A sabedoria popular diz que para um homem se realizar na vida, ele deve plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro.
Madonna Louise Veronica Ciccone foi além: teve dois filhos biológicos e mais dois adotivos; escreveu livros infantis, além das letras da maioria de suas músicas; dirigiu e atuou em filmes; lançou diversos produtos licenciados, como perfumes, cosméticos e coleções de roupas; e ainda tem a sua própria rede de academias. Ela já ganhou um Oscar, dois Globos de Ouro e nove Grammys. E é bem possível que ela tenha encontrado um tempo, em seus mais de cinquenta anos de vida, para plantar uma árvore. Mas arrisco dizer que ela não é uma pessoa realizada. Seria porque não é um homem? Creio que não, afinal, o dito no início deste artigo não se refere exclusivamente ao sexo masculino. E ainda que esse fosse o caso, seria provavelmente mais um tabu quebrado por uma das mulheres mais influentes da era moderna.
A Rainha do Pop é, acima de tudo, um ser humano como qualquer outro, com suas fraquezas, dores e arrependimentos. Muitas de suas músicas sugerem que ela seja uma mulher infeliz no amor – fato comprovado pelo acompanhamento midiático de sua vida pessoal. Marcada por uma sucessão de fracassos na vida amorosa, ela já declarou, há alguns anos, que tem medo da solidão, e que sempre enfrentou problemas para manter longos relacionamentos por ter crescido sem a presença da mãe.
Atualmente, Madonna vive num inferno astral em sua carreira musical. Se por um lado, a diva já quebrou sucessivos recordes de faturamento com suas turnês de show, por outro ela não consegue mais marcar presença na mídia como antes. O maior inimigo da cantora não é a Lady Gaga com sua evidente aspiração ao trono, ou o fato de não trazer propostas tão inovadoras em sua música como em outrora – o que, aliás, também já acontece com sua “rival” – mas sim o tempo. Ele não perdoa ninguém. Milhões de dólares investidos em plásticas e personal trainers não foram suficientes para evitar que Madonna sofresse as inevitáveis mudanças físicas que a idade nos impõe e, assim, fosse superada pelas novatas – que certamente veem nela sua maior inspiração – como Britney Spears, Christina Aguilera, t.A.T.u. e, mais recentemente, Beyoncé e Miley Cyrus. Felizmente, essa superação não pode ser creditada apenas às marcas do tempo – embora ela ainda apresente uma excelente forma física – que se mostra incoerente com letras do tipo “como uma garota descontrolada” (da música Girl Gone Wild), ou da qualidade de sua música, mas simplesmente porque o público jovem se atrai muito mais pelo que é novidade.
Fiel seguidora do cabala, essa mulher talvez encontre na fé a força para enfrentar seus próprios fantasmas. Ainda assim, quem acompanha sua trajetória não tarda a perceber que ela não parece se sentir um ser humano completo e realizado. Isso porque, na realidade, ninguém nesse mundo o é.
Já plantei árvores, escrevi um livro e, tendo em vista que sou homossexual, a adoção é minha alternativa para ter um filho. E quando esta última coisa acontecer, tenho certeza de que ainda estarei muito longe da minha realização pessoal. Eis é uma das grandes lições que aprendi na vida: devemos sempre carregar dentro de nós a certeza de que somos incompletos. Há sempre algo para se aprender, experimentar ou fazer.
Quanto às três coisas citadas, penso que elas podem, sim, nos levar à completa realização, contanto que as interpretemos de outra forma.
A árvore pode ser um legado, uma marca que deixamos por onde passamos. Uma ideia que mudou o seu ambiente de trabalho, e que continue a ser praticada mesmo após a sua saída da empresa. Uma pessoa necessitada que você ajudou, não necessariamente com dinheiro ou bens, mas com palavras de apoio.
Um filho pode ser qualquer pessoa que, em algum momento da vida, você “adotou”, seja ao tirá-la do mau caminho, ou simplesmente por acolhê-la numa hora difícil. Podemos interpretar também como filho um animal que criamos desde o nascimento até o último suspiro. Não falo de se tratar um bichinho de estimação como um bebê, mas apenas de cuidar dele, respeitando suas particularidades e permitindo que tenha seu próprio espaço sem ceifar sua liberdade.
Um livro pode ser a história de sua própria vida. Não necessita de impressão em papel – no que as árvores agradecem. Refiro-me a sua trajetória neste mundo, que só é lida por completo por Deus – de quem você e todos nós somos filhos.
Portanto, não se preocupe em tentar alcançar a plena realização, pois ela jamais chegará. Penso que podemos nos sentir realizados em alguns setores de nossa vida, mas não todos. Pode-se ter dinheiro, mas faltar amigos. Ter beleza e faltar conteúdo. Ter família e faltar harmonia. Ou não ter poder, fama e fortuna, mas possuir todo o resto. O que talvez seja o contrário do que acontece com Madonna. Teria ela muito amigos de verdade? E harmonia? E humildade?
Quero plantar muitas árvores, escrever belas páginas no livro da minha vida e, claro, deixar o meu legado para um filho. E espero jamais perder essa vontade louca de correr atrás do inatingível.
Nascido em Piracicaba, amador na arte da escrita, artes gráficas e fotografia.
Autor do livro “A Águia Dos Ventos: O Leão Do Mirante”. Produziu a arte de cartazes para campanhas da Prefeitura de Piracicaba. Suas fotografias ganharam a exposição temática “É Uma Límgua Portugueza, Concertesa”, mostra paralela do Salão Internacional de Humor de Piracicaba em 2010. Selecionado para a edição de 2014 do Salão.
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Posted on 30 de março de 2015 por blogdoamstalden
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