No dia 08 de abril, Edu Pedrasse publicou um vídeo de David Bowie. Na correria, passei batido. Depois conversando com ele (o Edu, não o Bowie!) vi que o vídeo é uma verdadeira obra de arte. Bowie estava um tempo na geladeira e a crítica foi só elogios. Com muita razão! É uma aula de rock’n’roll! (Já baixei o disco todo! Uma belezura!)
Achei o clipe extasiante: cheio de referências literárias e cinematográficas, além da óbvia crítica institucional ao catolicismo. Tal crítica também foi motivo de muito debate: grupos religiosos se sentiram ofendidos e o próprio YouTube tirou do ar por algum tempo, julgado como inapropriado. Quem bom que voltou atrás.
Minha proposta é a seguinte: fazer um conjunto de reflexões sobre o vídeo: muita coisa podemos encontrar nele. Penso numa série de mais três artigos: 1. sobre crítica institucional à igreja católica, 2. sobre diálogos musicais, fílmicos e literários e 3. sobre o sagrado e o profano (todos tendo como eixo a música e o clip). Acho que essas três dimensões se esbarram de maneira pungente nessa obra do Bowie, tudo muito grávido de sentido. Confesso, dos três eixos, o que denominei de“o sagrado e o profano” é o que mais me encanta: parto da hipótese que o vídeo, ainda que crítico, traz uma visão muito clara (e positiva) sobre a fé e suas implicações. O vídeo não é nem ateu nem anticrístico… Ao contrário, parece refundar um cristianismo pela profanação. Como apoio teórico a essetema, aproveito para me debruçar sobre uma obra do filósofo italiano Giorgio Agambem (hoje tão na moda) intitulada Profanações (pela editora Boitempo, 2007, 95p.) Estou em débito com essa obra em minhas pesquisas e é chegada a hora de enfrentar essa questão (melhor se for com Bowie!)
Começo repostando o vídeo aqui e deixo logo abaixo a tradução que fiz da letra da música. Não sou especialista em tradução poética, mas me permiti um mínimo de atenção na tarefa e acho que o diálogo entre a narrativa do clip e a da música, conversam de modo magistral.
The Next Day
Look into my eyes he tells her I’m gonna say goodbye he says yea Do not cry she begs of him goodbye yea All that day she thinks of his love yea
They whip him through the streets and alleys there The gormless and the baying crowd right there They can’t get enough of that doomsday song They can’t get enough of it all
Listen
Listen to the whores he tells her He fashions paper sculptures of them Then drags them to the river‘s bank in the cart Their soggy paper bodies wash ashore in the dark And the priest stiff in hate now demanding fun begin Of his women dressed as men for the pleasure of that priest
Here I am Not quite dying My body left to rot in a hollow tree Its branches throwing shadows On the gallows for me And the next day And the next And another day
Ignoring the pain of their particular diseases They chase him through the alleys chase him down the steps They haul him through the mud and they chant for his death And drag him to the feet of the purple headed priest
First they give you everything that you want Then they take back everything that you have They live upon their feet and they die upon their knees They can work with satan while they dress like the saints They know god exists for the devil told them so They scream my name aloud down into the well below
Here I am Not quite dying My body left to rot in a hollow tree Its branches throwing shadows On the gallows for me vAnd the next day And the next And another day |
No dia seguinte
Olhe nos meus olhos ele diz a ela Eu vou dizer adeus, ele diz, oh sim! Não chore, ela implora seu adeus, oh sim! Em todo aquele dia ela pensa em seu amor, sim.
Eles o chicoteiam pelas ruas e vielas Ostolos e a multidão aos berros, logo ali Eles não se satisfazemdaquela canção do fim do mundo Eles não se satisfazemdisso tudo
Ouçam!
Ouça as prostitutas, ele diz a ela Ele as modelaem esculturas de papel Entãoele as arrasta para o barranco do rio num carrinho Seus corpos de papel empapado encharcam a terra na escuridão E o rígido sacerdote encolerizado, agora clamapelo início da diversão De suas mulheres vestidas como homens para o prazer daquele padre
Aqui estou eu Não exatamente morrendo Meu corpo deixado para apodrecer numa árvore oca Seus ramos lançando sombras como forcas para mim E no dia seguinte E no seguinte E mais outro dia
Ignorando a dor de suas próprias doenças Eles o perseguem pelas vielas,o perseguempasso a passo Eles o arrastam pela lama e eles cantam por sua morte E arrastam-norumo aos pés do padre da cabeça roxa
Primeiro eles te dão tudo o que você quer Então eles tomam de volta tudo o que você tem Eles vivem sobre os pés e morrem sobre os joelhos Eles podem trabalhar com satan enquanto se vestem como os santos Eles sabem que deus existe para o diabo, assimelesdisseram Eles gritam meu nome bem alto para baixo, poço adentro
Aqui estou eu Não exatamente morrendo Meu corpo deixado para apodrecer numa árvore oca Seus ramos lançando sombras como forcas para mim E no dia seguinte E no seguinte E mais outro dia
|
P.S.: Desculpas mil ao amigo JRP, leitor aqui do Blog. Nos nossos debates, nos comentários do último texto, havia prometido uma reflexão sobre comunismo e socialismo. Vai demorar alguns meses…rs. Bowie é Bowie e, confesso, não resisto a uma obra tão provocante e interessante como essa… De qualquer modo, o tema não é exatamente o que poderíamos denominar de “apolítico”.
Fábio Casemiro.
Evandro Mangueira
5 de maio de 2014
O profano é só um ponto de vista. Depende de que lado você observa.
Edu Pedrasse
5 de maio de 2014
“E na tentativa sincera de levares o questionamento produtivo aos homens serás coberto por uma chuva de meias-tigelas, que te dará a sensação de saco cheio de uma noite de cinco horas dormidas”
Evangelho segundo Darth Vader – Cap. 4 Versículo 11.