O VOP é um Portal Oficial da Ortográfica da Língua Portuguesa Brasileira, é um repositório organizado de recursos linguísticos que é orientado tanto para o público em geral como para a comunidade científica, servindo de apoio a quem trabalha com a língua portuguesa e a todos os que têm interesse ou dúvidas sobre o seu funcionamento. Todo o conteúdo do Portal é de livre acesso e está em constante desenvolvimento: VOP
A língua é um instrumento importante da comunicação que se sobrepõem à escrita. Segundo Marcos Bagno, no livro Preconceito Linguístico, o preconceito contra a língua é um reflexo de outros preconceitos como o regional.
Presidente ou Presidenta estão ortograficamente corretos, no entanto Dilma Rousseff optou pelo uso da grafia com A no final, isso devido ao histórico de luta contra os preconceitos e o machismo e também pela familiaridade com as causas sociais. No portal do VOP é totalmente possível averiguar essa verdade: A palavra existe!
Na campanha passada, esse foi um dos grandes ataques contra essa mulher, que representa o Poder Executivo do país, e nessa campanha (para meu espanto) continua sendo.
A internet proporciona uma democracia mais ampla e mais verdadeira, contudo, ela também propaga ignorância, reprodução de mentiras e preconceitos. Este ano, fomos bombardeados com todo tipo de preconceito, inclusive o linguístico! Mas, repudiar a letra A no final da palavra Presidenta não é apenas uma forma de preconceito linguístico, é muito antes uma forma de machismo. O fato de uma mulher presidir o país é inaceitável, pelos que não enxergam na mulher o mesmo potencial de um homem.
Os ataques a campanha presidencial, meramente preconceituosos, são constantes.
Utilizar-se desses recursos para desprestigiar é uma forma velha e ultrapassada de se fazer política, mas mesmo conhecendo-a bem, e sabendo que já é histórica, espanta o uso desses meios de forma tão suja.
Em outros artigos afirmei que todo preconceito tem como alicerce o machismo, e não seria diferente nesse caso. O ódio contra uma palavra é o ódio contra um gênero!
Todos os dias palavras novas surgem no nosso vocabulário, seja pelo estrangeirismo como o verbo DELETAR, seja por gíria como a palavra “ZICA”, ou porque um jornalista famoso de direita juntou as palavras PT + Irmãos Metralha dando origem a palavra PETRALHA, novinha em folha e que se popularizou tão rápido. A verdade é que mesmo que não existisse a palavra Presidenta, deveríamos usá-la pelo papel social a que se propõe. A língua é mutável e têm valor importante na formação social, tão importante quanto quaisquer outras ações.
Independente do lado político e das questões partidárias, devemos observar que determinadas questões são inegociáveis: A promoção da mulher, a luta pela igualdade de gênero, a queda do machismo, a diminuição do preconceito, a punição do crime de ódio, a garantia da educação, conhecimento, ética e a estruturação da sociedade com base na equidade e isonomia dos direitos são algumas das questões inegociáveis.
Que seja utopia, mas acredito que podemos reverter essa cultura que pune alguém pelo seu gênero, que imediatamente, desqualifica pela sua identidade de gênero e por sua genitália.
Os limites e as diferenças entre os gêneros existem, mas nem uma delas encontra-se no cérebro.
Carla Betta
20 de outubro de 2014
Ótimo texto. Bem redigido. Bem argumentado. Elucidativo.
Evandro Mangueira
20 de outubro de 2014
Obrigado Carla por sempre colaborar. Sua ajuda é sempre bem vinda!
Augusto Sousa
20 de outubro de 2014
Num raciocínio simples, diria que:
– quem dirige, é dirigente. Quem preside é presidente.
Ocorre que aqui entre nós a posição máxima do poder executivo, como bem disse o autor, passa a ser pronome ao qual o ocupante do cargo ficará vinculado. Lembrem-se que o Sr. Jânio Quadros era chamado de presidente até seus últimos dias
Nesse caso passa a declinar como Excelentíssimo, Excelentíssima; Doutor e Doutora.
Não vejo machismo ou qualquer preconceito em que pese o bom texto
Abraços
Evandro Magueira
20 de outubro de 2014
Olá Augusto Sousa, obrigado por colaborar. Creio que o machismo aparece nas mais sutis formas mas, compreendo que não concorde. Um grande abraço.
Daisy Costa
20 de outubro de 2014
É verdadeiramente como citou: “A internet proporciona uma democracia mais ampla e mais verdadeira, contudo, ela também propaga ignorância, reprodução de mentiras e preconceitos. Este ano, fomos bombardeados com todo tipo de preconceito, inclusive o linguístico!”
Evandro Mangueira
20 de outubro de 2014
Obrigado Daisy Costa por participar. Abraços!
Eduardo Stella
21 de outubro de 2014
Muito bom camarada, vale lembrar que a palavra Presidenta teve seu primeiro registro de uso em 1872 e já em 1925 foi inserida pela primeira vez em um dicionário.
Evandro Mangueira
22 de outubro de 2014
Obrigado Eduardo Stella pela colaboração. Datar é sempre bom para embasar o texto.
Evandro Mangueira
13 de maio de 2015
Eis que lendo Machado de Assis, encontrei a palavra PRESIDENTA:
Livro de 1880, e tem gente que diz que a palavra é nova.
Memórias póstumas de Braz Cuba – p 85
“Meu espírito deu um salto para trás, como se descobrisse uma
serpente diante de si. Encarei o Lobo Neves, fixamente,
imperiosamente a ver se lhe apanhava algum pensamento oculto…
Nem sombra disso; o olhar vinha direito e franco, a placidez do rosto
era natural, não violenta, uma placidez salpicada de alegria. Respirei,
e não tive ânimo de olhar para Virgília; senti por cima da página o
olhar dela, que me pedia também a mesma coisa, e disse que sim,
que iria. Na verdade, um presidente, uma presidenta, um secretário,
era resolver as coisas de um modo administrativo.”
Augusto Sousa
13 de maio de 2015
Machado de Assis, muito bom !!!