Era uma vez no facebook…
Ela comentou (e me marcou no facebook, para que eu lesse) uma foto postada na página do pré-candidato Aécio Neves. Nela, ele aparece recebendo o livro “1964 – O verão do golpe” de Roberto Sandler, das mãos do senador Randolfe Rodrigues, líder do PSOL. Em legenda, Aécio comenta:
“Gostaria de registrar o carinho com que recebi o livro “1964 – O verão do golpe”, de Roberto Sander, de um grande homem público, o senador Randolfe Rodrigues. Temos posições divergentes sobre várias questões, mas a presença de Randolfe, um homem culto e preparado, na vida pública, faz muito bem à democracia.”
E abaixo do comentário, a transcrição da dedicatória:
“Querido Aécio,
Este livro apresenta as habilidades de políticos que fazem e faziam da política a arte da paixão e da sensibilidade, entre eles seu avô. Isto em tempos de tormentas e autoritarismo. Que as benfazejas lembranças do passado nos inspirem, políticos do presente, para fazermos o melhor pelo Brasil. Brasília – DF, Outono de 2014, em 28 de maio. Randolfe Rodrigues”
Diadorim: (Riobaldo, olha aí aquilo que conversávamos hoje na sua casa…)E este é o comentário de um professor meu da pós, de onde eu compartilhei a foto. “O PSOL foi criado por petistas que pretendiam recuperar as antigas bandeiras da ética na política e do socialismo, que marcaram o PT em seus primeiros anos. Mas o PSOL vota na Câmara muitas vezes com o PSDB, e seu candidato a presidente, Randolfe Rodrigues, vive posando para fotos com políticos de direita. Boa convivência parlamentar vá lá, mas dirigir tantos afagos à direita, como Randolfe faz, parece exagerado. Esse cara não tem ideia do que representa a candidatura de Aécio Neves? Não sabe quais interesses representa o projeto de poder do PSDB e quais as suas implicações para o país? Não percebe que o PSDB nada tem a ver com um partido que se pretende de esquerda e socialista como o PSOL? Sinceramente, alguém consegue entender a postura de Randolfe? Ah, e esse negócio de ‘Outono de 2014’ não tem nada a ver com as tradições brasileiras. Isso aí é coisa de dedicatória de livro feita por gringo”. Wagner Iglecias.
Riobaldo: Então, Diadorim… Seria uma ironia do Randolfe? Quiçá. De qualquer modo, seria uma ironia fora de hora. Parece que o mais lógico, quando se fala em política no Brasil de hoje, é mesmo superarmos os supostos paradigmas esquerda x direta e partirmos para a compreensão das ações dos partidos e dos políticos. Quantas vezes as posturas de algumas esquerdas não se aproximam de posturas e pautas de direitas?
Só é possível a interpretação desse real, me parece, a partir de duas posturas: 1. A da Redução de danos (com quais posturas queremos dialogar, ainda que seus portadores não se comportem sempre como esperamos), 2. A compreensão das ações políticas dentro de uma teia de relações, porque o que alguém diz ser uma coisa, na prática se mostra outra.
O PT tem (e teve) inúmeras escorregadas, muitas extremamente desastrosas, mas curioso é que o mais óbvio dentre os erros do partido seja, mesmo, a continuidade dos erros do nosso passado (a política fisiológica − denominada “mensalão” −, por exemplo, sempre foi tradição da política brasileira). E o que se mostra mais curioso é que diante de tantos problemas, compartilhados com toda a classe política brasileira, essa caça ao PT esteja ganhando força. Ou ninguém mais se lembra dos escândalos da pasta rosa no governo FHC? Do escândalo das privatizações? O Maluf não é criminoso listado na Interpol? É! O mensalão do trem pelo PSDB não é muito maior do que o montante do tal “mensalão petista”? É (e nem foi a julgamento). E o helicóptero de cocaína? E… E… E…
Porque essa caça às bruxas agora? A quem interessa essa política de viralatismo sistemático capaz inclusive de confundir políticas orçamentárias, cobrando educação e não copa, quando os investimentos não são cambiáveis ou interligados? (Copa é investimento – mal gerido, é fato – a verba destinada à educação não tem nada a ver com isso).
