Ronaldão tem alguma razão ao dizer que Copa não se faz com hospitais, afinal melhor seria se nunca deles precisássemos. Embora necessários, melhor um país cheio de estádios que de hospitais. Hospital lembra doença. Claro que arenas não precisam custar tanto. Antes, estádios eram ruis e os jogadores bons. Hoje, os atletas são previsíveis; a arena chama mais atenção que o jogo. Se depender da FIFA países pobres nunca poderão ter Copa. “A FIFA (em minha opinião uma organização mafiosa) só pensa nos lucros e não no interesse dos países, das pessoas e do futebol. Virá o dia em que, tirando países que queiram vitrine, mais nenhum governo sério aceite sediar no seu país um mundial com tal caderno de encargos e exigências”. (Miguel Sousa Tavares. Folha 25.05.14).
Voltando ao assunto, mais que todos os métodos preventivos criados pela medicina, o esporte é o melhor meio para se ter corpo sadio e mente sã. Ele modela o físico, tempera o caráter, regula as paixões; forma a personalidade, incentiva o companheirismo, a lealdade e a cooperação. Já vi mais gestos de solidariedade dentro de estádios que dentro de igrejas.
Infelizmente uma bola custa mais caro que drogas e bebidas. No entanto uma só delas é suficiente para entreter de forma saudável dezenas de crianças, adolescentes e jovens durante horas. Além disso, bola ensina disciplina, limites, regras; ganhar, perder e repartir. Nossos governantes já deveriam ter percebido a força do desporto e das atividades lúdicas no combate à criminalidade. Em cada bairro das nossas cidades precisa ter centros poliesportivos, com material em grande quantidade. Em vez de mais médicos e policiais, mais treinadores e professores de Educação Física. Menos presídios e mais quadras, campos e piscinas.
A bola já fez parar guerras, como o Santos de Pelé na Angola e como a seleção brasileira no Haiti. Ela tem mais poder que armas. No lugar de mísseis e bombas, bolas o mundo deve fabricar. No lugar deexércitos, times de todas as modalidades, para todas as idades e para todas as classes devemos formar.
Os EUA, por exemplo, têm o exército mais poderoso e a moeda mais forte do planeta, porém, não têm sossego e são mal vistos no mundo todo porque se impuseram pelas armas, violência, exploração e disseminação de cultura consumista. Nosso dinheiro não é forte, nosso PIB é pequeno e nosso exército é modesto. No entanto, somos bem recebidos em qualquer parte do globo porque tivemos os melhores atletas do mundo, e foram eles nossos embaixadores.
A Copa do Mundo está no Brasil. Com toda a razão protestamos contra o ganho exagerado de cartolas, jogadores, emissoras de TV e contra o escandaloso custo das arenas – onde irmãos nossos foram sacrificados. Mostramos ao mundo que em nosso país direitos fundamentais ainda não são respeitados, que governantes são corruptos e omissos, e isso não vai ficar assim. Porém, o momento é de paz. Que façamos desse encontro universal um novo Pentecostes a unir povos, línguas, costumes e nações. Abramos portões e corações. Juntemos familiares, vizinhos, amigos e o povo da rua e façamos a festa. Muitos de nós não terão de novo essa oportunidade.
Olhemos para cima. Deus encheu o Universo de bolas de todos os tamanhos e cores; elas flutuam harmonicamente no espaço sem fim. Só por essa obra deveríamos cheios de encantamento dobrar os joelhos. Ele é o maior dos atletas, e joga todos os dias. Tanto que, por “detrás dos montes, de manhã chuta o sol e de noite chuta a lua” enchendo nossos corações de luz, calor e benquerença.
augusto sousa
23 de junho de 2014
Grande texto, Totó.
Em que pese a agradável leitura desse texto, tomo a liberdade de, a título apenas de participação, levantar alguns pontos.
Quando diz que drogas e bebidas são mais baratas que bolas, levo-me a pensar que uma bola apenas envolve duas dezenas de jovens durante uma tarde de sol, por exemplo. Como pode ser mais caro caro que drogas?. A diferença está em que as bebidas ou drogas são compradas com o próprio dinheiro, enquanto ficamos esperando do governo ou de alguma entidade assistencial as bolas.
Tudo que foi dito sobre o esporte em geral, tenho convicção que se aplica em particular ao futebol. Esse estranho esporte onde se vê vinte e dois jogadores atrás de uma bola, durante uma hora e meia, com pouquíssimo sucesso, em geral, apaixona mais pessoas no mundo que todos os outros esportes juntos. A audiência de uma copa do mundo de futebol é maior ou igual à das olimpíadas com suas dezenas de esportes e atletas. Portanto só esse mágico e estranho esporte chamado futebol pode parar guerras.
