A semana começou com a repercussão do pronunciamento da presidente Dilma Rousseff, no domingo (8), o Dia Internacional da Mulher, e o panelaço em prol do Impeachment como prévia do que se pretende no próximo domingo (15), quando deverá ocorrer manifestações em pelo menos 200 cidades do País pedindo a saída da chefe da Nação. A repercussão midiática tenta, a todo custo, emplacar o movimento ao ponto de alcançar os 100 mil manifestantes conforme prometido por dos líderes da manifestação que se avizinha.
Movimentos sociais são, a rigor, legítimos, e em uma sociedade democrática é importante que eles sejam sempre presentes. O que não é possível entender (tampouco aceitar) que menos de três dias depois da divulgação da outrora “salvadora” lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com os nomes indiciados na Operação Lava Jato, a própria mídia, responsável pelo ovo da serpente, não seja minimamente sincera a observar que a tentativa de fazer pegar a tese do Impeachment tenha perdido qualquer lastro com a verdade.
A começar com a não existência de qualquer indício que envolve direta ou indiretamente a presidente Dilma Rousseff. Mesmo que o ex-tesoureiro da campanha, Antonio Pallocci, apareça, ainda assim, trata da campanha de 2010, durante uma administração já encerrada e impossível de ser “impeachmada” de maneira retroativa. Mesmo que a Operação Lava Jato tenha derrubado a presidente da Petrobras, Graça Foster, não há indício de alguém do governo esteja entre os beneficiários do esquema descoberto em delação premiada.
Para afundar de vez ainda o tese do Impeachment aparece o fato que o personagem político responsável por torna-la “viável” apenas não está entre os indiciados por obra do Espírito Santo. O senador Aecio Neves (PSDB) foi citado ao menos duas vezes, de que teria recebido recursos de uma diretoria de Furnas, por intermédio do ex-deputado José Janene (PP), falecido em 2009. Estivesse entre nós, Janene poderia apresentar mais detalhes sobre a participação do ex-governador de Minas Gerais no famigerado esquema de corrupção.
Para piorar a situação de Aécio Neves, o recém-alçado a baluarte da ética e da lisura pública, o apadrinhado político Antonio Anastasia (PSDB), também ex-governador de Minas de Gerais, está entre os indiciados e agora precisará demonstrar toda a lealdade ao neto de Tancredo Neves para que o senador continue viável como líder da oposição – e, quem sabe, ainda seja presidenciável em 2018. Para finalizar, vale lembrar ainda que o procurador-geral Rodrigo Janot disse que “não se está fazendo nenhum juízo insuperável”.
E se a possibilidade do Impeachment já era remota, politicamente, não poderia ser menos ainda com o indiciamento de duas das três principais lideranças do PMDB – Renan Calheiros, presidente do Senado Federal, e Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados. Terceiro e quarto homens na sucessão, agora se vêem de lama até o pescoço e, ao invés de impedir a presidente Dilma Rousseff de exercer o mandato, podem ser eles os alvos de processos de quebra de decoro parlamentar. Em outras palavras, o Congresso Nacional não tem qualquer moral, ou condição ética, de tratar o Impeachment a sério.
O que sobra? Sobram apenas as panelas das sacadas dos luxuosos prédios da elite burra de São Paulo. São elas que dão os últimos ecos de uma tese que, ainda que natimorta, ganha fôlego por conta de uma mídia mau-caráter e um partido como o PSDB que, receoso de botar a cara a tapa, prefere agir no submundo da política, oferecendo a válvula da sua privada a uns poucos imbecis.
Erich Valim Vicente é jornalista e Editor Chefe da “Tribuna Piracicabana”
Antonio
12 de março de 2015
Parabéns pelo artigo.
Se permitir, assino embaixo.
Parabéns também por mostrar a todos nós que na imprensa existem pessoas sensatas.
Anônimo
12 de março de 2015
O que sobra? Sobram apenas as panelas das sacadas dos luxuosos prédios da elite burra de São Paulo. São elas que dão os últimos ecos de uma tese que, ainda que natimorta, ganha fôlego por conta de uma mídia mau-caráter e um partido como o PSDB que, receoso de botar a cara a tapa, prefere agir no submundo da política, oferecendo a válvula da sua privada a uns poucos imbecis.
A elite paulista, que reside nos prédios luxuosos, pode ser tudo, menos burra, afinal, ainda MANDA no país, ou será que os grandes banqueiros (descendentes dos barões do café) se mudaram para Piracicaba?
Umbelina Caiafa Salgado
12 de março de 2015
Gostei do texto! Vê-se que o autor tem sólida formação em Sociologia e Política. O brasil precisa de sua inteligência e lucidez.
Carla Betta
12 de março de 2015
Assino embaixo, exceto pela apropriada observação do leitor anônimo que a elite não é burra em sua totalidade.
Há os burros, sim,
Carla Betta
12 de março de 2015
Ops! … Como escrevia… Há os burros, sim, que não tem estofo para uma discussão argumentativa, apenas falta de caráter em proferir xingamentos e há os inteligentes (e muito inteligentes) que manipulam as opiniões e articulam estratégias, que fariam Maquiavel corar, para atingirem seus objetivos de poder.
andregorga
12 de março de 2015
Ah, se todos enxergassem assim. É um alívio para a alma ler um artigo desses, principalmente para mim, que estou rodeado de gente destilando ódio cego ao partido da situação, ódio à Presidente da Nação. Basta discordarmos de uma argumentação deles e somos tachados de petistas, comunistas, não patriotas, vermelhos. Quanta ignorância se vê por aí… Obrigado Erich, por fazer minha semana mais feliz. Obrigado Luis Fernando Amstalden, por nos proporcionar a leitura desse texto.
João H. Venturini
12 de março de 2015
Excelente texto Erich!! Foi na ferida. Só acrescento que essa elite burra não é apenas a paulista mas de todo o Brasil.
Alex Lemos
13 de março de 2015
Sobram panelas da elite burra?Então os recém desempregados e os aposentados onerados e trabalhadores sem dinheiro pra nada ,super mercados vazios,semfila no caixa…etc…são igual mula sem cabeça e saci pererê,só existem na imaginação …que bom,fico mais tranquilo…
João Humberto Venturini
14 de março de 2015
super mercado vazio? onde?
Antonio Carlos- Totó
14 de março de 2015
Brilhante, Erich. Essa massa toda está sendo conduzida pela meia dúzia de famílias que retém nas mãos os mais poderosos meios de comunicação; fazem e desfazem do povo brasileiro; elegem e derrubam presidentes. Também usaram meios escusos para chegar a tanto principalmente passando por cima da Constituição Federal, que exige abertura total desses meios à participação popular. É nisso que o governo quer mexer, mas eles querem manter seus privilégios e, como sempre, a massa por eles domesticada não percebe.