Em tempos de internet em menos de vinte e quatro horas uma campanha “somos todos macacos” se transforma em “não somos todos macacos”. A velocidade dos fatos e a motivação generalizada polarizam as opiniões e em questão de segundos, uma pessoa passa de mocinho a vilão.
Vivemos uma época estranha, onde a opinião sem a devida informação leva uma dona de casa ser espancada e morta por uma multidão.
É tanta notícia forjada e manipulada, tanta informação infundada que voltamos à época da Santa Inquisição.
O mais curioso é que tudo isso ocorre em um momento da história que a informação é quase gratuita, e de fácil acesso.
E correndo o risco desse artigo ser ultrapassado pela velocidade dos fatos, tratarei dos Homo sapiens, do Latim homem sábio.
O Insulto sempre foi degradante, não se insulta sem a intenção de ferir com força! Os animais são utilizados pejorativamente o tempo todo: Veado, baleia, macaco, burro, lesma, são só alguns dos animais usados para xingar, respectivamente, gays, gordos, negros, ignorantes do saber, lentos.
Entre todos os animais usados, o macaco é sem dúvida o que fere com mais força, isso porque ao chamarmos alguém de macaco estamos transportando a pessoa a um nível anterior ao da evolução: Um primata de fato.
Embora não se deva jamais usar tais palavras com esse sentido, a campanha “Somos todos macacos” não seria ruim se não fosse manchada pelo oportunismo do Luciano Huck e talvez da ingenuidade de Neymar Jr. Enquanto comerciante, não creio que poderíamos esperar menos dos oportunistas, não poderíamos esperar menos dos que vendem qualquer coisa, até mesmo a desgraça.
A campanha “Somos todos macacos” surgiu de forma ruim, ingênua e talvez pobre de argumentação, manipulada ou não, foi aceita quase que instantaneamente pela população, que tentou, de sua forma, fazer parte de algo nobre. A campanha não foi bem vista por alguns pensantes, que sendo pensantes não aceitam semelhança alguma com macacos.
E nesse ponto volto a Segunda Guerra mundial, outra macacada: Os gays eram presos nos campos de concentração e marcados com um triângulo rosa, ao fim, o triângulo rosa passa a ser um dos símbolos de movimentos internacionais favoráveis às minorias sexuais, sendo, no entanto, um pouco menos popular que a bandeira arco-íris.
Essa característica de associar figuras de humilhação a luta é bem presente em toda a história do movimento LGBT (Lésbicas – Gays – Bissexuais – Transexuais e Travestis), entre os gays é comum um chamar o outro de viado, derivação da palavra veado.
A macacada colorida sempre riu das piadas sociais e sempre contornou com muita sabedoria tais implicações. Para se lutar contra algo, às vezes é preciso não dar importância a certos símbolos opressores. O termo macaco de forma alguma deve ser aceito no sentindo pejorativo, no entanto, creio que a campanha “Não somos todos macacos” surge devido a outro fator. Não existia apenas a argumentação de que não somos de fato macacos, quando o nosso DNA prova que somos sim, vejam essa notícia: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/06/mapa-genetico-do-macaco-bonobo-e-987-igual-ao-humano-diz-nature.html
Tudo o que nos separa do reino animal é repudiado, e por isso o artigo Qual o Pente que te Penteia trata da nossa eterna luta contra o que nos torna mais animal: Os pelos corporais. “Não somos todos macacos”, grito de muitos brancos não só apelava contra a campanha publicitária oportunista do Huck, mas era uma campanha de permanência de status: Não descemos dos galhos há tanto tempo para sermos comparados a macacos nessa altura da vida. Existe uma arrogância pelos militantes dessa nova campanha. Tratar alguém como inferior evolutivamente é medonho, mas repudiar a nossa origem e não nos enxergarmos como animais, como primatas que somos, é o que nos torna seres tão desprezíveis e cruéis com os demais animais.
No artigo O Ecochato e no polêmico artigo A Carne que me Consome tratam exatamente dessa soberba humana em sentirmo-nos superiores aos demais animais e em um pódio de privilégios e arrogância.
Não existem dúvidas que a campanha “Somos Todos Macacos” era uma manipulação malvada de uma indústria que não separa o que é ético do que é amoral na hora de lucrar, chamar alguém de macaco, “viado”, baleia ou qualquer outro animal com intuito de transformá-lo em inferior é covarde e repugnante, contudo, o contra peso que veio na campanha “Não Somos Todos Macacos” estava tão manchada de ego, orgulho e supremacia que assusta, até pelo fato de que veio posicionada por bandeiras de lutas históricas de inclusão.
Enquanto isso a macacada briga no Facebook, e nós que nos sentimos superiores assistimos a tudo dos nossos galhos.
Carla Betta
26 de maio de 2014
Artigo excepcional ! Eu me encontrava muito em dúvida e vc me esclareceu. Admiro sua perspicácia na análise social.
Evandro Mangueira
26 de maio de 2014
Oi Carla, que gentileza. Obrigado!
Brunão
26 de maio de 2014
Gostei muito! Obrigado pelo texto!
Evandro Mangueira
26 de maio de 2014
Brunão, eu que fico feliz que tenha lido!
Evandro Mangueira
13 de junho de 2014