Macacada Colorida

Posted on 26 de maio de 2014 por

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homem-macaco

Em tempos de internet em menos de vinte e quatro horas uma campanha “somos todos macacos” se transforma em “não somos todos macacos”. A velocidade dos fatos e a motivação generalizada polarizam as opiniões e em questão de segundos, uma pessoa passa de mocinho a vilão.

Vivemos uma época estranha, onde a opinião sem a devida informação leva uma dona de casa ser espancada e morta por uma multidão.

É tanta notícia forjada e manipulada, tanta informação infundada que voltamos à época da Santa Inquisição.

O mais curioso é que tudo isso ocorre em um momento da história que a informação é quase gratuita, e de fácil acesso.

E correndo o risco desse artigo ser ultrapassado pela velocidade dos fatos, tratarei dos Homo sapiens, do Latim homem sábio.

O Insulto sempre foi degradante, não se insulta sem a intenção de ferir com força! Os animais são utilizados pejorativamente o tempo todo: Veado, baleia, macaco, burro, lesma, são só alguns dos animais usados para xingar, respectivamente, gays, gordos, negros, ignorantes do saber, lentos.

Entre todos os animais usados, o macaco é sem dúvida o que fere com mais força, isso porque ao chamarmos alguém de macaco estamos transportando a pessoa a um nível anterior ao da evolução: Um primata de fato.

Embora não se deva jamais usar tais palavras com esse sentido, a campanha “Somos todos macacos” não seria ruim se não fosse manchada pelo oportunismo do Luciano Huck e talvez da ingenuidade de Neymar Jr. Enquanto comerciante, não creio que poderíamos esperar menos dos oportunistas, não poderíamos esperar menos dos que vendem qualquer coisa, até mesmo a desgraça.

A campanha “Somos todos macacos” surgiu de forma ruim, ingênua e talvez pobre de argumentação, manipulada ou não, foi aceita quase que instantaneamente pela população, que tentou, de sua forma, fazer parte de algo nobre. A campanha não foi bem vista por alguns pensantes, que sendo pensantes não aceitam semelhança alguma com macacos.

E nesse ponto volto a Segunda Guerra mundial, outra macacada: Os gays eram presos nos campos de concentração e marcados com um triângulo rosa, ao fim, o triângulo rosa passa a ser um dos símbolos de movimentos internacionais favoráveis às minorias sexuais, sendo, no entanto, um pouco menos popular que a bandeira arco-íris.

Essa característica de associar figuras de humilhação a luta é bem presente em toda a história do movimento LGBT (Lésbicas – Gays – Bissexuais – Transexuais e Travestis), entre os gays é comum um chamar o outro de viado, derivação da palavra veado.

A macacada colorida sempre riu das piadas sociais e sempre contornou com muita sabedoria tais implicações. Para se lutar contra algo, às vezes é preciso não dar importância a certos símbolos opressores. O termo macaco de forma alguma deve ser aceito no sentindo pejorativo, no entanto, creio que a campanha “Não somos todos macacos” surge devido a outro fator. Não existia apenas a argumentação de que não somos de fato macacos, quando o nosso DNA prova que somos sim, vejam essa notícia: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/06/mapa-genetico-do-macaco-bonobo-e-987-igual-ao-humano-diz-nature.html

 

Tudo o que nos separa do reino animal é repudiado, e por isso o artigo Qual o Pente que te Penteia trata da nossa eterna luta contra o que nos torna mais animal: Os pelos corporais. “Não somos todos macacos”, grito de muitos brancos não só apelava contra a campanha publicitária oportunista do Huck, mas era uma campanha de permanência de status: Não descemos dos galhos há tanto tempo para sermos comparados a macacos nessa altura da vida. Existe uma arrogância pelos militantes dessa nova campanha. Tratar alguém como inferior evolutivamente é medonho, mas repudiar a nossa origem e não nos enxergarmos como animais, como primatas que somos, é o que nos torna seres tão desprezíveis e cruéis com os demais animais.

No artigo O Ecochato e no polêmico artigo A Carne que me Consome tratam exatamente dessa soberba humana em sentirmo-nos superiores aos demais animais e em um pódio de privilégios e arrogância.

Não existem dúvidas que a campanha “Somos Todos Macacos” era uma manipulação malvada de uma indústria que não separa o que é ético do que é amoral na hora de lucrar, chamar alguém de macaco, “viado”, baleia ou qualquer outro animal com intuito de transformá-lo em inferior é covarde e repugnante, contudo, o contra peso que veio na campanha “Não Somos Todos Macacos” estava tão manchada de ego, orgulho e supremacia que assusta, até pelo fato de que veio posicionada por bandeiras de lutas históricas de inclusão.

Enquanto isso a macacada briga no Facebook, e nós que nos sentimos superiores assistimos a tudo dos nossos galhos.