíadas de Moscou, quando, numa fascinante criação por meio de placas, o ursinho Micha derrama uma lágrima. O comentário do Luiz Fernando foi: – Telles, o que é humano é sempre mais belo do que recursos tecnológicos. O ursinho de Moscou, assim como o garoto da África do Sul, faz com que acreditemos que ainda há esperança para o ser humano.
blogdoamstalden
9 de março de 2014
Telles, meu amigo, fiquei muito emocionado com seu comentário e com sua lembrança de minha fala. Lembro também deste dia. Falávamos das aberturas de olimpíadas diferentes e eu citei a de Moscou como a mais bonita, pelos motivos de que vc. se lembrou. Também houve, naquela abertura, um grande destaque aos ginastas. Em um dos momentos, centenas de crianças fizeram uma “coreografia” de exercícios no gramado. Foi maravilhoso. É sim, meu amigo, o humano que dá sentido ao nosso mundo. A tecnologia é fruto da atividade humana, mas nunca deve ser colocada acima da humanidade. Abraço e muito obrigado pelo seu comentário. Ainda tenho a esperança de que, um dia, você vai me honrar publicando um artigo aqui.
Evandro Mangueira
9 de março de 2014
Detesto futebol, mas admito, acho o Neymar muito carismático! Quando vi esse vídeo a primeira vez, fiquei com o nó na garganta característico do choro.
blogdoamstalden
9 de março de 2014
Ficamos na mesma situação, Evandro, meu amigo.
Valéria Pisauro
9 de março de 2014
Fiquei emocionada!
blogdoamstalden
9 de março de 2014
Lindo, né Valéria? Bj.
Edu Pedrasse
10 de março de 2014
Muito bom Luís! Muito bom!
Saudades desse Brasil cara….