Medicina e Vida. Essa tal Felicidade. Por Alexandre Pacheco

Posted on 15 de maio de 2014 por

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alexadre pacheco

O que você quer da vida? E no casamento? E no trabalho?

Ainda me lembro quando criança dos filmes da Disney com final feliz com o beijo do mocinho na mocinha. Os dois loiros, magros, de olhos claros e bem apessoados. Também me lembro dos comerciais de margarina, com a família sorridente, todos sadios, bem humorados, reunidos à mesa pela manhã. Crianças sorrindo e bem comportadas.

         Nada vende mais que a idéia de felicidade. Mac lanche feliz é um bom exemplo, você não só se alimenta, se torna uma pessoa feliz. Há vários outros exemplos e em todos os segmentos. No shopping você compra roupas na loja que estampa a atriz ou ator mais desejados do momento, esperando aparentar-se como ele(a). Na comida come orgânicos, dieta da lua, do sol, do tipo sanguíneo, da proteína, vegetariana, sem glúten, etc… A gente faz yoga para harmonizar as energias e atingir a autoperfeição, faz meditação para ficar zen. As religiões agora te ajudam a ser empresário de sucesso, Deus esta contigo e não abre, mesmo quando é você contra outro ser humano que teoricamente seria Seu filho também.

         Fazemos plástica para parecermos perfeitos e para não aparentarmos a idade, como se fosse possível ser perfeito e não sentir a ação do tempo. E na academia com suas várias teorias… A corrida é o que há de melhor, exercícios funcionais, exercícios pesados bem balanceados, comprometimento não somente com seu corpo, mas com sua felicidade. Pilates vai te reequilibrar totalmente, você será uma nova pessoa.

         Na medicina igualmente. Faça um check-up anual e se mantenha sadio?? Não fume, não beba, permaneça magro e seja feliz. O facebook é o apogeu: todo mundo colocando-se feliz, em bons momentos, pleno de realizações. 10 hábitos dos casais felizes, 10 hábitos dos executivos de sucesso. Meu projeto social e como isso me faz feliz. Tem de tudo pra te ensinar como ser… feliz! Na livraria, na sessão de auto ajuda é mais intenso ainda. Entre em uma e veja quantos livros falam sobre como ser feliz.

         Faço um convite à reflexão sobre o que é essa tal felicidade. Quanto disto citado acima você já fez com a motivação de tornar-se feliz? E aí, conseguiu? Se considera feliz?

Certa vez conversando com repórteres para uma matéria me perguntaram o que era melhor em ortopedia: ser gordo ou ser magro. Eu respondi que para suas articulações ser magro era melhor porque elas sofriam menos sobrecarga, mas para a osteoporose ser gordo era mais interessante porque aumentava a massa óssea. Então fui indagado: “Mas doutor, qual é o certo?”. Respondi que a única coisa certa era a morte e que nossa luta é inglória porque no final acabamos sempre sucumbindo. Então me disseram: “Doutor, não diga isso porque as pessoas querem ouvir mensagens de esperança”. Que sociedade é essa que nega sua sina mais inexorável?

         Talvez felicidade seja um estado de espírito e não um estado de ser. Talvez o certo seja estar feliz e não ser feliz. Talvez as campanhas e os livros e as dietas e os tratamentos e as atividades sociais e físicas devessem prometer momentos de felicidade e não estados de felicidade.

         Talvez felicidade seja o cafézinho entre dois turnos intensos de trabalho. Você pode gostar do que faz, mas se isso te desse realmente só prazer você pagaria, não ganharia, para tê-lo. É muito bom casar, mas não se é feliz para sempre, todo dia é um dia e você inclusive tem que reconquistar seu parceiro todo santo dia, senão alguém o faz. A mesa do café com toda a família é realmente prazerosa, o sorriso das crianças não há dinheiro que pague… Não, não, algum dinheiro paga sim e é suado; e elas brigam e a menor faz cocô no meio da refeição, etc. A índia não é um lugar tão legal assim, há pobreza, estupros coletivos, falta de higiene.

         Várias das práticas que descrevo aqui para atingir a felicidade eu mesmo faço, incluindo dietas, yoga, atividade física, prescrição para reduzir peso, cigarro, etc; mas hoje não acredito que serei feliz com isso mas que aumentarei meus momentos agradáveis, muitos deles felizes sim. Cuidado para não procurar uma coisa que não existe.

Alexandre Pacheco é Médico Ortopedista e assina essa coluna.

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