Coluna do Totó. MUDANÇA DE ÉPOCA. Por Antônio Carlos Danelon

Posted on 30 de maio de 2014 por

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Coisa que pouco agüento é ver televisão, exceto alguns programas em canais educativos ou similares. Grosso modo, acho a programação da tevê comercial um saco. Respeito meu espírito, por isso evito expô-lo ao ridículo. O pouco que assisto já me deixa frustrado. A vida é curta, o tempo urge. O que a tevê mostra na tela prefiro descobrir na vida. Não que todos os programas sejam ruins. As pessoas gostam de ver TV. Existe muita coisa boa – ainda que de cunho tendencioso e conteúdo superficial.

De resto, temos novelas das três, cinco, seis, sete, nove, etc. Antes eram histórias de amor. Hoje exploram o lado podre do ser humano: sexo irresponsável, violência, vingança, traição, vadiagem e banalização da vida. Só no último capítulo o bem chega para botar ordem na bagunça e compensar a consciência dos que, com sua audiência, sustentam os lucros das emissoras. Tempo precioso jogado fora. Poderia ser aproveitado com boas leituras, no cuidado de si, na participação na vida dos filhos, no bate papo com os vizinhos e amigos e mesmo numa vida comunitária mais fecunda.

Nos programas de humor quem ri é a gravação. E os filmes? Em grande parte deles o revólver é ator principal. Tiro, sangue, explosão, fogo, carros voando, polícia, bandido, vingança; o diabo. Quem gosta deveria se preocupar. No fim chega o herói e resolve tudo se servindo da mesma violência que veio combater. O crime dá mais audiência que a virtude. Tanto que para deleite dos masoquistas, ridículos apresentadores teatralizam o que deveria nos envergonhar. Pintam um mundo bruto, quando dentro das casas está a violência maior.

Nos campeonatos de futebol, manda a poderosa Globo. Esvaziou os estádios empurrando noite adentro os horários dos jogos para que ao torcedor não reste escolha senão a tevê, donde vem seu lucro astronômico. “Globo e você, tudo a ver”. E como!

No entanto, a televisão é tida como membro da família, e a meu ver, ela reflete a sociedade em que vivemos. E no momento retrata o crepúsculo de uma época. Raros cada vez mais são os artistas de verdade, humoristas, cantores e compositores; atletas puros, políticos estadistas, cientistas altruístas e religiosos de referência. Até os bandidos de hoje são repugnantes. “Quando homens pequenos lançam grandes sombras, é porque a noite está chegando”. (Nathaniel Lee).

Protagonizamos o fim de uma época. Capenga o capitalismo, o comunismo morreu. A Europa se arrasta. Os EUA bebem do próprio veneno. A China devora a vida de seu povo por causa do dinheiro. Religiões não passam crédito. A Escola perdeu o rumo. O planeta está exausto. Cidades viraram arapucas. Governos são tomados pela corrupção. O sistema que repudia a solidariedade e valoriza os ‘espertos’ e inescrupulosos agoniza carcomido pela violência que gerou.

Estamos no limiar dum novo tempo. “Sinto entre os espinhos o perfume da rosa que está para desabrochar” (Santa Catarina de Sena). Segundo Einstein “Para a sobrevivência da humanidade vamos precisar de um modo de pensar inteiramente novo”. Mãos à obra, portanto. Chegou a hora. A nova época não cairá do céu. Será fruto de quem sabe ler os sinais dos tempos. Sucesso, riqueza, individualismo, poder, arrogância, autosuficiência, corrupção, carrões, condomínios fechados vão virar coisas desprezíveis, coisas de gente ultrapassada.

Ergamos a cabeça e abramo-nos para o novo que desponta no horizonte, pois “A fé é o pássaro que sente a luz quando o alvorecer ainda é noite” (Rabindranath Tagore).

Antônio Carlos Danelon, o Totó, é assistente social e assina esta coluna. totodanelon@ig.com.br

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