Coluna do Evandro: A carne que me consome.

Posted on 14 de outubro de 2013 por

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As razões que levam uma pessoa ao vegetarianismo são diversas, inclusive algumas vezes, religiosas. No meu caso não, apenas nasci assim.

Esse esclarecimento é importante, porque por diversas vezes tive que explicar que não é por religião, filosofia de vida ou razões médicas, simplesmente faz parte de mim, é o que sou: vegetariano.

Vegetariana é a pessoa que não se alimenta de carnes, embora comam derivados de leite e utiliza-se de acessórios que provém de animais, (xampus, corantes alimentícios, batons, carteiras e sapatos, entre outros). Vegana é a pessoa que “tenta” não usufruir e nem consumir nada derivado animal.

Acredito que o simples fato da existência, nos obriga a matar animais, a torturá-los e a extingui-los. Ao ler esse artigo, você está usando energia e um computador e para tal animais morreram na geração desses recursos, exatamente por essa razão não creio que o veganismo seja possível, o fato de termos nascido já é o início da condenação de diversas vidas de outros seres.

Portanto, vai à contra mão, quem condena os carnívoros, tanto à contra mão, também, os que condenam os vegetarianos, pois é impossível viver sem matar, destruir ou torturar.

Essa não é uma disputa de quem é mais evoluído, (acreditem: há quem ache que os vegetarianos são seres mais evoluídos), em média, estamos todos no mesmo nível de evolução, ocorre que, e digo isso de forma bem displicente, alguns vegetarianos são mais sensíveis as causas humanas e dos animais.

Outro mito acerca do vegetarianismo, é que todos possuem uma alimentação saudável, uma inverdade, pois alguns substituem a proteína animal por carboidrato e não comem verduras, conheço muitos vegetarianos acima do peso. Para os que querem aventurar-se nesse modelo de vida, sugiro que comecem inserindo, aos poucos, proteínas vegetais e verduras, falo aos poucos para que o paladar se habitue e seu corpo também.

Embora, e definitivamente, alguns vegetarianos/veganos sejam bem chatos e inconvenientes, eu concordo com tudo o que é dito por eles: Temos a obrigação em diminuir o sofrimento animal. Não é pelo fato de que não temos como evitar a mortandade dos animais, que não temos a obrigação ética de amenizá-la.

É uma questão moral, mas muito, além disso, é uma questão de sobrevivência humana.

A televisão mente para nós, quando diz que precisamos salvar o mico leão dourado da extinção por ele ser um animal lindo e que tem direito a viver. A verdade não dita é que se continuarmos matando os animais da forma que o fazemos, nós é quem seremos extintos! A vida resistirá, ela já sobreviveu a coisas muito piores do que nossa estadia na Terra.

Precisamos diminuir os impactos, e não só para salvar os animais, mas sim para nos salvarmos. O que causa a morte animal não é apenas o prato com um bife da sua mesa, mas a garrafa pet que você descarta no lixo orgânico, os móveis e roupas que você troca mensalmente, o papel e a sacola plástica que usa indiscriminadamente e os excessos que não tem fim.

Defendo sim a mudança de alimentação, parte porque se fôssemos aos matadouros, não conseguiríamos mais ver a carne em nossos pratos e muito menos comê-las:

Visitei uma granja em certa ocasião e descobri que os pintinhos, (aqueles mesmo que tem os bicos queimados, vivem em constante iluminação para se alimentarem de água e comida modificadas que os tornam adultos em semanas, prontos para o abate), quando não cresciam, suficientemente rápido, eram jogados ainda “vivos” em uma grande trituradora para virarem ração para cachorro, juntamente com penas e resto de outros frangos que já foram ao abate. A cena é apocalíptica, embora as paredes sejam brancas o cenário é mórbido e sujo.

Nasci vegetariano, mas se não tivesse nascido, eu o tornaria a ser, facilmente, bastando para isso um pouco de consciência.

Devemos diminuir os impactos contra os animais, não só os causados por nossa alimentação cruel, mas também por nosso consumismo desenfreado que originam tanta tortura e sofrimento animal, isso sem falar no sofrimento humano, basta verificar como são produzidos os bens que consumimos, a energia que é gerada para fabricá-los e as embalagens que são utilizadas.

Repito: A simples existência humana é motivo de tortura e matança animal, mas temos a obrigação moral de diminuirmos os impactos causados a eles e a natureza, o que consequentemente nos garantirá sobrevida mais longa nesse planeta.

Questione: Por que alguns animais você escolhe para amar, como cachorros, gatos e papagaios, e outros você os come, como vacas, coelhos e codornas? A explicação pode ser econômica, mas a única coisa que nos leva a continuar a prática de tais atos é a falta de questionamento.

Não condeno os que se alimentam das focas que vivem na Antártida, embora nunca entenderei o que humanos fazem naquele lugar, mas creio que o número crescente de humanos na Terra, o nosso desejo de exclusividade e a industrialização da morte e tortura animal, devem ser reavaliados, ou o que entrará em extinção será a nossa raça, e não adianta a televisão dizer o contrário, os lixos acumulados, os esgotos não tratados, as epidemias estão aí para provar que você tem que desligar a TV e pensar por si só.

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Evandro Mangueira é escritor, autor do livro Arcanjo Gabriel.