Manifestações. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 18 de março de 2015 por

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PROTESTO PAULISTA

Até o final da tarde de domingo, dia 15 de março de 2015, mais de um milhão e meio de pessoas saíram às ruas em protesto contra a corrupção e o governo do PT. Eu não fui a nenhuma e, como já expliquei pelo Blog, não por estar satisfeito com o governo de Dilma e do partido, mas porque me recuso a marchar ao lado de alguns que pedem intervenção militar e tampouco concordo com a capitalização política que alguns partidos vem fazendo dos protestos. Mas minha participação ou não participação são o de menos. Conforme já escrevi também no Blog, apoio as manifestações desde que sejam efetivamente contra a corrupção e em favor da democracia (entenda-se sem militarismo).

De fato, creio que muitos dos que estão nas ruas, aliás, a maioria, está mesmo é indignado com os escândalos da Petrobrás e outros muitos e fartos desmandos e irregularidades da política nacional. Sinto esta mesma indignação. O problema é não existem “salvadores da pátria”. Não existem hoje, no Brasil, partidos ou governos que, de alguma forma, não tenham praticado ou sido tolerantes com atos de corrupção, clientelismo político, troca de votos por favores e direcionamento de investimentos para benefício de grandes empresas e grupos econômicos. Quero ver, por exemplo, a continuidade do caso HSBC e quem será apontado nele. Também conforme já escrevi, Antônio Anastasia, do PSDB, está na lista de Janot, citado por ter recebido verbas desviadas da Petrobrás. Creio que os secretários e políticos do PSDB que participaram das manifestações deveriam se ocupar do caso antes de saírem às ruas pedindo o fim da corrupção. A lição começa em casa. Aliás, também para o PT deveria ter começado em casa. Até agora o partido e seus expoentes foram tíbios com as declarações sobre os escândalos e acusações. Pior, fez aliança com notórios corruptos do passado que continuam aí no presente e abriu mão de muitos dos seus melhores quadros por estas alianças.

E é exatamente por isso que penso que tanto o PT quanto o PSDB (e todos os demais) tem grandes débitos para com a sociedade. Que ambos foram e são, no mínimo, tolerantes com atos de corrupção, favorecimento de grupos e atitudes no mínimo imorais. Porque os dois partidos e antes dele o PMDB, para chegarem ao poder, se renderam ao “pragmatismo nefasto”. Quer um exemplo? Renan Calheiros foi do governo Collor, do FHC e agora do PT. Ninguém “abriu mão” de seu apoio. Por que? Porque ele tem uma estrutura eleitoral forte, baseada em relativamente poucos eleitores, dado o tipo de coeficiente eleitoral assimétrico que usamos. Se elegendo sucessivamente, troca, como trocou tantas vezes, de governo, sempre alugando seu apoio. Quer outros exemplos? Tem tantos. Maluf, Collor, família Sarney… se fosse arrolar todos, teríamos uma lista imensa. E desta lista, destes apoios, precisam os governos executivos. Com eles se faz acordos, a eles se tolera, as suas atitudes se aceita. Claro, os partidos do executivo em si têm sim seus podres também e devem responder por eles. Mas o fundamental é que todos se rendem ao “pragmatismo do poder”, pelo qual se aceita o podre em nome de estar no governo. Algo muito parecido com que Maquiavel dizia: “os fins justificam os meios”. O problema é que os meios contaminam os fins e é isso que vejo no Brasil.

Se você é petista, comece a cobrar mudanças dentro do partido. Se é do PSDB, também. Cada um dos partidos tem mais de um milhão de filiados. Se estes filiados realmente querem o fim da corrupção, precisam abandonar a postura defensiva e limpar a própria casa. Se você não é militante de partido algum, continue sim a se mobilizar. Sem isso não haverá mudanças e o jogo político sujo continuará, beneficiado pela apatia da sociedade.

Agora, se você quer mudanças, por favor, seja lúcido no que quer. Não se renda à estupidez de acreditar que um grupo vai ser o salvador da pátria. Se estudar um pouco da história, verá que não existem pessoas ou grupos assim. Existem povos com projetos e organização. Se você quer mudanças, tome cuidado também com o medo histérico, com a boataria. Vá as ruas, mas não se iluda com teorias de conspiração. Esse é um jogo antigo. Hitler, Stálin, Mussolini e outros tantos ditadores e oportunistas já usaram do pânico e da histeria social para chegarem ao poder. Preciso dizer no que deu?

renanfhc

renanlula

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