Há algum tempo atrás, Roberto Carlos, um dos “reis do Brasil”, protagonizou uma propaganda na qual, ele, supostamente vegetariano a muito tempo, pedia um filé em um restaurante. O cineasta Fernando Meirelles comentou em seu Twitter que Roberto nem chegou a cortar o bife e não o teria comido, mantendo seu vegetarianismo. Ainda segundo Meirelles em posts de 27/02.2014 na sua conta do Twitter, comentava-se que o contrato para a propaganda teria sido de R$ 25 milhões. O “rei”, claro, negou. Disse que nunca foi vegetariano e apenas que evitava carne vermelha. Mas nos últimos tempos, por “sugestão do médico”, voltara a comer uma ou duas vezes por semana. Por “coincidência” o frigorífico ficou sabendo da recomendação e o procurou para fazer o comercial. O fato é que pegou mal o frigorífico acabou por rescindir o contrato o que valeu um processo de Roberto em 2014.
Mais recentemente voltou a acontecer. A ex apresentadora de programa infantil e atual segundo escalão da programação televisiva, Angélica, que dizia não comer carne vermelha a 27 anos e muito menos carne de porco, gravou um comercial com seu marido Luciano Huck (também do segundo escalão televisivo) no qual morde um cachorro quente com salsicha, segundo o fabricante, feita com carne suína… Luciano Huck, que eu saiba, não era vegetariano, mas é Judeu. Chegou a fazer uma propaganda nas páginas de uma revista semanal segurando um “shofar” (uma espécie de trombeta feita de chifre de carneiro usada nas celebrações judaicas). Oras, ocorre que a religião judaica proíbe o consumo de carne de porco e lá estava Huck participando do churrasco “em família”, como diz a propaganda, com carne suína…
Temos que considerar o fato de que talvez Angélica nunca tenha sido mesmo vegetariana ou ainda que tenha mudado de ideia. Todos temos o direito de mudar. Temos que considerar, ainda, que Huck talvez não seja um Judeu praticante. Pode simplesmente ter nascido nesta religião mas não a praticar, como tanta gente de outros credos. Mas tanto no caso deles quanto no do “rei” o que fica claro é a comercialização da imagem. Mesmo que eles tenham mudado ou não sido totalmente uma coisa, venderam caro a imagem da “mudança”, mesmo que isso tenha significado uma quebra de valores por eles pretensamente professados.
Na verdade não devemos nos surpreender. Mesmo séculos atrás, “vender” seus princípios, liderança ou imagem era comum. Se há algo de diferente hoje é a facilidade com que se vende e se “muda para vender”, pouco significando seus princípios e valores reais. Parece que, nesta sociedade “líquida”, os princípios se tornaram mercadoria mais corrente, mais fácil de se trocar e vender. O que realmente me surpreende, porém, é que mesmo nestes tempos onde “tudo o que é sólido se desmancha no ar”, algumas pessoas e grupos mantém a coerência, os princípios e os seus valores, mesmo deixando de ganhar. Foi o que fez, como noticiado pelo jornal “ A Tribuna Piracicabana” no dia 25/02/15, a ONG “Casa do Amor Fraterno” que resolveu deixar o mega evento “Festa das Nações”. Deixou porque o grupo atende jovens e crianças carentes e, na Festa, circulam muitas crianças e adolescentes assim sob o efeito de álcool. A ONG avaliou que não era coerente com seus princípios manter uma barraca (a da França) em um evento em que o que eles reprovam se repete. Não deve ter sido uma decisão fácil, já que, segundo a reportagem, a maior fonte de renda vinha da festa.
Mas é exatamente aí que está a preciosidade do ato. Eles, por coerência com seus valores e objetivos, abriram mão do dinheiro e se colocaram em situação de fragilidade econômica. Eu não conheço o trabalho da ONG e nem os seus líderes e voluntários. Mas penso que, tomando uma atitude tão bela e corajosa como esta, eles são provavelmente a ONG mais correta e confiável da qual já ouvi falar. Segundo a reportagem da “Tribuna”, eles tentarão fazer uma festa própria. Se fizerem, eu, que não costumo aparecer em eventos assim, vou. Também farei uma pequena doação, dentro de minhas posses, para eles. Afinal, em tempos em que gente com muito mais dinheiro, como o “rei” e o casal da “segunda divisão” vende abertamente sua coerência, a ONG “Casa do Amor Fraterno” é uma joia rara que merece meu apoio, respeito e admiração.
PS: se você também acha que a atitude da Casa do Amor Fraterno agiu com coragem e coerência, compartilhe este post e mande seu apoio a eles pelo site: http://www.casadoamorfraterno.com.br/index.asp
Eduardo
4 de março de 2015
Conhecia uma diretora dessa casa e é uma mulher de coerência. Nos conhecemos na política e tínhamos visões opostas, mas ela sempre foi coesa e pelo jeito, se continua na direção dessa casa, continua com o mesmo caráter.
Sem comentários, a postura da instituição seja lá quem for o presidente / diretor é excepcionalmente benéfica!
blogdoamstalden
4 de março de 2015
Visões opostas não são um problema quando temos caráter, né Eduardo? Abs.
Anônimo
4 de março de 2015
Parabéns. Casa do Amor Fraterno por sua decisão e Luís Fernando Amstalden, pela ótima postagem.
blogdoamstalden
4 de março de 2015
Obrigado. Mas a postagem é boa porque a atitude da Casa foi fantástica. Abs.
Carla Betta
4 de março de 2015
Maravilhoso! Tem todo meu apoio e que belo artigo, Luiz!
blogdoamstalden
4 de março de 2015
Obrigado Carla. Mas o mérito é deles, não meu. Abs.
Carla Betta
4 de março de 2015
O mérito da atitude fantástica da Casa do Amor Fraterno é da ONG, mas o do artigo é seu.
Antonio Camarda
4 de março de 2015
Quando li a noticia nos jornais sobre a decisão da Casa do Amor Fraterno, confesso que duvidei, e reli para tirar dúvidas!
Era a noticia mais surpreendente nesta época, em que a coragem de dizer não para algo incoerente, de forma tão objetiva, mesmo sabendo que afetaria os recursos da entidade, o não foi dito de forma civilizada e bem explicado.
O bom senso falou mais alto. Creio que foi um “mini” boicote às tolerâncias perniciosas, mas um passo de gigantes ao manterem a coerência com seus valores e objetivos, Parabéns a todos os envolvidos nessa decisão tão difícil.
Luis: valeu seu artigo abrangente, e como sempre focando a verdade!
blogdoamstalden
5 de março de 2015
Camarda, é bom mesmo ler algo positivo assim nos jornais, principalmente nestes tempos em que tudo parece tão árido. Obrigado pelo elogio. Vindo de você, sempre tem valor dobrado. Abs.
Jose Liborio
6 de março de 2015
Parabéns à Casa do Amor Fraterno pela imensa coerência o que, é de assustar, tem de ser elogiado quando deveria ser normas. Uma instituição que deve prezar por ensinar princípios, não pode e não deve, entrar no “vale tudo por dinheiro”.
Bom saber que existem pessoas e instituições assim! Que sirva de exemplo e de guia.
Obrigado por compartilhar essa maarvilhosa informação, Luis! Forte abraço!
Antonio Carlos Danelon - Totó
6 de março de 2015
Parabéns, Luis pelo texto. O gesto não poderia ter passado despercebido.