É prosa? É poesia? Ou não é nada?
A discussão segue como uma estrada para lugar nenhum.
Quem faz o que?
João Gilberto – como diz Caetano – não gosta de poesia.
Mas não seria poesia as letras de Vinícius que ele canta?
Mais confusão para nossa cabeça.
Algumas não fazem sentido nenhum sem a música: Eduardo e Mônica
Outras se auto-sustentam, podem até ser vistas como poesia pura:
Love is old, Love is new
Love is all, love is you
Because -The Beatles
Alguns textos são “pura poesia” de tão bem escritos.
Tem gente que até consegue fazer texto dissertativo com poesia…
Tudo depende do caboclo e da vontade de bem escrever.
O Microsoft Word trouxe maravilhas. Mas vulgarizou muita coisa.
Não, não estou falando da correção automática, seja ela ortográfica ou gramatical. Falo da facilidade para colocar palavras no papel (tela).
Recentemente com meu Grupo de Estudos da Música Brasileira na UNIMEP, resolvi – na condição de líder – propor o estudo a Apostila “Redação”, que tinha do meu cursinho no Objetivo, de 1989 (!).
Tomamos um baque: parece matéria de curso de letras de Faculdade.
Incrivelmente bem escrito e didático e cheio de excelentes exemplos – que segundo Confúcio, são a medida pela qual se avalia um sábio – a grossa apostila discorre sobre os mais variados gêneros de escrita: narração, dissertação, crônica, etc. Cada um esmiuçado ao paroxismo. E transbordando poesia.
Para quem esperava um livro cheio de fórmulas mágicas é uma decepção. Utiliza uma sorte imensa de letras de música, poesias (!), textos medievais, jornalísticos. Tudo para dar exemplo de como escrever. Bem.
Vimos que não sabemos nada. E um pouco de humildade não faz mal pra ninguém.
Aí começa a cair a ficha de quanto entulho encontramos em jornais, revistas e principalmente nos Blogues da vida, pois os últimos são plataformas livres para todo mundo escrever o que bem entender.
Quanta falta de parágrafo, de tabulação, ritmo, coisas que deixariam o texto mais arejado. Como dizem os americanos “Text needs room to breathe” (O texto precisa de um espaço pra respirar).
Em vez disso não: blocos fechados que parecem o Diário Oficial. Cruzes(!)
Meu orientador de mestrado chamava esses blocos de “lapas”. Tomei muita porrada por isso. Mas acho que aprendi alguma coisa.
— Pedrasse! Tire essas lapas!!
Escrever para mim tem um compromisso com arte, pois, escrever também pode ser literatura, que é arte.
Logo, acho que quem escreve – principalmente nos Blogues, onde todo tipo de diagramação é possível e não temos o limite físico do papel (alô! alô!) – deveria prezar por um pouco mais de estética que – isso eu garanto – melhora a inteligibilidade.
Mas tudo isso dá trabalho.
Horas, às vezes.
No fechamento da redação, quando bate o desespero – ou a preguiça – o reflexo faríngeo pinta numa boa.
E dá-lhe períodos longuíssimos. O cara acha que é Proust…
E dá-lhe a cultura do “selfies” do Facebook: é preciso estar lá, todo tempo, seja do jeito que for…
Quem leva a pior é o leitor.
Bem, enquanto isso acendo minhas velas na humilde caminhada para um dia escrever bem.
Microsoft Word, rogai por nós
Agora e na hora da nossa morte
Amém
P.S. Pra quem quiser adquirir a apostila se chama Redação – Livro 29. Coleção Objetivo. Tem no Mercado Livre por nove dinheiros.
Edu Pedrasse é músico profissional – guitarra e violão – há 28 anos. Possui Bacharelado e Mestrado em Música pela UNICAMP. É professor universitário na UNIMEP, no curso de Música Licenciatura e também é professor particular de música. Atua com seu show Entartete Jazz, nas casas de espetáculos de Piracicaba e região.
Site: http://www.edupedrasse.com
Facebook: https://pt-br.facebook.com/edupedrasse
Valéria Pisauro
2 de abril de 2014
A expressão “letra de canção” já indica de que modo essa questão deve ser entendida, pois a palavra “letra” remete à escrita. O que se quer saber é se a letra, separada da canção, constitui um poema escrito.
“Letra de canção é poema?” Essa formulação é inadequada. Desde que as vanguardas mostraram que não se pode determinar a priori quais são as formas lícitas para a poesia, qualquer coisa pode ser um poema. Se um poeta escreve letras soltas na página e diz que é um poema, quem provará o contrário?
Neste ponto, parece-me inevitável introduzir um juízo de valor. A verdadeira questão parece ser se uma letra de canção é um bom poema. Entretanto, mesmo esta última pergunta ainda não é suficientemente precisa, pois pode estar a indagar duas coisas distintas:
1) Se uma letra de canção é necessariamente um bom poema;
2) Se uma letra de canção é possivelmente um bom poema.
Evandro Mangueira
2 de abril de 2014
Escrever bem é um compromisso com o leitor, mas a arte que compromisso tem? Apenas ser lida corretamente? Apenas ser vista corretamente? Quais as regras que regem a arte, quais os limites, os pontos cegos, os acertos e o que é certo? Não sou saudosista da máquina de escrever.
Gosto das provocações que a arte proporciona, mesmo contra as regras, mas gosto mesmo é da possibilidade de acesso que a tecnologia traz, da vulgarização dos elementos que tanto ficou na mão da elite!
Selma Klyman
2 de abril de 2014
Sitting on a cornflake, waiting for the van to come.
Corporation tee-shirt, stupid bloody tuesday.
Man, you been a naughty boy, you let your face grow long.
I am the Walrus -The Beatles
Chico Bento
2 de abril de 2014
Levei ela prô caiapiá
A mó de conversá
A cunversa da moça deu priguiça
Nem deu pra amolengá
Bruninha
3 de abril de 2014
Quaquaraquaquá, quem riu
Quaquaraquaquá, fui eu
Baden Powell / Paulo César Pinheiro
Carla Betta
3 de abril de 2014
Só sei que nada é que não é.