E, por fim, me pergunto qual a razão de se criticar os EUA, sempre que há uma oportunidade. Isso me parece algo ditado por cartilhas pré escritas. Dizer que eles se impuseram pelas armas é um olhar enviesado. Que tal lembrarmos das invasões russas em Praga, na Crimeia ou ainda as exportações de guerrilhas por Cuba, financiadas pela URSS.
Enfim, um bom final de copa de futebol.
Antonio Carlos Danelon - Totó
23 de junho de 2014
Valeu, Augusto. Suas observações muito enriquecem o debate. Quanto à bola falo em sentido figurado, pois uma pedra de crack custa entre dois e 5 reais. Uma bola das bem chulepas custa 15. Quanto aos EUA parece que a industria bélica tem grande peso nas eleições presidenciais, o que não é bom. O americano gosta tanto de armas que pais dão rifles para filhos. Em vez de mandar para o Iraque – que eles invadiram em busca de armas químicas nunca encontradas – 300 especialistas em diálogo e pacificação para reparar o mal que fizeram no país, vão mandar 300 estrategistas de guerra. Ora, nunca vi corrigir violência com mais violência ainda. Obrigado por ler lido, gostado e comentado o texto. Fico muito grato.
automante
25 de junho de 2014
Caro Antônio,
Muito obrigada pela resposta e contra argumentos, o que seria da humanidade se todos concordassem, não é mesmo? Parece que o senhor tem bastante experiência e já passou por vários lugares do mundo. Assumo que fiquei um pouco chateada com o jeito que o senhor se colocou fazendo julgamentos/achismos da minha pessoa sem nem mesmo me conhecer
“Anna Carolina, você parece ser mais uma das pessoas que protestam sem sentido ou talvez seja uma brasileira com complexo de vira-lata”; “Você deve estar sem informações para ter escrito o que escreveu. “; “Como parece que não lê nada da imprensa internacional”. Aceito e faço questão que me questione, mas não precisa fazer afirmações sobre mim.
Não digo que sou a jovem mais informada do mundo, mas sim leio bastante. Talvez eu não leia as mesmas fontes que você. Como o senhor pode ver o meu texto foi muito mais apelativo ao emocional, do que ao racional. O fato de o meu CORAÇÃO estar frio, da minha pessoa não ter vontade de torcer devido aos fatos que veem ocorrendo aqui no Brasil.
Em nenhum ponto eu cheguei a comparar o Brasil com Espanha, França, Atenas e muito menos a Europa em si porque acredito sim que cada país tem seus problemas e realidades, povos e culturas.
Respeito totalmente se o senhor está satisfeito com os índices brasileiros, a educação brasileira e os centros de saúde 24h. Eu não estou. Acredito que a Dilma ajudou muito as classes mais humildes, mas não soube planejar. Tudo deve ter um prazo. O poder de consumo do Brasil aumentou, mas será que a oferta também? Mais brasileiros tem carro, mas será que temos rodovias suficientes para isso?
Do que adianta dar dinheiro aos brasileiros se nem pagar a taxa de inscrição do vestibular eles conseguem? Ou não querem, pois sabem que dificilmente vão passar. E não, eu não sou contra o Bolsa Família só acho que ele foi muito mal planejado. E planejamento, na minha opinião, é essencial para um plano/meta obter sucesso.
Entenda como quiser, mas em nenhum momento eu disse para as pessoas mudarem os números na hora de votar, simplesmente disse para elas prestarem atenção.
E, sim, a Copa pode trazer investimentos, dinheiro e “melhorias” no Brasil, mas eu não acredito vale a pena dar um “aeroporto reformado” ao brasileiro se malemá ele consegue viajar de avião.
Acredito sim, que antes de pensar em Copa devemos cuidar da EDUCAÇÃO e ela sim pode resolver mais da metade de nossos problemas. Porém, quem tem EDUCAÇÃO tem conhecimento e quem tem conhecimento tem PODER. E o governo morre de medo de dar poder ao povo.
Achei seus argumentos muito pertinentes e me instigaram a cada vez mais ler e me informar. Só acho que da próxima vez o senhor pode mostra-los sem se referir/julgar a minha pessoa, como fiz aqui nesse comentário.
Como podemos ver, temos opiniões diferentes.
Muitos dizem que o futebol não tem a ver com isso, mas sim os jogadores tem culpa. Nós temos culpa. Todo cidadão brasileiro tem culpa. Culpa de não cobrar, de aceitar, de não questionar. Precisamos para de nos justificar e começar a agir. Seja fazendo a sua parte ou se informando antes de votar.
Sou muito otimista em relação a tudo, mas acho que do jeito que está não dá mais para ficar.
Totó
25 de junho de 2014
Calma pessoal, vamos precisar de todo mundo.