Na atual conjuntura de sentimentos republicanos, dizer que a sociedade está sendo injusta com a presidente Dilma Rousseff (PT) pode até parecer uma cômoda leniência com a mandatária da Nação. Mas há diversos aspectos neste emaranhado de discursos difusos, agressivos e, em grande medida insano, especialmente quando flerta com intervencionismo militar, que não dá para esconder o fato de que a ex-guerrilheira, sempre na trincheira por Democracia, não tem sido ouvida no que propõe.
Quando as manifestações eclodiram de maneira inesperada e violenta, em Junho de 2013, a presidente teve a coragem, pouco comum em muitos homens, sobretudo na política, de colocar cara a tapa, apresentando uma pauta, se não consensual, ao menos programática do que precisa acontecer no Brasil. Na ocasião, ela sugeriu uma Reforma Política a partir de uma Assembleia Constituinte, onde inevitavelmente estaria o fim do financiamento privado de campanhas eleitorais.
Às vésperas de uma eleição presidencial, somente Dilma Rousseff teve a “hombridade” de um servidor público com cargo eletivo de vir a público e dizer o que propunha. Tudo bem, como presidente é o dever dela. Mas o vice-presidente Michel Temer, os congressistas da época e, também, a oposição – se esta estivesse a fim de um pacto em torno de mudanças profundas no Estado Democrático nacional – tinham o deve de vir a público em busca desta convergência pluripartidária. Ninguém o fez.
Durante o embate eleitoral, em Outubro de 2014, a presidente foi acuada de todas as formas cabíveis e possíveis, ora de maneira legítima, mas por vezes tendo as características de uma mulher e senhora sendo desrespeitadas acintosamente, em claras demonstrações machistas. Mas para quem, ainda na juventude, foi inquirida pelo tribunal dos militares de então, tudo foi tratado como parte do tabuleiro da disputa e, fazendo valer o “coração valente”, Dilma Rousseff aguentou o tranco e saiu vitoriosa.
Em menos de 100 dias do novo governo, novamente a presidente volta a ser atacada, seja pela Esquerda, com até críticas sobre os governos petistas desde os tempos de Lula, mas principalmente pela direita e extrema-direita, por onde saem impropérios pouco usuais de famílias matriarcais. A grande manifestação deste domingo (15) é legítima, embora tenha nela fortes indícios de uma arquitetura voltada mais ao poder do que a defender bandeiras de desenvolvimento institucional e político do País.
E aí, neste aspecto, tem ainda mais injustiça contra Dilma Rousseff. As mudanças na política econômica, com a troca de ministro, deveriam render mais críticas à Esquerda do que à Direita. Como bem escreveu o economista Antonio Delfim Netto, “a presidente teve a coragem de rever os rumos e foi capaz de mudar”. O discurso foi outro na eleição, de fato, mas o governador Geraldo Alckmin (PSDB) também disse que não faria racionamento de água e anunciou três dias depois de eleito. Dilma apenas jogou de acordo com as possibilidades que existem neste tabuleiro.
Um dia depois da maior manifestação desde a Diretas Já, ganha força a proposta do fim do financiamento privado de campanhas eleitorais, conforme sugeriram os ministros Miguel Rossetto e José Eduardo Cardozo na coletiva após os eventos de domingo, materializada num pacote anticorrupção a ser enviado ao Congresso Nacional. É novamente a presidente ditando um caminho civilizado, como fez em 2013, mas foi abafada por conta do medo pré-eleitoral daquele momento.
Resta saber agora se a base aliada e a oposição (o que inclui a mídia, principal responsável pelo chamamento de domingo) abraçarão a causa que está claramente sinalizada pela Presidência. Ou se encobrirão no comodismo de uma Democracia que, embora em amadurecimento, ainda muito ingênua em cobrar o estadismo da classe política. Resta saber se a presidente será ouvida ou se continuarão as injustiças sobre ela.
Erich Vallim Vicente, 33, jornalista, editor-chefe de A Tribuna Piracicabana. Texto originalmente publicado em www.tribunatp.com.br.
Anônimo
19 de março de 2015
Obrigada pelo artigo esclarecedor. Tento expressar isto e acredito não estar sendo muito feliz, além do mais, os ouvidos estão poluídos com arraigados preconceitos.
