Em busca de um deus menor. Por Eloah Margoni

Posted on 3 de março de 2015 por

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Eloah Marconi foto

Apesar de ser agnóstica, confesso que preciso mais de deus! Todos precisamos. Mas não do Deus que criou o Universo, céus esplendorosos e terra agreste, auroras boreais, galáxias, constelações, o tempo, fungos, dinossauros, uma batelada de vírus, sendo vários deles mortais. Para tal Deus, assim tão imensurável, importar-se com o homem (por hipótese), com um país num dado momento, seria uma falácia, balela. Injusto, indigno de si mesmo, de tanta absoluta e total divindade. Mas… do jeito que a coisa vai, só mesmo por deus! Um deusinho doméstico, restrito, verdadeiro, compreensível e decididamente competente. Talvez uma inteligência artificial criada por tecnologia de ponta, base avançada oculta em algum laboratório superequipado no deserto de Mojave ou algures, assim como vi num filme, mais ou menos.

   O deus que invoco e pelo qual anseio, suprassumo dos delírios esquizofrênicos mais completos, dos sonhadores desvairados, dos justos desesperados, seria pois um deus menor mas extremamente real, que não se importa com os pensamentos dos cidadãos nem com seus desejos. Sim, relativamente leva em conta palavras, e decididamente muito as ações. Essas nunca lhes escapam! Câmeras, celulares, satélites são seus olhos, braços e mãos. Ele tudo vê, tudo sabe, em determinado raio de ação, considerável e grande. Muito bem programado, sua missão é sanear. Assim, ele observa, computa, cataloga as atitudes humanas em frações de segundos.

   Os políticos especialmente estão em sua mira (ignora totalmente partidos; nem sabe o que é isso), pessoas de índoles más, corruptos de todas as partes, assassinos, os que maltratam crianças, de animais e mulheres, destruidores de florestas. Sim, porque este deus, pequeno mas notável, seria muito bem programado para a conservação das espécies em geral, do equilíbrio ambiental e social, para promoção da justiça em áreas diversas. Seu objetivo, a paz; seu método, direto.

   Em sua científica e artificial sabedoria, hierarquizaria crimes e culpas, daria segundas e terceiras chances para alguns, com penalizações na forma de sustos e descargas elétricas para os desviados recuperáveis, explosões de celulares, deixando claro a todos, através de e-mails, whatsaps, telefonemas, vozes no meio da noite que devem, dali por diante, agir assim e assado sem contemplações, para o bem geral. Se não agirmos corretamente, zás. Descargas elétricas mortais selecionadas e direcionadas. Operações finíssimas.

   Para a enorme gama de irrecuperáveis, psicopatas, canalhas, lesa-pátrias ou para os que tudo aviltam, estejam em presídios ou em apartamentos luxuosos, em grandes fazendas ou em viagens em N. York, políticos e donos de empresas destruidoras do ambiente com suas vidas e festas decadentes, é pra já, eliminação em série! Alarmes, controles remotos, veículos computadorizados, celulares, raios de satélites, tudo convocado para a operação limpeza. Zup, zupt, vapt, vupt. E eis um mundo novo, um novo país, Brasil! E daí para o mundo.

       Pode-se argumentar que existiria autoritarismo neste deus. Mas todos os deuses são assim de um modo ou de outro, não são?

     Bem, são divagações de uma escrevinhadora à beira de vários ataques de nervos… em série. Mas o milagre não acontecerá de fato. Ou quem sabe, aconteça numa realidade paralela se cada um de nós pensar, desejando com muita força, e encontrar a chave da magia, as artimanhas ocultas do Grande Deus na forma de física quântica; porém, um deus fabricado pelos homens provavelmente seria outra espécie de monstro, um general com feições aberrantes, mistura atroz de tantos ditadores de todos os tempos, desde que o mundo é mundo.

Eloah Margoni é Médica e escritora, autora do livro “Zion”. Ed. Clube dos Autores. https://www.clubedeautores.com.br/book/169238–ZION?topic=ficcao#.VPTg3-Hq5HA

 

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