Coluna do Totó. CUSPINDO NO PRATO

Posted on 14 de setembro de 2014 por

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Apesar de bom emprego e salário, morar num condomínio chique, viajar dentro e fora do país, ter dois lindos filhos – um deles se formando em Medicina – carro de luxo e beber vinho importado, dizia que o Brasil está uma merda. Apesar de boa pessoa, cospe no prato onde come. Não valoriza o país maravilhoso que tudo lhe deu.

Outro morou nos Estados Unidos durante vinte anos, onde fez sucesso como pedreiro. Conheceu também a Europa. Não ficou rico, mas observou e aprendeu muito. Resolveu voltar de vez para o Brasil. Dizia não haver país tão bom quanto o nosso.

A meu ver o Brasil melhorou. Já não vejo tanta miséria. Somos uma respeitada nação. O acesso aos ensinos técnico superior se ampliou. Melhoraram as condições de crédito para classes populares. Acesso mais amplo à casa própria. O investimento em infra-estrutura tem sido mais efetivo e a corrupção menos tolerada. Há muito por fazer; mas apesar de tantos problemas somos melhores que fomos ontem.

Contudo, um sentimento negativo toma conta da nação. No entanto, quando pergunto em quê a vida piorou ninguém sabe responder; pelo menos até o momento ninguém disse não ter melhorado. Meu vizinho nordestino – um vencedor – dificilmente visitava seus parentes por causa dos três a quatro dias de estrada. Agora vai de avião. Que felicidade! Quando os “pobres” chegaram, a classe alta – em vez de acolhê-los – perguntou se os aeroportos tinham virado rodoviária.

Na abertura da Copa do Mundo vimos “a lição de incivilidade e falta de respeito [com a presidente] que partiram de representantes da parcela mais privilegiada do país”. (Eliane Trindade. Folha 14.06.14). Afinal “Copas não são para o povão, mas apenas para quem pode pagar caro por um ingresso nos novos estádios erguidos a preço de ouro”. (Juca Kfouri idem). Reclama de quê essa gente privilegiada num país aonde nem direitos fundamentais chegaram a todos?

Como disse Contardo Calligaris: “Quem quer mudar as coisas facilmente se esquece de contar-se entre os itens a serem mudados”. A maioria faz do governo sua lata de lixo. Acham política coisa suja, mas querem que os políticos resolvam os problemas. “O maior castigo para quem não gosta de política é ser governado pelos que gostam. (Arnold Toynbee). O compromisso cidadão de muitos se resume em apertar o botão da urna e voltar para a arquibancada, donde vomitam impropérios. Segundo Abraham Lincoln “Tem direito de criticar aquele que tem coração para ajudar”.

Evito pessoas que não vão além de detonar políticos – apesar de muitos merecerem – porém, estão nem aí com os problemas da própria cidade, rua e bairro; nem mesmo da escola onde estudam os filhos. De suas casamatas nem com os vizinhos querem papo. Nunca estão entre os que lutam para melhorar as coisas. Aceitam e repassam desinformações e ranços que grassam a internet. Imediatistas, acreditam ser uma pessoa ou partido capaz de melhorar uma sociedade corrupta e injusta desde seu nascimento; ainda contaminada pelo individualismo, ganância, comodismo, interesses pessoais e corporativos. Devem ter visto muito filme americano ou desenho animado, aonde super-heróis resolvem tudo sozinhos. Ainda não perceberam que os avanços sociais no Brasil não são concessões das elites, mas conquistas populares.

“O Brasil, confio, tem plena condição de reerguer-se e reencontrar o senso de direção. A virada, contudo, jamais virá de moto próprio ou graças à milagrosa conversão e súbita boa vontade do nosso patronato político. Ela virá de baixo para cima e de fora para dentro. Ela virá da nossa participação”. (Eduardo Gianetti, economista. Folha 22.08.14).

“É fácil dizer que ‘a culpa é de fulano‘, mas eu que faço? Trabalhar para o bem comum é um dever do cristão!”. (Papa Francisco).

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