Gleison
19 de março de 2015
Indignados, ah indignados… cobram um posicionamento da presidenta, mas quando ela fala ficam batendo panela para não ouvir. Parece criança mimada. Aliás, parece alguns que conheço, que quando discutem política impõem sua opinião e quando o outro começa a falar, começam a berrar interrompendo…
marlene
19 de março de 2015
Quase 90% (e olha que foi pesquisa do datafolha) dos brasileiros não concordam com suas análises !!! Todas essas pessoas estão compactuadas com a imprensa fascista, pertencentes a classe média escrota e a elite branca, reacionária e coxinha…. Todos eleitores de aecin cheirador….Então continue escrevendo e alimentando os 10% e de tanto repetir esta sua fala acabarão acreditado e a militância continuará firme a defender este partido, que já foi tão importante na construção da democracia, e hoje está chafurdado na lama do roubo, da inoperância e da incompetência!!
WiLL
19 de março de 2015
“O discurso foi outro na eleição, de fato, mas o governador Geraldo Alckmin (PSDB) também disse que não faria racionamento de água e anunciou três dias depois de eleito.”
Parei de ler aqui, e essa frase resume TUDO… Acho q vc entendeu… Abcs
Augusto Sousa
19 de março de 2015
Um governo que se reelegeu com base em propaganda, chegando quase a engodo!!
Discursa-se uma coisa e se faz outra.
Gastou mais nesses doze anos do que poderia e se recomendaria levando o país a quase bancarrota. Apela-se então para alterar a lei fiscal para não haver punição pelo não cumprimento da lei!. Que governo é esse.
O País parece estar acordando.
A presidenta também não é exemplo de quem defende a democracia. Foi guerrilheira, defendendo o tomada do poder pelas armas. Agora se apresenta como defensora da democracia.
Que democracia representativa é essa onde se governa por decretos, por medidas provisórias.
Ainda mais, pasmem, decretos secretos!!!
Sem falar dos cartões corporativos que consomem milhões de reais para bancar a conta desse ” politburo” tupiniquim, também conta secreta.
Só nos falta termos punições por ” crimes de consciência” ou paredões ai estilo bem a gosto dessa classe política dominante.
Antonio Carlos- Totó
19 de março de 2015
Que exagero!
Daisy Costa
19 de março de 2015
Concordo com essa reflexão e, ao contrário do que dizem, a propaganda foi (e muito) falha nesse governo, pois nem eu que procuro acompanhar, sabia da evolução na área de educação federal: fui pesquisar sobre a criação das novas universidades criadas nos últimos 10 anos e surpreendi-me com os números: 120 novas universidades de medicina, sendo destas, 40 federais! E mais 19 novas de cursos diversos e, ainda, com o programa REUNI foram ampliados vários campi e inúmeros cursos universitários. Brasil é pátria educadora sim senhor!
Antonio Carlos- Totó
19 de março de 2015
Parabéns, Erich. Texto lúcido e ponderado. Um luz nas trevas. Interessante tanta gente repetindo o que lê na grande imprensa como boneco de ventríloquo. Parecem não saber que essa mesma imprensa nunca quis um país equânime, e tem pavor que o governo faça cumprir a Constituição que manda democratizar ao máximo os meios de comunicação, hoje nas mãos de meia dúzia de famílias, que informam o que querem e conduzem como querem a opinião pública brasileira, em geral desinteressada pela verdade dos fatos e movida pela emoção. A presidente disse várias vezes estar aberta à sugestões. Em vez de ficarem resmungando pelos cantos mandem para o Planalto suas idéias, se é que as têm. Ou senão, criem um partido, concorram às eleições, vençam democraticamente façam melhor que ela.
Augusto Sousa
20 de março de 2015
Cara Dayse!
Realmente números mágicos !
Só não se sabe onde estão essas faculdades de medicina!!
Para se ter uma ideia o Hospital do Câncer de Barretos, reconhecido internacionalmente tem pronto uma faculdade conjunta ao hospital, com equipamentos corpo docente e não consegue a autorização do ministério há mais de cinco anos!!!
Daiana
25 de março de 2015
Votei na Dilma e não voto mais nela e no PT, a partir do momento que ela mexeu na previdência. Agora entr PT e PSDB, voto nulo.