A força e o futebol. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 9 de julho de 2014 por

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festa da copa

Em época de Copa é assim. Bandeiras hasteadas, carros enfeitados, ruas decoradas, camisas da seleção e muita gente mobilizada. Se a Seleção vence há festas, carreatas, gritos e euforia. Se perde um silêncio de cemitério cai sobre as cidades. Seja o que for, o que está ativada é uma imensa força social, um engajamento coletivo que eletriza e move a sociedade. Mesmo para alguém que não é fã de futebol e não confia em esportes profissionais, como eu, é um espetáculo que emociona. A mim, no entanto, emociona mais pelo potencial que está presente nesta festa do que pela Copa em si. Ocorre que se somos capazes de tamanha movimentação por jogos de futebol, penso que também o somos para assuntos mais sérios, mais relevantes.

Imagine, por exemplo, se conseguíssemos um terço, apenas um terço, dessa energia e dessa mobilização para escolher um candidato político? Se um terço desta paixão fosse usada para nos informar sobre políticas públicas com a mesma intensidade com que nos informamos sobre a escalação da Seleção? Se parte do nosso entusiasmo pelos jogos se convertesse em ação de indignação pelos desmandos da política? Mais ainda, imagine se usássemos a mesma capacidade de mobilização para as festas a fim de cuidarmos de algo coletivo? Já pensou o mesmo entusiasmo para limpar uma rua, fazer um mutirão para ajudar alguém ou a algum grupo, para arrumar soluções para nosso quotidiano comum? Posso estar errado, mas acho que se fôssemos capazes disto, resolveríamos tantas coisas. Acho que conseguiríamos realmente uma política séria, honesta, porque simplesmente estaríamos mobilizados para vigiar os políticos e protestar quando fosse o caso. Também penso que algumas coisas como as infestações de dengue estariam superadas, assim como alguns outros problemas ambientais, como a falta de árvores ou a falta de cuidado para com elas. Que pessoas que agora estão desamparadas, poderiam ser ajudadas e resgatadas pelo nosso esforço coletivo. Penso, enfim, que poderíamos mudar muito do nosso mundo.

Claro, estudei o suficiente para entender que não é assim tão simples. O futebol é rápido e é uma diversão, ao passo que outros assuntos que exigem mobilização são muito mais complicados e nem sempre divertidos. Mas, por outro lado, a vitória em alguma coisa sempre é muito prazerosa. Se ficamos felizes por uma vitória na Copa, não ficaríamos ainda mais por uma vitória na moralização do poder público? Aliás, o que ganhamos com a Copa? O “orgulho” de podermos afirmar que somos “hexacampeões”? Isso é praticamente nada. Mas se ganhamos uma disputa pela melhora da sociedade, ganhamos um benefício duradouro, para muito além da euforia da vitória no futebol. Ganhamos algo que efetivamente vai mudar nossas vidas. Sei também que existem mais obstáculos. A Copa é simples, somos “nós contra eles”, ao passo que quando se trata de organização social e política, o “outro” não é tão claro. Ele não veste uniforme e, ao contrário, muitas vezes parece até jogar ao nosso lado, como é o caso de muitos políticos que conheço. Estabelecer esta diferença, construir esta percepção não é tarefa fácil, mas é muito mais necessária do que ser o “detentor” de um título que durará quatro anos…

No fundo, o que vejo, é que o futebol desperta uma imensa energia social e este despertar nos demonstra que tal energia existe, está aí e pode ser usada para outras coisas. Trata-se de redescobrirmos o sentido de sermos uma comunidade, coisa que, infelizmente, parece que só percebermos uma vez a cada quatro anos e olhe lá.

Quando você ler este artigo, o Brasil estará prestes a jogar uma partida decisiva, se o ler no jornal. Se ler no Blog, já estaremos na final ou eliminados. Seja qual for o resultado, lembre-se da energia, do entusiasmo que foi capaz de ter nos jogos e reflita um pouco se não é possível ter o mesmo entusiasmo para nos mobilizarmos para outros projetos mais importantes. Afinal, ganhando ou perdendo a Copa, o que isso terá mudado a sua vida?

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