Coluna da Carla. A Páscoa em nós. Por Carla Betta

Posted on 31 de março de 2015 por

10



lagarta confusa

Sou contadora de histórias e mediadora de leitura. Há um livro que uso na mediação intitulado “A lagarta confusa”, autoria de Annie Kubler e ilustração de Child’s Play, que eu e as crianças adoramos. A lagarta está confusa porque não sabe quem é e pensa ser outros animais até descobrir que é… uma lagarta. Mas, logo em seguida à alegria desta descoberta, o casulo cresce e a fecha neste invólucro. Quando se rompe, a lagarta já não sabe mais quem é novamente, pois lhe cresceram asas. Podemos traçar uma paralelo óbvio entre: lagarta e infância; casulo e adolescência e borboleta e vida adulta. Mas, o que considero mais interessante nesta singela história é que depois de descobrir a si mesma, ainda havia muito mais germinado na bela lagarta e ela pode até criar asas muito bonitas, que lhes trouxeram o voar. Inconscientemente, esta é uma conversa simbólica entre a criança e a história (não importa se a criança tem 55 anos…) e a infindável possibilidade de transformação em alguém melhor.

A Páscoa comemora a ressurreição do Cristo. Ressurreição lembra… ressurgimento. Quando todos pensaram que Jesus havia morrido, havia “acabado” e não voltaria mais… Ele ressurgiu!

Jesus transformou a morte em VIDA! Jesus transforma. Transformou a água em vinho como prenúncio do QUANTO Ele pode transformar! Transformou simples pescadores em apóstolos; transformou Maria de Magdala em pessoa feliz, caridosa e benevolente. Transformou Maria_ mãe amorosa, esposa dedicada e dona-de-casa prendada_ na Mãe de toda a humanidade! Transformou a todos que O conheceram naqueles tempos, mais de 2000 anos atrás, seja no lago de Genesaré, nos desertos, nas cidades ou vilarejos_ e até de cima do telhado da casa de Pedro (no caso do paralítico).

Jesus dizia: “Tua fé te salvou”. E daqueles tempos em diante, aqueles que_ como alguns de nós_ confiam que ter fé nos ensinamentos do Mestre pode salvar, têm suas vidas transformadas. Não porque Jesus salva. De fato, Ele não salva ninguém. Nós é quem salvamos a nós mesmos ao aceitarmos a necessidade de nos transformarmos, seguindo os ensinamentos de Jesus.

Jesus disse: “Eu sou a Verdade, o Caminho e a Vida”.

“Meu Deus, quanta violência”; “Meu Deus, quanta guerra”; Meu Deus, o motorista “cortou” a minha frente; “Meu Deus, a banalização do sexo”; “Meu Deus, a pedofilia!”; “Meu Deus, quantas famílias desequilibradas”; “Meus Deus…..!” Nesse mundo de “meus deuses”, como trilhar esse caminho?

Jesus também disse: “Sede perfeitos, como perfeito é nosso PAI que está nos céus”. A primeira vez que escutei isso (na missa ou no catecismo), eu pensei: “Esse Jesus está delirando…” “Eu? Ser perfeita?…” “Essas pessoas ao meu redor com tantos defeitos serem perfeitas?!” “Iguais a Deus??!!”… (Êpa!!) E até há poucos anos atrás, eu ainda pensava que Jesus havia tido um momento de desequilíbrio ao imaginar que essa humanidade formada por indivíduos tão, mas tão cheios de defeitos poderia ser perfeita…!”

Mas, pensemos bem: na Bíblia não está escrito que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus? Então, como será Deus? Terá um rosto? Nariz comprido ou nariz achatado? … Será desta similitude que a Bíblia fala? (“Vós sois deuses”, disse o famoso galileu) Somos deuses, porque carregamos dentro de nós mesmos a centelha divina, essa luz pequenina, mas forte, que contém todas as virtudes e toda a perfeição divina a serem desenvolvidas. Precisamos cultivar essas sementes.

Parece a mim que Jesus sempre orientou, nunca ordenou. Ao ser indagado sobre qual seria o maior dos mandamentos, Ele repete a Lei recebida por Moisés: “Amarás a teu Deus de toda a alma e de todo o coração…” e Jesus completa: “…amarás ao próximo como a ti mesmo”. Mas, este não era um texto Seu. Ele se fundamentou nos – 10 Mandamentos – . Não era Seu estilo, nem o Seu modo peculiar de ensinar. Porém, me recordo de apenas uma única vez em que Ele ordenou: “Faça!” e esta ordem foi: “BRILHE A VOSSA LUZ!”

Isto é, faça brilhar a sua luz interior, faça reluzir a sua centelha divina, desenvolva as suas virtudes até que elas sejam a perfeição, “como é perfeito nosso PAI, que está nos céus”!

Neste mundo de “meus deuses”: “Meu Deus, quanta superficialidade!’”; “Meu Deus, quantos valores equivocados”, como estimular, orientar e auxiliar às crianças e aos jovens a se aproximarem de Deus, a descobrirem a sua centelha divina, a fazerem brilhar sua luz própria, a caminharem rumo à verdade, à vida, à felicidade?

Sofremos_ nós, as crianças e os jovens_ um bombardeamento de extrema valoração das coisas materiais. “Meu Deus, TEM que comprar”; “Meu Deus, tem que beijar logo”; “Meu Deus, o importante é TER”; “Meu Deus, como sentimos um vazio dentro de nós”; “Meu Deus: a depressão, a síndrome do pânico….” Nesse ambiente, a FÉ acaba sendo um oásis em meio ao deserto árido e infértil.

Jesus era judeu. A Páscoa (Pessach) já se comemorava como a Festa da Libertação, da transformação de um povo escravo para um povo livre. A base de nossa moral cristã é judia. O meigo rabi da Galiléia transformou os ensinamentos da Torá, em minha opinião, evoluindo-os moralmente. Pessach (em português, “passagem”) celebra a libertação dos filhos de Israel depois de mais de dois séculos de escravidão no Egito, dois mil anos antes de Cristo. Muito mais do que uma festa, ela é uma oportunidade de libertação da alma de suas escravaturas. Assim como o mar se abre (Mar Vermelho), abrem-se as visões para que se aclare o auto-conhecimento e cada um possa encontrar a sua essência, a essência divina, o conjunto das qualidades morais que dormem dentro de cada um de nós. Atravessaram o deserto árido e infértil até chegarem à Terra Prometida, não sem antes superarem obstáculos. Havemos de ultrapassar o egoísmo e o orgulho que nos regem para revelarmos o amor e fraternidade que compõem nosso âmago.

Sou espírita. Creio na evolução humana através das reencarnações. Isto não significa protelarmos mudanças interiores indefinidamente, mas nos empenharmos cada vez mais para diminuirmos nosso sofrimento e desvelarmos a verdadeira felicidade.

A educação baseada na valoração e desenvolvimento das virtudes seja para adultos, jovens ou crianças é o fio condutor da energia existente dentro de cada um para estimular e fazer brilhar a nossa luz interior, nosso verdadeiro –eu-.

Que nesta Páscoa: BRILHE A VOSSA LUZ!

Posted in: Coluna da Carla