Nega do cabelo duro, qual é o pente que te penteia? Qual é o pente que te penteia?
Composição: David Nasser / Rubens Soares
Em uma sociedade de cabelos esticados, existe algo que não é artificial?
Nem o nosso cheiro é nosso, tudo em nós é artificial. A cor do cabelo, o modelo da roupa, o comportamento! É tanta artificialidade que o natural passou a ser rejeitado por completo, as relações, também, tornaram-se artificiais.
Os homens vivem, hoje, uma realidade antes inerente as mulheres: os pêlos foram abolidos, os cabelos milimetricamente “bagunçados”, as roupas escolhidas de acordo com os adornos, o corpo escultural, enquanto as academias abarrotadas de gente.
Uma obsessão pelo perfeito, pelo adquirido a base de sofrimento e dinheiro, acompanhado de uma rejeição das origens e de uma clara separação no reino entre os animais racionais e os demais seres.
A vaidade é sem dúvida o pecado mais existente na face da Terra, todos têm vaidade, seja pelo intelecto, pela capacidade de raciocínio ou pela beleza (natural ou adquirida). A forma playmobil de ser é uma regra criada por um mercado cruel, que enlata todos em um movimento obrigatório de perfeição e semelhança uns com os outros.
Mas qual é o pente que te penteia?
No artigo “periferia” (clique aqui para ler) ressalta que a cultura vem das periferias, favelas e comunidades pobres. Foi assim com as tatuagens, com os estilos de cabelos, roupas, estilo musical entre outros. A primeira vez que a palavra metrossexual apareceu na TV aberta, referia-se a um jogador de futebol que teve sua origem nas favelas, esse esporte é quase que totalmente voltado às comunidades mais pobres. Dos anos 90 para cá, cresceu, vertiginosamente, o número de homens metrossexuais, vaidosos e exigentes. Seriam as comunidades carentes mais vulneráveis? Ou seriam agentes transformadores? Duas perguntas sem respostas claras, mas o mercado descobriu o potencial dessas classes sociais, e os jovens de classes mais baixas passaram a consumir tanto quanto os seus créditos e salários podem pagar, tornando-se uma classe vaidosa. Uma cultura antes reservada às mulheres e que aos poucos os gays adotaram e por fim as periferias.
Esse movimento logo chegou a níveis globais, nos últimos anos tivemos como símbolo sexual personalidades com feições femininas, corpos desenhados em academias, cabelos sempre arrumados e roupas de marcas famosas, como Justin Bieber (eleito em diversas revistas do ramo, como Billboard e Glam’Mag) provando a aceitação da nova geração pelo estilo que mais parece um cruzamento de um Bad boy com a boneca Suzi: sobrancelhas bem delineadas, e cuecas aparecendo.
As cuecas foram as ultimas a ganharem força, é claro que corpos definidos precisam ser expostos e sem o uso de camisetas, as cuecas ganharam marcas, ganharam preço agregado. Existem cuecas “populares” que custam 300 reais, e suas estampas no elástico são, talvez, a única marca possível de ser mostrada quando se anda quase nu.
Os pêlos caíram em desuso pela mesma razão, eles escondiam os músculos, mas em pouco tempo os magros estavam sem eles também. A rede farmacêutica logo passou a vender produtos e acessórios para eliminá-los e centenas de clínicas de estética masculina são abertas todos os dias.
O que era um movimento solitário criou força e hoje é quase obrigatório. Em busca da vaidade e aceitação existem homens que criticam, severamente, outros homens que não se depilam.
A barba pode ser usada, desde que bem baixa e desenhada!
E quando menos se espera, lá estão os homens demorando de duas a três horas para se arrumarem antes de um evento qualquer, essa não era a principal crítica contra as mulheres?
Mas qual é mesmo o pente que te penteia?
Qual a razão de tudo isso? Mero modismo?
