Crônicas de Telópoli. O crepúsculo dos deuses políticos (alguns aforismos) Por Fábio Casemiro

No meio do facebook aparece uma voz do divino Aécio que diz:

“O que estamos assistindo no Brasil é o que jamais havia acontecido na nossa história.

É a instituição da nossa corrupção em benefício de um projeto de poder.”

Ai venho eu, agnóstico da política, lembrar,

com uma lanterna em punhos, que deus está morto…

1. Mas a corrupção institucionalizada é a grande marca da cultura brasileira há séculos! Aliás, “institucionalização da corrupção em benefício de um projeto de poder” é um ótimo resumo da história política brasileira, infelizmente. Esqueçamos, por hora, a defesa desta ou daquela bandeira política… Sempre falo para as pessoas: “Mas você não se lembra da denominada “política dos governadores” na República do “Café com Leite?”. “Não se lembra dos currais eleitorais?” “E a associação Estado-empreiteiras à época da ditadura militar?”. Caceta! Ninguém nunca lembra de uma única página dos livros e apostilas do curso de história do ensino médio??????

2. No cotidiano das práticas das pequenas e médias empresas, não vemos todos os dias, corrupção, superfaturamento e nepotismo? Nosso sonegômetro não segue gigante junto com o impostômetro? Plagiando o Bob Fernandes, em entrevista recente… Vocês acham que as pessoas que ocupam cargos públicos vêm de onde? De Marte? O cidadão que prefere subornar o guarda, se eleito, não faria mensalão? Os corruptos são julgados, e os corruptores? Não é o deus Aécio que fez um aeroporto prá ele em terras públicas?

3. Eu acrescentaria, por conta: Vocês realmente acreditam que a corrupção na Petrobrás começou agora, com o PT? Ou seria outra a questão: Agora, com o PT no poder, se tornou interessante para grupos políticos mostrar a corrupção, certamente porque perderam fatias do bolo? Acho que essas séries de escândalos são ótimas porque podem apontar para uma mudança na mentalidade dos brasileiros: o que era bom para o passado, não é mais interessante – ou melhor, não é mais eticamente viável – hoje em dia. Não é defender PT, não – xô, divindades políticas –, mas a ideologização da corrupção que atribui uma – infeliz – marca da cultura política brasileira à condição de cacoete de um único partido, como se o PT tivesse inventado uma das mais profundas marcas (manchas) de nossa política… Sempre me faz perguntar: a serviço de quem está esse falso moralismo que brada “somos limpinhos”? Todas as peripécias corruptas do PSDB e demais partidos são sempre encobertas: julgamos o mensalão (justo, cadeia neles!) mas e o trensalão, do metrô de São Paulo???? Não vai rolar, porquê? A má gestão hídrica pelo governo do estado de São Paulo… As vistas grossas diante da crise que se aproximava? Nem um processinho por má gestão? Conseguiram empurrar com a barriga só por causa da época das eleições? E aí? Fica assim, então? A destruição do funcionalismo público e da educação no Paraná, estourando agora…. Não vira discurso de calamidade? Não dá ibope? Ah é… Nós paulistas não temos nada com isso, né?

4. É curioso, por fim, a coincidência: enquanto atribui-se ao PT a invenção da nossa tradicional política de favores, de trocas e de propinas, Paulo Maluf é declarado ficha limpa e se torna deputado federal por São Paulo em 2015, para a 55ª legislatura… (Aliás, o cara de pau – já esperávamos – faltou da cerimônia de diplomação!! hahahaha). Porque o povo de São Paulo não foi à rua com a eleição de Maluf? Simples… Porque o povo votou no Maluf, porque o paulista adora o Maluf, ele sim, um dos inventores de muitas das práticas corruptas e mensalônicas à época da ditadura militar…. E esse mesmo povo paulista que aprova o mestre da corrupção, o Sr. Paulo Maluf, tem ojeriza à corrupção de mesma natureza, mas nas mãos do PT….. PORQUÊ?

5. Eu acho que é por questões da ordem do mítico, do estético: O PT é vermelho, é (seria) comunista, o PT é do mal….. Os filhos da guerra fria, órfãos de Vargas, e – muitos – simpatizantes do DOI-CODI, adoram a corrupção e a praticam todos os dias….. O que não aceitam é a herança maldita da corrupção nas mãos dessa gentinha nova….

6. Não poderíamos, ao invés, transformarmos esse momento no melhor momento da política brasileira? E trocarmos de mentalidade corrupta prendendo INDISTINTAMENTE todos os corruptos? Vamos nos politizar para despolitizar essa armadilhazinha anacrônica das eleições e partirmos prá cima da corrupção? De baixo para cima, de dentro para fora? Ou vamos continuar nessa bipolaridade Aura-Mazda x Ahrimã, tão piegas? Que tal uma política para além do bem e do mal?

7. Só que não. Tudo que o povo quer (encabeçado pelas elites Vejistas) é justamente isso: o consolo metafísico pela política da DISTINÇÃO. Se o paradigma é o PRIVILÉGIO, que chance tem nossa DEMOCRACIA?

Fábio Casemiro

Prof. Fábio Martinelli Casemiro

Doutorando em Teoria e História Literária pelo IEL/UNICAMP

Mestre em Teoria e História Literária pelo IEL/UNICAMP

Especialista em História Cultural pela UNIMEP

Historiador pela UNIMEP

www.sonsdemodorra.blogspot.com