
Fonte: http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2014/10/em-5-dias-25-gatos-sao-encontrados-mortos-em-cemiterio-de-piracicaba.html. Foto: Eduardo Martins EPTV
Certa vez, li que uma determinada tropa de elite de uma grande potência militar, utilizava uma técnica curiosa e cruel nos seus treinamentos. Os soldados selecionados para tal tropa recebiam, depois do dia de treinamento, uma caixa de papel contendo alguns insetos. Antes de se lavar, comer e descansar, deveriam mata-los. Nos primeiros dias, ainda descansados e com o treino menos intenso, o ato era tomado como uma brincadeira. Os recrutas jogavam os insetos uns nos outros, colocavam-nos na camisa do colega, fingiam mastiga-los etc. Os sargentos, no entanto, eram inflexíveis. Ninguém comia ou descansava antes que todos os bichos estivessem mortos. Com o passar do tempo, o treino ficava mais duro. Dias de esforço intenso, fome, stress e cansaço. A noite não haviam mais brincadeiras. Os soldados pisavam ou esmagavam as caixas com as mãos e iam se lavar.
Depois de algumas semanas, o conteúdo das caixas mudava. Passavam a ser pintinhos e depois, ratos brancos que deveriam ser mortos ao fim do dia extenuante. Daí passava-se a animais maiores. Gatos, depois cães, não mais toda noite, mas em intervalos regulares. Só que agora o soldado tinha que variar. Deveria matar com facas, porretes ou mesmo estrangular, se fossem de menor porte os animais. Chegava-se a cabras e carneiros e, nos meses finais do treinamento, uma vez por semana ao menos, todos iam a um matadouro e deveriam abater o gado, de formas variadas também. Armas brancas, pedras, garrotes e eventualmente do jeito mais fácil, um tiro.
O propósito era claro. Cansados, estressados e obrigados a matar antes de descansar, os soldados se insensibilizavam, acostumavam-se a matar e a ignorar o sofrimento dos que morriam. Só assim se conseguiria um bom resultado no campo de combate e nas missões militares. Os homens, embrutecidos pela chacina constante, teriam menos dificuldade em matar outro ser humano. Alguns, talvez, até tivessem aprendido a “gostar” de matar, a sentir um prazer sádico em torturar animais, o que facilitaria muito o “trato” com o seu “semelhante” no contexto da sua “profissão”, matar…
Nos últimos meses gatos têm sido torturados e mortos em minha cidade. São gatos que povoam o Cemitério Municipal da Saudade. São muitos, é verdade, e acabam por criar alguns transtornos, dentre os quais está o da sujeira. Mas também são vítimas de uma violência inicial, a do abandono. Há muito tempo que filhotes e mesmo adultos são abandonados lá, assim como em outros pontos da cidade. No passado estes todos, do Cemitério e de outros lugares já foram mortos, envenenados ou sofreram maus tratos. O que tem acontecido recentemente, no entanto, parece ser mais sistemático, mais constante. Parece denotar não só uma “limpeza”, talvez de gente do próprio Cemitério que se exaspera com os animais, mas um prazer em machucar, sentir o sofrimento. Por que se dar ao trabalho de espancar um animal até a morte e não de envenená-lo, se não houver aí, um prazer com o ato de espancar? Por que encerrar filhotes vivos em túmulos e deixá-los lá, para desespero da mãe?
Eu não sei qual é o motivo destes atos e quem os pratica. Mas sei que quem faz isso está perigosamente perto do treinamento daqueles soldados de “elite”. Está desenvolvendo, ou já desenvolveu, um desprezo pela vida e pelo sofrimento. Está capacitado já, ou quase, a “subir de posto” e a passar dos gatos do Cemitério para outros seres maiores. Quem sabe, até, um que anda em duas patas e fala sua língua.
Dedico este artigo a todos, ONG´s e voluntários, que se esforçaram e esforçam para proteger os animais abandonados, que se dedicaram a resgatar filhotes do Cemitério e a proteger os adultos. E alimento a esperança de que, quem quer que leia estas palavras, pense em adotar um dos que foi resgatado.