A artificialidade é uma resistência, quanto mais artificial mais é garantia de que se possuí dinheiro, de que se é diferente dos demais humanos e diferente também dos demais animais.
A ucraniana Valeria Lukyanova, conhecida como “mulher Barbie”, no início do mês declarou que a mistura racial tem deixado as pessoas mais feias e que por isso as pessoas procuram fazer cirurgias plásticas, que a culpa das pessoas nascerem cada vez mais feias era a miscigenação. Basta olhar quem é Valeria Lukyanova no Google para se dimensionar até aonde alguém chegaria por “perfeição” e vaidade, Michael Jackson até sem nariz ficou, essa ucraniana segue os passos do rei do pop.
A vaidade é perigosa porque escraviza. As mulheres, a custos colossais, deixam para um passado, uma vida regrada e cheia de obrigações ao passo que os homens adotam esse estilo de vida, escravidão por beleza e juventude. Não importa ser saudável, apenas importa parecer saudável. As academias estão repletas de homens “bombados” a base de muito hormônio, colocando em risco a própria vida, mas isso não importa, o que importa é parecer forte, saudável e jovem.
Aos poucos as mulheres perdem a vaidade escravicionista, e os homens agora que começaram por buscá-la.
É lenta a mudança no universo feminino, aos poucos vemos mulheres se libertando de certas amarras, mas a crescente no universo masculino traz para uma geração obrigações e deveres com a vaidade que está longe de atingir o pico para depois declinar.
Todos os fenômenos sociais crescem até atingir um máximo e depois o desgaste e necessidade de mudança levanta uma onda que transforma tudo, e passa a cair livremente.
O caminho que esse movimento toma é incerto e poderá ser passageiro, mas a vaidade vendida aos homens é a nova moda consumista. A demanda foi criada e agora se precisa manter a todo custo o aceleramento das vendas da beleza eterna e enlatada, para que a roda gigante de consumo mantenha-se em níveis frenéticos.
E aí é a pergunta inicial, qual é o pente que te penteia?
Quais as suas vontades, suas necessidades, seus prazeres?
Qual o pente que te penteia, quais as coisas que te agradam, quais os valores que te regem?
Até aonde chegaremos por vaidade.
Marlene
14 de abril de 2014
A mulher fez sua revolução que iniciou na década de 60…imaginei que a revolução masculina viesse a reboque, porque, para uma nova mulher um novo homem….Daí veio este golpe de estado dos metrossexuais…..quando a revolução chegará? Este Homem Duas Horas, vai encontrar parceiras a altura deles: gente supérflua, babaca, artificial e superficial….cada um tem seu par….
Como são boas as coisas simples, naturais e verdadeiras!!!
Evandro Mangueira
14 de abril de 2014
Oi Marlene, fico feliz que tenha contribuído com seu comentário, é verdade, dizem que para cada panela existe sua tampa, eu que não sou romântico acho que alguns nascem frigideira. Mas, a profundo, acho perigoso esse ritmo metrossexual que engaveta todos nós.
Eduardo Stella
14 de abril de 2014
Só tem um nome pra esse novo “ser” que surge.
É o FFF …
Fresco, Frustrado e Frívolo
Evandro Mangueira
14 de abril de 2014
O Duro Eduardo, é que não sou contra esse estilo, mas os exageros esses temos que notar que são ruins. Obrigado por participar.
Eduardo
14 de abril de 2014
Sabe de uma coisa? Lavo os cabelos com sabão de côco e não sinto falta alguma dessas perfumarias.
Posso dizrr que não me tornei nem menos ou mais por não seguir modas …
Evandro Mangueira
14 de abril de 2014
Eduardo, eu não tenho cabelos é verdade, mas lavo com sabonete. Mas as vezes eu me espanto com certos heterossexuais que perto de mim, eu fico parecendo um troglodita. (Em certa ocasião o Amstalden até comentou algo parecido) Mas, longe de mim criticar feminilidade de quem quer que seja, mas que essa moda da vaidade masculina é um fruto do mercado, isso eu não tenho dúvida1
Edu Pedrasse
14 de abril de 2014
Bom texto, hein Evandro?
