Coluna Somos Pop. Os condenados. Por Maxx Zendag

Esta mensagem é para você.

Você, que idolatrou uma certa cantora de soul, até mesmo enquanto assistia, pela TV, uma performance chocante, em que ela, visivelmente drogada, mal conseguia entoar os primeiros versos de uma canção icônica que dizia “Tentaram me mandar pra reabilitação / Eu disse ‘não, não, não’”.

Você que chorou a morte de um certo rei do pop, ainda que nunca o tivesse conhecido pessoalmente, e por conta da inegável qualidade e originalidade de sua música, se manteve convicto de que alguém como ele jamais seria capaz de aliciar garotos.

Você que passou horas, talvez dias, acampado na rua para ser o primeiro da fila no show de um garoto rebelde que veio até aqui para cuspir nos fãs.

Você, que carrega com orgulho o rótulo de “monstrinho”, pelo amor àquela pretensa nova rainha do pop, e foi ao delírio ao assistir, pelo YouTube, o grande clímax de seu show, em que ela vomita espontaneamente no palco.

Você, que manifestou seu apoio a um pobre cantor sertanejo, que sofreu a fatalidade de se envolver em um grave acidente de trânsito por beber antes de dirigir, além de ser injustamente abandonado por seu velho parceiro. Afinal, era só a segunda vez que ele cometia esse pequeno erro.

Você que presta todo o seu apoio moral a um rapper carismático que foi cruelmente atacado pela mídia, só por ter cometido a bobagem de agredir cruelmente a namorada, não por acaso uma das cantoras mais incríveis da atualidade.

Você, que vê no traficante um líder, e na polícia o verme.

Você, que, cegado pelo seu fanatismo partidário, amarga a convicção de que o partido vermelho foi vítima de um golpe orquestrado pela oposição e por renomados órgãos de Lei como o STF.

Você, que em 2013 foi às ruas protestar contra a presidente e o governador paulista para, um ano mais tarde, reelegê-los.

Você que manifestou, nas redes sociais, o apoio àqueles cidadãos de bem que acreditavam que a vida de alguns animais era soberana à sobrevida de milhares (talvez milhões) de seres humanos, e seguindo essa lógica puseram fim a valiosos anos de pesquisa para libertar cãezinhos. Afinal, eram tão fofos… Não eram simples vira-latas!

Você que considerou cruel a condenação à morte de um traficante em terras estrangeiras, enquanto diariamente, um sem número de compatriotas inocentes é condenado à morte por outros como ele.

Você, que acredita ser justificável a condenação à morte de cartunistas franceses, em nome de uma convicção religiosa.

Você que é adepto de uma certa religião (?) de fins puramente lucrativos, simplesmente por concordar que pagar bem caro por um lugar ao céu e barganhar a cura e o perdão são um bom negócio.

Se acredita que esta carta, seja em parte, ou pelo todo, é para você, seria um bom momento para refletir. Os teus ídolos de hoje são mais cruéis que os de ontem? Ou será que a sociedade não está canonizando os condenáveis e condenando os justos?

Não há líderes ruins. Um líder é apenas o espelho de seus seguidores. E, se você prestou atenção, reparou que não me refiro unicamente aos povo brasileiro, mas à humanidade em si.

Será que não há um Chris Brown na sua vizinhança? E quantas Amys não vemos nas sarjetas das grades cidades? Sem contar os Renners que, com sua irresponsabilidade ao volante, devastam milhares de vidas a cada ano. A diferença está no fato de essa grande maioria ser de anônimos. Isso não nos choca tanto.

E no fim das contas, enquanto nossos ídolos são indivíduos com atitudes condenáveis e péssimos exemplos para os jovens, os condenados somos nós.

Nascido em Piracicaba, amador na arte da escrita, artes gráficas e fotografia.

Autor do livro “A Águia Dos Ventos: O Leão Do Mirante”. Produziu a arte de cartazes para campanhas da Prefeitura de Piracicaba. Suas fotografias ganharam a exposição temática “É Uma Límgua Portugueza, Concertesa”, mostra paralela do Salão Internacional de Humor de Piracicaba em 2010. Selecionado para a edição de 2014 do Salão.

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