Moisés Perecin
4 de dezembro de 2014
Gostei do texto Amstalden. É preocupante saber que, para além das mortes, se esconde a figura de psicopatas, pois acredito não ser apenas um, irmanados nas atrocidades. Os motivos, podem ser vários, assim como os interessados nas mortes, mas, a maneira como foram mortos, indica claramente, um “recado” do tipo: “aqui nós mandamos, aqui não há lei, aqui ninguém se importa”. Mas não é isso o que aconteceu. Há intensa negociação com o poder público, com instauração de boletins de ocorrência, sindicância interna, ação na promotoria do Meio Ambiente, retirada de alguns funcionários públicos da administração, de terceirizados e de indicados pelas Ongs que atuam no local, além do envolvimento da Polícia Civil e Guarda Civil. As mortes cessaram. Há elaboração das necrópsias com o laudo da causa das mortes e, as que foram liberadas, constatam violência. Nós, BichoBom Proteção Animal e Equipe Gatos do Cemitério, propomos a parceria com o poder público, no sentido da transferência dos animais do Cemitério da Saudade, para um abrigo. O poder público nos cederia uma área e ajuda com materiais e mão-de-obra, e nós, Ongs, faríamos o Projeto de Manejo e a translocação dos animais para o abrigo. Já há áreas que foram oferecidas, e estão sendo analisadas e todo o trabalho administrativo vem sendo feito no sentido de que alguma área seja reservada à Ong BichoBom para que faça o manejo dos animais do cemitério. Assim, imaginamos que um problema de décadas, infelizmente, vai ser resolvido com a morte dos felinos, por bárbaros psicopatas. Abraços e parabéns pelo texto lúcido, importante e esclarecedor. Moisés Perecin – Presidente Ong BichoBom Proteção Animal.
blogdoamstalden
4 de dezembro de 2014
A mobilização em torno do massacre dos gatos do cemitério me enche de esperança, Moisés Perencin. E o artigo é dedicado a vocês que estiveram e estão na frente da luta. Obrigado por comentar. Abs.
Carla Betta
4 de dezembro de 2014
É terrivel ler este texto e precisar compartilhá-lo para haver conhecimento e talvez conscientização. Tenho me perguntado: em que século estamos mesmo?…
blogdoamstalden
4 de dezembro de 2014
No passado, Carla Betta, execuções públicas de pessoas eram diversão familiar. Mudou, lentamente, mas mudou. Nossas ideias, nossa luta em divulgar valores e ética surtem efeito a médio e longo prazo. Essa é nossa contribuição. Abs.
Carla Betta
4 de dezembro de 2014
É verdade, Luiz. Precisava do frescor desse pensamento. Acredito no vento da mudança e na constante evolução, mas às vezes minhas expectativas esbugalham os olhos, alertam os ouvidos para presságios de tempestade e… apenas sopra a brisa… Paciência, paciência, cadê vc que não me responde?
blogdoamstalden
4 de dezembro de 2014
“Vós sois a luz do mundo e o sal da terra…”
Anônimo
5 de dezembro de 2014
Sabe..você fez com que eu fizesse uma reflexão sobre essa associação do matar animais X matar pessoas…é realmente muito decepcionante!!! Somos treinados para ter atitudes inadmissíveis….só que não paramos para analisar e mudar!! Ao invés de se pensar em fazer um trabalho intensivo de doação daqueles gatos é mais fácil extinguir!! Que pena ….P ser humano só decepciona!!!! 😦
Daisy Costa
5 de dezembro de 2014
Estamos assistindo à imbecilização do ser humano, sendo que, ainda na época de Nikola Tesla, os empresários com Thomas Edison mais a imprensa predadora, matavam animais em praça pública com eletricidade, para provar que a ‘corrente alternada’ descoberta por Tesla era assassina…começaram com pequenos animais, chegando a matar cavalos para gerar pãnico na população, sempre manipulada desde sempre… E, atualmente, ícones de extrema-direita incitam ao ódio e ao extermínio de seres humanos que pensem contrário destes…
Walter Chaves
7 de dezembro de 2014
Fernando,
Lendo o texto e os comentários, fico com a impressão de que a vida, ou o que a comanda, se encarrega de prover heróis e malvados conforme ocorrem situações como esse exemplo dos gatos. Acredito que o povo no geral, não consegue ou não quer resolver casos assim. Esse é na minha opinão, o lado triste.
blogdoamstalden
16 de dezembro de 2014
Waltão, também acho que ainda não podemos distinguir a vontade de resolver. Mas acredito que a humanidade evolui. Faz “pouco tempo”, relativamente, que temos o que se chama civilização. Dez mil anos atrás éramos pouco mais que um bando de nômades. Perto do tempo da vida na Terra, pouco. E esta civilização caminha, devagar, mas caminha. A ética para com a vida em geral, incluso todo o meio ambiente, é uma evolução. Talvez mais lenta do que precisaríamos, mas está aí. Um dia, se formos sobrevier, teremos outra postura perante a vida e construir esta nova postura é o que fazemos agora, mesmo aparentemente contra a corrente… Abração.