Tema relevante.
Gostaria apenas de acrescentar que já rola por aí uma contra-moda (que não deixa de ser mais uma moda…) de “retorno ao natural”, observada principalmente nas mulheres: o não uso ou uso mínimo de shampoos, cosméticos, maquiagem perfumes etc…
Não sei essa onda tem a ver “liberação-feminina-aos-padrões-de-beleza-impostos” ou é descuido mesmo.
Só que sei que é brochante beijar uma menina em um festa e sentir que o cabelo dela – como diz meu irmão – está “cheirando passarinho”.
Evandro Mangueira
14 de abril de 2014
Eita Edu, é mesmo! Beijar gente fedida não é legal, e jamais eu pregaria algo desse tipo. Acontece é que ultimamente tem surgindo um endeusamento do corpo masculino. Isso é ruim! A contra regra surge sim, existe até uma propaganda de perfume que de intitula perfume para um homem em extinção.
Carla Betta
14 de abril de 2014
Parece que estamos em um momento da história dos costumes em que damos um passo para frente e três passos para trás.
Evandro Mangueira
14 de abril de 2014
Vivemos tempos estranhos!
Carla Betta
14 de abril de 2014
Edu, a questão importante é a imposição. São esses braços invisíveis que nos movem como marionetes e não permitem a diversidade, a individualidade. Condenados somos ao ostracismo, ao preconceito se não seguimos os modismos. Como se fôssemos robôs, impedidos de pensar. A outra questão se refere à devastação da natureza que os produtos cosméticos produzem. Existem produtos alternativos para não cheirar “a passarinho”. E deve haver quem goste deste aroma passarinheiro dentro da perspectiva da multiplicidade dos seres e da singularidade de cada um.
Evandro Mangueira
14 de abril de 2014
Carla, sei que falou muito sério no seu comentário, mas eu ri alto ao ler: ” E deve haver quem goste deste aroma passarinheiro “, pois não é que vc tem razão! Eu conheço gente que gosta desse cheiro!!! hahahhahahah Estou contigo amiga, devemos observar o que nos move, o que nos obriga! Obrigado por colaborar sempre com muita riqueza.
Edu Pedrasse
14 de abril de 2014
PALAVRAS QUE FICARÃO CUNHADAS EM BRONZE PARA ETERNIDADE
Um dos motivos pelo qual frequento – e escrevo – para esse Blog é que sempre dou muita risada.
Compartilhei com o Evandro a indefectível gargalhada sobre a sua citada expressão.
Cheguei a engasgar.
Nossa querida língua pátria permite a criação de torções conjuntivas das quais surgem verdadeiros monstros. Alguns extremamente saborosos. Como foi o seu.
Este, com certeza, irá para placa de bronze. E também passarei a usá-lo. Te pagando os devidos royalties.
Agora, pra quem for chegado no “aroma passarinheiro”, uso outras palavras do meu já citado irmão:
Tá afim?
Vai aí…
Evandro Mangueira
14 de abril de 2014
Seu irmão parece ser um sujeito bem esperto! Frases curtas e incisivas!
Carla Betta
15 de abril de 2014
Como eu sempre digo: a última flor do lácio é o must!!
Evandro Mangueira
15 de abril de 2014
Carla de quem é essa expressão? De Olavo Bilac?
Carla Betta
15 de abril de 2014
Evandro: “Última flor do Lácio, inculta e bela…” é do Olavo Bilac e o poema continua; só pesquisando no google, que decorei apenas essa expressão.
dralexandrepacheco
12 de maio de 2014
Grande texto Evandro! Parabéns!
Evandro Mangueira
12 de maio de 2014
Dr. Pacheco, obrigado.