Apesar de bom emprego e salário, morar num condomínio chique, viajar dentro e fora do país, ter dois lindos filhos – um deles se formando em Medicina – carro de luxo e beber vinho importado, dizia que o Brasil está uma merda. Apesar de boa pessoa, cospe no prato onde come. Não valoriza o país maravilhoso que tudo lhe deu.
Outro morou nos Estados Unidos durante vinte anos, onde fez sucesso como pedreiro. Conheceu também a Europa. Não ficou rico, mas observou e aprendeu muito. Resolveu voltar de vez para o Brasil. Dizia não haver país tão bom quanto o nosso.
A meu ver o Brasil melhorou. Já não vejo tanta miséria. Somos uma respeitada nação. O acesso aos ensinos técnico superior se ampliou. Melhoraram as condições de crédito para classes populares. Acesso mais amplo à casa própria. O investimento em infra-estrutura tem sido mais efetivo e a corrupção menos tolerada. Há muito por fazer; mas apesar de tantos problemas somos melhores que fomos ontem.
Contudo, um sentimento negativo toma conta da nação. No entanto, quando pergunto em quê a vida piorou ninguém sabe responder; pelo menos até o momento ninguém disse não ter melhorado. Meu vizinho nordestino – um vencedor – dificilmente visitava seus parentes por causa dos três a quatro dias de estrada. Agora vai de avião. Que felicidade! Quando os “pobres” chegaram, a classe alta – em vez de acolhê-los – perguntou se os aeroportos tinham virado rodoviária.
Na abertura da Copa do Mundo vimos “a lição de incivilidade e falta de respeito [com a presidente] que partiram de representantes da parcela mais privilegiada do país”. (Eliane Trindade. Folha 14.06.14). Afinal “Copas não são para o povão, mas apenas para quem pode pagar caro por um ingresso nos novos estádios erguidos a preço de ouro”. (Juca Kfouri idem). Reclama de quê essa gente privilegiada num país aonde nem direitos fundamentais chegaram a todos?
Como disse Contardo Calligaris: “Quem quer mudar as coisas facilmente se esquece de contar-se entre os itens a serem mudados”. A maioria faz do governo sua lata de lixo. Acham política coisa suja, mas querem que os políticos resolvam os problemas. “O maior castigo para quem não gosta de política é ser governado pelos que gostam. (Arnold Toynbee). O compromisso cidadão de muitos se resume em apertar o botão da urna e voltar para a arquibancada, donde vomitam impropérios. Segundo Abraham Lincoln “Tem direito de criticar aquele que tem coração para ajudar”.
Evito pessoas que não vão além de detonar políticos – apesar de muitos merecerem – porém, estão nem aí com os problemas da própria cidade, rua e bairro; nem mesmo da escola onde estudam os filhos. De suas casamatas nem com os vizinhos querem papo. Nunca estão entre os que lutam para melhorar as coisas. Aceitam e repassam desinformações e ranços que grassam a internet. Imediatistas, acreditam ser uma pessoa ou partido capaz de melhorar uma sociedade corrupta e injusta desde seu nascimento; ainda contaminada pelo individualismo, ganância, comodismo, interesses pessoais e corporativos. Devem ter visto muito filme americano ou desenho animado, aonde super-heróis resolvem tudo sozinhos. Ainda não perceberam que os avanços sociais no Brasil não são concessões das elites, mas conquistas populares.
“O Brasil, confio, tem plena condição de reerguer-se e reencontrar o senso de direção. A virada, contudo, jamais virá de moto próprio ou graças à milagrosa conversão e súbita boa vontade do nosso patronato político. Ela virá de baixo para cima e de fora para dentro. Ela virá da nossa participação”. (Eduardo Gianetti, economista. Folha 22.08.14).
“É fácil dizer que ‘a culpa é de fulano‘, mas eu que faço? Trabalhar para o bem comum é um dever do cristão!”. (Papa Francisco).
Eloah Margoni
15 de setembro de 2014
É verdade, é nosso papel lutarmos pela melhoria de onde vivemos ( bairro, cidade, Estado, país; aliás, mesmo que estejamos em outro, pois a melhor coisa para a alma é ser-se realmente “cidadão do mundo”)! Quanto ao Brasil, muitas coisas boas temos; pena que o desenvolvimentismo predador (pontos comuns dos grandes partidos políticos e governantes atuais) nada podem trazer de bom. É só observarmos os eventos extremos aos quais estamos submetidos. A economia dos Estados não poderá suportá-los. Quem viver, verá.
fabiocasemiro
17 de setembro de 2014
Rapaz…. vc tocou no ponto!!! Engraçado, não? Os caras de barriga cheia, usufruindo o que conquistaram graças a eles (e as oportunidades que tiveram no Brasil) e aí dizem que tudo está ruim.
Quando perguntamos porque, ninguém explica direito: falam que a “economia” (conceito tão genérico quanto “o governo”, “os políticos” ou “o sistema”) vai mal….
Acabei de falar com uma ex-orientanda de graduação: ela quer ir a Portugal estudar, mas a crise lá não permite que ninguém consiga nenhum trabalho!!!! E aqui, todo mundo comprando, trabalhando, etc….
Quando insistem no “isso tá uma merda” (depois do canapé de caviar e um copinho de Buchanan’s) a justificativa nunca é: “vejo pessoas na miséria, vejo pessoas passando fome, vejo injustiças dentro e fora das prisões”….
… Ou seja: tá ruim prá muitos, claro! Há muito que melhorar e ainda há muita injustiça e fome e inacessibilidade aos serviços básicos como educação e saúde… Mas não é isso que incomoda…
… o que incomoda é ver o “pobre” de bermudas no avião…..
… o que incomoda é a ciclovia (eles estão sendo obrigado a “ir de bici”?)
… o que incomoda é o bolsa família (que vergonha! Querendo tirar de quem não tem!)
Confesso…
Apesar de tudo, ainda gosto do governo do PT:
Incomoda quem tem que ser incomodado!
Ótimo texto! Parabéns!
Fábio H.
Totó
20 de setembro de 2014
Eloah e Fábio, obrigado por lerem e comentarem o texto. Cada um de nós deve assumir responsabilidades na construção de uma nação mais madura. Quanto ao governo, penso que se os abonados não gostam dele é porque está indo no rumo certo.
Evandro Mangueira
22 de setembro de 2014
Pois é, sempre achei o Brasil um país democrático e lindo (com falhas pontuais), não consigo imaginar o porquê de tanto pessimismo apocalíptico com relação ao Brasil.
Fernando Retamero
2 de outubro de 2014
Brilhante mais uma vez Toto, tenho sempre dito que precisamos cuidar do nosso “entorno” primeiramente, e depois ir expandindo, irradiando para nossa vizinhança, bairro, cidade, estado, etc.
Realmente muito se tem a melhorar, mas não se tem vontade política para isso, ainda existe uma forte tendência ditada pelo poder econômico que não quer dividir, não quer se misturar.
Realmente tem muita gente cuspindo no prato que come. Abraço!