Eu e os 13%. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 27 de maio de 2014 por

4



Leio nos jornais que uma pesquisa de opinião aponta, em Piracicaba, que 87% dos entrevistados estão satisfeitos com o funcionamento da Zona Azul, feito por parquímetros e administrado, mediante concessão, pela empresa Estapar. Pesquisas de opinião são sujeitas a falhas e enganos. Dependendo da metodologia e da amostragem é possível sim, ter-se um bom retrato de uma situação. Mas as possibilidades de erros também são grandes. Parto, porém, do princípio de que esta pesquisa está correta e de fato o número de usuários satisfeitos seja este, o de 87%. E assim sei que eu pertenço aos 13% que não estão satisfeitos. Não, eu não fui entrevistado, mas o resultado se dá por amostragem, logo, mesmo eu não tendo respondido à pesquisa, em tese estou representado pelo resultado. E sou a minoria da população, a que está insatisfeita.

O motivo é que nunca, na verdade, desde a implantação do sistema de parquímetros e da concessão, eu estive satisfeito. Em primeiro lugar porque logo ao se fazer esta transição, tivemos um aumento substancial na tarifa. O sistema antigo, por talões comprados no comércio, custava R$ 1,50 por duas horas. Ao se terceirizar, o valor subiu para R$2,00, em um aumento de 25% na tarifa. Achei desproporcional. Mas não foi só isto. O número de vagas demarcadas também cresceu, e se estendeu do centro para bairros como a Vila Rezende e o Bairro Alto. Também no centro outras ruas até então livres de cobrança, foram demarcadas. Não consegui, pelo menos não a tempo deste artigo, levantar o aumento de “novas vagas”, mas de uma coisa eu sei: na prática, mais vagas cobradas e um aumento no valor, geram um bom lucro para a empresa ao mesmo tempo em que oneram o cidadão que precisa estacionar. E eu não gostei de ser mais onerado, de ter que gastar mais.

Tanto a prefeitura quanto a Estapar argumentam que o sistema favorece a rotatividade e, portanto, facilita o estacionamento, já que, em tese, existe um limite máximo de duas horas nas quais o carro pode ocupar uma determinada vaga. Eu, no entanto, duvido que isto aconteça. E duvido porque não consigo imaginar por que método as moças que fiscalizam cada área fazem para controlar que carro está lá a mais do que o tempo permitido. Nunca as vi fazendo isto e confesso que eu mesmo já troquei o ticket sem mudar meu carro de vaga. Ninguém que eu conheça, ninguém, retirou o carro e o colocou em outro lugar após o vencimento. Apenas retirou outro ticket. Além disto, até onde sei, as moças tampouco podem multar. Isto é prerrogativa dos agentes da SEMUTRAN e de policiais. No entanto, desde que o novo sistema começou, é raro ver os agentes no centro, pelo menos. Tampouco senti diferença na oferta de vagas. Nos lugares mais concorridos, como a rua Governador, a situação não me parece diferente. Em áreas em que eu costumo estacionar, mais distantes das regiões mais concorridas, o tempo que levo para encontrar uma vaga é o mesmo. Varia apenas em função do horário.

E há mais motivos, vários, pelos quais eu não estou satisfeito. Máquinas quebradas, dificuldade de encontrar agentes para recarregar cartões ou reclamar de moedas engolidas sem ticket e outros. Meu espaço aqui não permite expor a todos, porém termino expondo uma contradição imensa. Se o objetivo do sistema de parquímetro e da concessão foi o de aumentar a disponibilidade, então qual a lógica de 30 minutos de estacionamento custarem R$ 1,00 e duas horas custarem R$ 2,00? Se a proporção fosse correta, meia hora deveria custar R$ 0,50, uma hora R$ 1,00, hora e meia R$ 1,50 e finalmente duas horas R$ 2,00. Pelas tarifas atuais, quanto mais tempo você ocupa a vaga, mais barato fica proporcionalmente. Logo o usuário é tentado a colocar de uma vez o máximo e garantir a ausência de avisos de regularização. Ele perde, os outros motoristas não tem a vaga liberada e ganha a empresa. A lógica não me parece ser a de otimizar nada, mas a de gerar lucro. Estes são meus motivos de descontentamento, mas, pelo menos para a pesquisa feita, eu faço parte de apenas 13% dos entrevistados. Uma curiosidade: você que me lê faz parte de qual dos grupos? Satisfeito ou insatisfeito?

Posted in: Artigos