Segura que o filho é teu.

Posted on 4 de agosto de 2014 por

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aborto (1)

 

Meu corpo minhas regras, gosto muito desse slogan da Marcha das Vadias, regras fazendo referência à menstruação, algo tão característico da mulher, e ao mesmo tempo opondo-se a ditadura de regras criadas para elas pela sociedade.

A menstruação leva, todos os meses, um óvulo para o esgoto. Uma célula tão pequena que ninguém considera muito, na verdade, ali, junto com o sangue encontra-se o princípio da vida.

A célula que a mulher é capaz de gerar traz consigo uma característica: o gameta X.

O homem é quem produz o espermatozóide, uma célula com mobilidade ativa, capaz de nadar livremente, e que tem por característica os gametas X ou Y.

A vida surge quando essas duas células se encontram.

Mas, onde exatamente, começa a vida?

Segundo algumas religiões a vida começa no momento da fecundação, talvez antes mesmo da fecundação;

Para alguns, só existe vida de fato quando a criança desenvolve cérebro, afinal os anencéfalos, dificilmente, sobrevivem fora do útero (os que sobrevivem não passam de dias, existem casos excepcionais que duraram meses), tanto que em 2012 o Supremo Tribunal Federal decidiu que abortos nesses casos é legal, ou seja, um direito da mulher.

É inegável que um broto ou rebento (semente fecundada) é vida, mesmo não estando na terra, mesmo morrendo por falta de nutrientes, tempos depois. Portanto, não podemos nos prender aos argumentos de que vida está relacionada à independência, que só após o parto ocorre à vida, embora, e definitivamente, esse argumento sirva para localizar até que ponto vai o direito da mulher, ele não deve ser usado em casos como o aborto. Vejamos:

Em caso de risco na hora do parto, a mulher tem prioridade de socorro, ou seja, entre a vida da mãe e a da criança, os médicos optam pela da mãe.

Se entrarmos no campo filosófico, poderíamos dizer que a vida surge no momento do desejo dos pais, quando os pais programam ter filho. Isso porque a criança, fruto do desejo, já existe em suas mentes e em seus planos e esses já se sentem pais e amam a criaturinha que ainda nem foi fecundada, dando-lhe vida antes mesmo da existência.

Lembro de um caso, uma amiga que tentava ter filho. A cada menstruação que atrasava ela se esperançava, mas quando regularizava, ela chorava como se o sangue que lhe escorria fosse o próprio aborto. É evidente nesse caso, que para ela a criança já existia logo após o gozo concedido do marido ao seu útero, a vida idealizada já se fazia presente.

Para falarmos sobre o aborto, é necessário desprendermos do conceito de vida, isso porque para se falar sobre direitos, em alguns casos, a vida não é inviolável, não é objeto que define de fato o direito, exemplos:

É crime um cidadão matar outro, desde que não seja em legítima defesa, logo, em legítima defesa pode-se tirar o direito da vida de outra pessoa;

É crime o Estado matar, mas em caso de risco de vida de inocente ou risco de vida do agente do Estado (policiais e afins) é legitimo, isso sem falar em pena de morte em diversos países.

O direito a vida não é um direito inviolável! Estamos sujeitos a morte por outrem ou pelo Estado e de forma legal, tudo dentro da lei!  Portanto, a vida é um direito, mas não um direito inviolável.

O que precisa ser analisado quando se fala em aborto são as circunstâncias:

aborto

 

Gostando ou não a prática de aborto já ocorre, em clínicas clandestinas que colocam em risco a saúde e a vida da mulher. Essa prática produz um custo gigantesco para a saúde pública, em caso de erro médico ou de danos permanentes para a mulher e/ou para o feto que venha a sobreviver. Quem paga a conta é a saúde pública.

As mulheres mais ricas fazem tais procedimentos fora do país, nesse caso violamos um direito igualitário, permitimos mais uma vez que aqueles que detêm o dinheiro estejam acima do bem e do mal e, principalmente, acima das leis que regem essa pátria.

Defendo a vida em quase todas as circunstâncias, mas precisamos ter carinho ao olhar para alguns casos:

Em caso de estupro, não imagino que alguma mulher consiga manter tal gestação sem ter severos prejuízos emocionais e psíquicos, além disso, uma gravidez indesejada atrapalhará todos os planos profissionais e acadêmicos da vida dessa mulher, vítima de tal ato.

Ainda existe o campo ético, lembro de um caso de sexo induzido, uma menina de 13 anos era vítima de abusos sexuais cometidos pelo próprio pai, ficando grávida teve que recorrer à justiça para que o aborto fosse praticado, e esse por sua vez foi negado, tudo na forma da lei.

E quando a gravidez é indesejada, por questões financeiras, questões religiosas, prioridades pessoais ou outras que venham a fazer parte da vida da mulher, seria o caso de direito da mulher ou do feto prevalecer?

Acredito que o aborto precisa ser visto com um olhar mais humano.

A vida é a prioridade, mas a vida de quem? Da mulher ou do nascituro?

O aborto deve ser legalizado para que os procedimentos sejam feitos de forma sanitária, sem prejuízo para a sociedade, mas antes de darmos tal direito às mulheres, a sociedade deve se reorganizar, modificar valores. As pessoas precisam de avaliações psíquicas antes de decisões tão drásticas e profundas.

Não creio que estamos preparados para lidar com a liberdade plena de escolhas, mas precisamos, imediatamente, tomar esse rumo.

O direito da mulher prevalece sobre o direito do nascituro.

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