Meu corpo minhas regras, gosto muito desse slogan da Marcha das Vadias, regras fazendo referência à menstruação, algo tão característico da mulher, e ao mesmo tempo opondo-se a ditadura de regras criadas para elas pela sociedade.
A menstruação leva, todos os meses, um óvulo para o esgoto. Uma célula tão pequena que ninguém considera muito, na verdade, ali, junto com o sangue encontra-se o princípio da vida.
A célula que a mulher é capaz de gerar traz consigo uma característica: o gameta X.
O homem é quem produz o espermatozóide, uma célula com mobilidade ativa, capaz de nadar livremente, e que tem por característica os gametas X ou Y.
A vida surge quando essas duas células se encontram.
Mas, onde exatamente, começa a vida?
Segundo algumas religiões a vida começa no momento da fecundação, talvez antes mesmo da fecundação;
Para alguns, só existe vida de fato quando a criança desenvolve cérebro, afinal os anencéfalos, dificilmente, sobrevivem fora do útero (os que sobrevivem não passam de dias, existem casos excepcionais que duraram meses), tanto que em 2012 o Supremo Tribunal Federal decidiu que abortos nesses casos é legal, ou seja, um direito da mulher.
É inegável que um broto ou rebento (semente fecundada) é vida, mesmo não estando na terra, mesmo morrendo por falta de nutrientes, tempos depois. Portanto, não podemos nos prender aos argumentos de que vida está relacionada à independência, que só após o parto ocorre à vida, embora, e definitivamente, esse argumento sirva para localizar até que ponto vai o direito da mulher, ele não deve ser usado em casos como o aborto. Vejamos:
Em caso de risco na hora do parto, a mulher tem prioridade de socorro, ou seja, entre a vida da mãe e a da criança, os médicos optam pela da mãe.
Se entrarmos no campo filosófico, poderíamos dizer que a vida surge no momento do desejo dos pais, quando os pais programam ter filho. Isso porque a criança, fruto do desejo, já existe em suas mentes e em seus planos e esses já se sentem pais e amam a criaturinha que ainda nem foi fecundada, dando-lhe vida antes mesmo da existência.
Lembro de um caso, uma amiga que tentava ter filho. A cada menstruação que atrasava ela se esperançava, mas quando regularizava, ela chorava como se o sangue que lhe escorria fosse o próprio aborto. É evidente nesse caso, que para ela a criança já existia logo após o gozo concedido do marido ao seu útero, a vida idealizada já se fazia presente.
Para falarmos sobre o aborto, é necessário desprendermos do conceito de vida, isso porque para se falar sobre direitos, em alguns casos, a vida não é inviolável, não é objeto que define de fato o direito, exemplos:
É crime um cidadão matar outro, desde que não seja em legítima defesa, logo, em legítima defesa pode-se tirar o direito da vida de outra pessoa;
É crime o Estado matar, mas em caso de risco de vida de inocente ou risco de vida do agente do Estado (policiais e afins) é legitimo, isso sem falar em pena de morte em diversos países.
O direito a vida não é um direito inviolável! Estamos sujeitos a morte por outrem ou pelo Estado e de forma legal, tudo dentro da lei! Portanto, a vida é um direito, mas não um direito inviolável.
O que precisa ser analisado quando se fala em aborto são as circunstâncias:
Gostando ou não a prática de aborto já ocorre, em clínicas clandestinas que colocam em risco a saúde e a vida da mulher. Essa prática produz um custo gigantesco para a saúde pública, em caso de erro médico ou de danos permanentes para a mulher e/ou para o feto que venha a sobreviver. Quem paga a conta é a saúde pública.
As mulheres mais ricas fazem tais procedimentos fora do país, nesse caso violamos um direito igualitário, permitimos mais uma vez que aqueles que detêm o dinheiro estejam acima do bem e do mal e, principalmente, acima das leis que regem essa pátria.
Defendo a vida em quase todas as circunstâncias, mas precisamos ter carinho ao olhar para alguns casos:
Em caso de estupro, não imagino que alguma mulher consiga manter tal gestação sem ter severos prejuízos emocionais e psíquicos, além disso, uma gravidez indesejada atrapalhará todos os planos profissionais e acadêmicos da vida dessa mulher, vítima de tal ato.
Ainda existe o campo ético, lembro de um caso de sexo induzido, uma menina de 13 anos era vítima de abusos sexuais cometidos pelo próprio pai, ficando grávida teve que recorrer à justiça para que o aborto fosse praticado, e esse por sua vez foi negado, tudo na forma da lei.
E quando a gravidez é indesejada, por questões financeiras, questões religiosas, prioridades pessoais ou outras que venham a fazer parte da vida da mulher, seria o caso de direito da mulher ou do feto prevalecer?
Acredito que o aborto precisa ser visto com um olhar mais humano.
A vida é a prioridade, mas a vida de quem? Da mulher ou do nascituro?
O aborto deve ser legalizado para que os procedimentos sejam feitos de forma sanitária, sem prejuízo para a sociedade, mas antes de darmos tal direito às mulheres, a sociedade deve se reorganizar, modificar valores. As pessoas precisam de avaliações psíquicas antes de decisões tão drásticas e profundas.
Não creio que estamos preparados para lidar com a liberdade plena de escolhas, mas precisamos, imediatamente, tomar esse rumo.
O direito da mulher prevalece sobre o direito do nascituro.
Carla Betta
4 de agosto de 2014
A premissa fundamental se equivoca o corpo não é da mulher , o corpo é do feto. Pelos programas de TV importados, embora não os assista de fato, mas dou uma “passada de olhos”, podemos ver adolescentes (e provavelmente haja adultas também) que doam seus filhos para adoção, uma alternativa viável para o aborto. Penso ser muito perigoso afirmar que a vida não é inviolável, as consequências dessa afirmação são desastrosas. O que seria mais apropriado? Legalizar o aborto? Ou distribuir anticoncepcionais gratuitamente? E fazer uma campanha educativa eficiente? Quanto à pobre menina de 13 anis tão franzina encaixa-se, a meu ver, no caso em que a gravidez representa risco de morte para a mãe. Além disto, meus princípios filosóficos-religiosos argumentam contra o aborto.
Evandro Mangueira
4 de agosto de 2014
Oi Carla, você tem razão, a vida é do feto, a gravidez é de ambos, mãe e feto. Gostaria, profundamente que a vida fosse inviolável, mas essa não é a realidades das leis, a pena de morte existe em diversos países, e no Brasil existem brechas na lei que permitem matar. Quanto ao direito de tirar a vida não é uma opinião minha, é uma fatalidade do Estado. Creio, e acho que seria bom pra humanidade, se soubéssemos usar os meios anticonceptivos, mas até mesmo esses, alguns são contra por considerar assassinato.
Antonio Carlos- Totó
4 de agosto de 2014
Evandro, sua argumentação é bem fundamentada e lógica. Porém, não há argumento algum que justifique a morte. Se somos capazes de gerar vida saibamos nos responsabilizar por ela.
Evandro Mangueira
4 de agosto de 2014
É verdade meu amigo, temos que responsabilizar. Alias, diferente da culpa tão comum nas religiões, eu gosto da palavra responsabilidade.
Carla Betta
4 de agosto de 2014
A vida é inviolável! Se as leis não respeitam a vida, que se mude as leis; se as armadilhas da lei violam a vida, que se reforme essas brechas e tampem-nas. Um erro não justifica o outro. Como na maioria das situações precárias do nosso país, a resposta mais eficiente é a educação e a prevenção. Mas, o direito à opinião é todo nosso.