Como disse prá você hoje, há uma síndrome monarquista no Brasil: acredita-se que o governo federal pode tudo e é responsável por tudo (votamos para presidente com a cabeça no Poder Moderador de D. Pedro II): enquanto o governo federal vira vidraça, os poderes locais (como prefeituras, vereadores, senado e câmara dos deputados) passam ilesos da sede pela suposta “justiça”. A câmara de vereadores de Piracicaba é exemplo clássico de feudalismo político, mas para o povo (daqui do facebook, principalmente) tudo parece ser uma mística culpa do PT.
A massa (que ESCOLHE ser ignorante nesse mundo da informação) se deixa levar pelas estultices, mas os líderes que governam as demais instâncias do poder bem sabem que uma inquisição petista serve para muita coisa: curiosamente para algumas esquerdas também.
Acho que a possibilidade é mais Foucault: ou a gente pensa nossa política mais genealogicamente, − roubando o título da obra do filósofo ao meu gosto − a partir de uma Microfísica do poder, ou a gente vira a massa de manobra facebookiana.
Entre os possíveis pareceres, fico com o “parece” do poeta e artista plástico Nuno Ramos. Ele não aponta um fim, mas um começo. O texto é poesia pura e política na essência.
Quem diria?
…Virá da poesia.
Leiam:
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/05/1460999-nuno-ramos-suspeito-que-estamos.shtml
Fábio M. Casemiro (Riobaldo)
& Diadorim.
Luiz Fernando R. Borges
2 de junho de 2014
Professor… é só uma foto de um político entregando um livro para outro político…
E a foto da conferência de Ialta entre os 3 chefes de Estado?
E o livro do Galeano que o Chavez entregou pro Obama?
Esses dois acontecimentos que te lembrei traduzem apenas que uma cordial convivência entre políticos. Apenas isso.
blogdoamstalden
3 de junho de 2014
Xará, o texto não é meu… Espero que o autor lhe responda. Abs.
Carla Betta
4 de junho de 2014
Em uma coisa concordo e nas outras, eu penso. Há uma campanha facebookiana, que vai além dessa rede social, CONTRA o PT: sem argumentação lógica, sem dados, apenas xingamentos, como se estivéssemos falando de times de futebol…
fabiocasemiro
4 de junho de 2014
Olá Caros….
Luiz Fernando Borges, (oi, sou o autor do texto…rs) Claro que a foto e o episódio que dele resulta mostra uma política de boa vizinhança e isso não indica necessariamente apoio ou vínculo político. Por outro lado, ela (a foto) é usada como mote, como ícone ou símbolo que motiva o texto para pensarmos sobre o limite esquerda X direita no Brasil e no mundo hoje.
O objetivo do texto não é julgar ou tampouco condenar os políticos pela foto “fofa”…rs, mas sim tentar desconstruir a política cotidiana em sua linguagem dual (esquerda X direita) e tentar propor um raciocínio (“rizomático”, talvez?) que visa compreender como forças aparentemente opostas podem sair para bailar, juntinhas, mediante determinado contexto político. Outros indícios e ações, para além da foto, apontam para tais ações em nosso cotidiano político.
De outro lado, minha experiência no estudo da linguagem (e com ela a política) sempre me faz pensar melhor sobre as coisas que se apresentam despretensiosas… Apenas uma foto, apenas um abracinho, apenas um tapinha…. O mundo da linguagem parece as vezes mostrar que para além do “apenas”- a duras penas – há penas! …rs
Carla Betta… Acho isso também. Nossa política é futebolística. Não se avalia uma proposta política ou um projeto: torce-se para que o partido passe das semi-finais. Será por isso que brocharam com a copa? Já estão torcendo – e fazendo Holas – no campo da política???
Quem sabe?!
Abraços a todos.
Obrigado pela leitura e pelos comentários!
Fábio Martinelli Casemiro