Crônicas de Telópoli. The Next Day – Introdução. Por Fábio Casemiro

Posted on 5 de maio de 2014 por

2



hi-bowie-next-day

No dia 08 de abril, Edu Pedrasse publicou um vídeo de David Bowie. Na correria, passei batido. Depois conversando com ele (o Edu, não o Bowie!) vi que o vídeo é uma verdadeira obra de arte. Bowie estava um tempo na geladeira e a crítica foi só elogios. Com muita razão! É uma aula de rock’n’roll! (Já baixei o disco todo! Uma belezura!)

Achei o clipe extasiante: cheio de referências literárias e cinematográficas, além da óbvia crítica institucional ao catolicismo. Tal crítica também foi motivo de muito debate: grupos religiosos se sentiram ofendidos e o próprio YouTube tirou do ar por algum tempo, julgado como inapropriado. Quem bom que voltou atrás.

Minha proposta é a seguinte: fazer um conjunto de reflexões sobre o vídeo: muita coisa podemos encontrar nele. Penso numa série de mais três artigos: 1. sobre crítica institucional à igreja católica, 2. sobre diálogos musicais, fílmicos e literários e 3. sobre o sagrado e o profano (todos tendo como eixo a música e o clip). Acho que essas três dimensões se esbarram de maneira pungente nessa obra do Bowie, tudo muito grávido de sentido. Confesso, dos três eixos, o que denominei de“o sagrado e o profano” é o que mais me encanta: parto da hipótese que o vídeo, ainda que crítico, traz uma visão muito clara (e positiva) sobre a fé e suas implicações. O vídeo não é nem ateu nem anticrístico… Ao contrário, parece refundar um cristianismo pela profanação. Como apoio teórico a essetema, aproveito para me debruçar sobre uma obra do filósofo italiano Giorgio Agambem (hoje tão na moda) intitulada Profanações (pela editora Boitempo, 2007, 95p.) Estou em débito com essa obra em minhas pesquisas e é chegada a hora de enfrentar essa questão (melhor se for com Bowie!)

Começo repostando o vídeo aqui e deixo logo abaixo a tradução que fiz da letra da música. Não sou especialista em tradução poética, mas me permiti um mínimo de atenção na tarefa e acho que o diálogo entre a narrativa do clip e a da música, conversam de modo magistral.

 

 

 

The Next Day

 

Look into my eyes he tells her

I’m gonna say goodbye he says yea

Do not cry she begs of him goodbye yea

All that day she thinks of his love yea

 

They whip him through the streets and alleys there

The gormless and the baying crowd right there

They can’t get enough of that doomsday song

They can’t get enough of it all

 

Listen

 

Listen to the whores he tells her

He fashions paper sculptures of them

Then drags them to the river‘s bank in the cart

Their soggy paper bodies wash ashore in the dark

And the priest stiff in hate now demanding fun begin

Of his women dressed as men for the pleasure of that priest

 

Here I am

Not quite dying

My body left to rot in a hollow tree

Its branches throwing shadows

On the gallows for me

And the next day

And the next

And another day

 

Ignoring the pain of their particular diseases

They chase him through the alleys chase him down the steps

They haul him through the mud and they chant for his death

And drag him to the feet of the purple headed priest

 

First they give you everything that you want

Then they take back everything that you have

They live upon their feet and they die upon their knees

They can work with satan while they dress like the saints

They know god exists for the devil told them so

They scream my name aloud down into the well below

 

Here I am

Not quite dying

My body left to rot in a hollow tree

Its branches throwing shadows

On the gallows for me vAnd the next day

And the next

And another day

 

No dia seguinte

 

Olhe nos meus olhos ele diz a ela

Eu vou dizer adeus, ele diz, oh sim!

Não chore, ela implora seu adeus, oh sim!

Em todo aquele dia ela pensa em seu amor, sim.

 

Eles o chicoteiam pelas ruas e vielas

Ostolos e a multidão aos berros, logo ali

Eles não se satisfazemdaquela canção do fim do mundo

Eles não se satisfazemdisso tudo

 

Ouçam!

 

Ouça as prostitutas, ele diz a ela

Ele as modelaem esculturas de papel

Entãoele as arrasta para o barranco do rio num carrinho

Seus corpos de papel empapado encharcam a terra na escuridão

E o rígido sacerdote encolerizado, agora clamapelo início da diversão

De suas mulheres vestidas como homens para o prazer daquele padre

 

Aqui estou eu

Não exatamente morrendo

Meu corpo deixado para apodrecer numa árvore oca

Seus ramos lançando sombras

como forcas para mim

E no dia seguinte

E no seguinte

E mais outro dia

 

Ignorando a dor de suas próprias doenças

Eles o perseguem pelas vielas,o perseguempasso a passo

Eles o arrastam pela lama e eles cantam por sua morte

E arrastam-norumo aos pés do padre da cabeça roxa

 

Primeiro eles te dão tudo o que você quer

Então eles tomam de volta tudo o que você tem

Eles vivem sobre os pés e morrem sobre os joelhos

Eles podem trabalhar com satan enquanto se vestem como os santos

Eles sabem que deus existe para o diabo, assimelesdisseram

Eles gritam meu nome bem alto para baixo, poço adentro

 

Aqui estou eu

Não exatamente morrendo

Meu corpo deixado para apodrecer numa árvore oca

Seus ramos lançando sombras

como forcas para mim

E no dia seguinte

E no seguinte

E mais outro dia

 

 

P.S.: Desculpas mil ao amigo JRP, leitor aqui do Blog. Nos nossos debates, nos comentários do último texto, havia prometido uma reflexão sobre comunismo e socialismo. Vai demorar alguns meses…rs. Bowie é Bowie e, confesso, não resisto a uma obra tão provocante e interessante como essa… De qualquer modo, o tema não é exatamente o que poderíamos denominar de “apolítico”.

 

Fábio Casemiro.