Os diamantes e a vida. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 1 de abril de 2015 por

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Costumamos valorizar o que é raro, daí os altos preços do ouro, da prata, da platina e dos diamantes. Claro, eles são bonitos também e no caso dos diamantes, resistentes, com usos industriais. Mas o fato é que, no Universo, diamantes não são tão escassos. Segundo o Dr. Kevin Beines, do laboratório de propulsão a jato da NASA, por volta de mil toneladas de diamantes são criados por ano em Saturno, no nosso sistema solar. Por condições de temperatura, pressão e pela presença de elementos químicos necessários, o cristal literalmente “chove” na superfície de Saturno. Mas não é só lá. No planeta Wasp 12 – b, a mil e duzentos anos luz da Terra, existem massas continentais inteiras feitas de diamante e um outro planeta, 55 Cancri – e, que é duas vezes maior do que a Terra e está a quarenta anos luz daqui, é todo ele feito do cristal, todo ele um grande diamante.

Claro, estão longe demais e hoje são inacessíveis. Na verdade não sabemos se serão acessíveis um dia e mesmo que venham a ser, o que aconteceria se conseguíssemos chegar lá e retirar o minério? Na verdade ele perderia o valor, deixaria de ser raro e então, ficaria barato, muito barato. Confesso que não pesquisei, mas acho que se o fizesse, descobriria que outros minérios preciosos aqui são também abundantes no Universo. Penso que ouro, platina etc, devem existir em grandes quantidades, afinal são apenas elementos químicos que, dependendo das condições, se formam naturalmente como se formaram aqui.

Há, no entanto uma coisa que é de fato muito rara ou parece ser no Universo. Algo que até agora ninguém descobriu em outros planetas e que, embora alguns acreditem que possa existir, até então não existem traços. Esta coisa tão rara é a vida. E não só a vida humana, mas toda ela.

E de fato, ela não é incrível somente por ser aparentemente rara, mas porque é complexa e delicada. Ouro é apenas o elemento químico Au e o diamante uma forma do carbono. Outras pedras podem ter elementos diversos, que alteram a sua cor, mas a vida, a vida não. Ela é muito mais complexa porque consiste de um “mecanismo” auto reprodutivo. Pense bem: um pequeno ser de uma célula só, realiza complexas reações químicas no seu interior. Gera um DNA e o transmite. A composição química e as funções de um único DNA são mais sofisticadas do que a de uma rocha de ouro puro, que é inerte, não se reproduz e não tem consciência. A vida não. Quanto mais complexa, maiores e mais sofisticadas são as reações, funções e inter-relações que o ser vivo mantém dentro de si e com o seu exterior, somado a este exterior os demais seres vivos.

Complexa, sofisticada e frágil. Cada forma de vida depende de condições atmosféricas, climáticas, químicas e de radiação solar específicas. Uma alteração mais intensa e temos a extinção em massa, como já aconteceu antes. Um desequilíbrio entre espécies pode causar o mesmo efeito, alterando relações intrincadas de mútua dependência. A vida não existe por si só e tampouco isoladamente. Ela existe em dependência de condições muito especiais e de outras formas de vida. E estas condições raras, bem como os outro seres vivos, nós temos aqui, na Terra, ao nosso redor, em nós mesmos. Não sabemos, repito, se existe em outros lugares e de que maneira. Sabemos que pode existir, mas não se existe, ao contrário dos diamantes, por exemplo. Aliás, estes últimos nós podemos até fabricar, mas a vida não. Mesmo a manipulação genética só é possível a partir de um DNA já existente. Nós não somos capazes de criar a vida, mas somos capazes de destruí-la, como de fato, fazemos todos os dias.

Já extinguimos espécies inteiras, alteramos outras e, muito mais grave, temos provocado tantas mudanças na Terra que ameaçamos a nossa própria existência, bem como a de bilhões de outros seres. Nós, que somos a vida, não percebemos nossa raridade, nossa fragilidade. Não percebemos que somos dependentes uns dos outros, e isso tanto entre seres humanos quanto entre estes e o restante da vida. Talvez não percebamos até que seja tarde demais para criarmos uma outra ética para com os seres vivos todos. Uma ética que valorize o que é realmente precioso.

A Páscoa é a celebração da vitória da vida sobre a morte. É um bom momento para refletirmos se realmente queremos esta vitória ou, na nossa inconsciência, preferimos o triunfo da morte.

Boa Páscoa.

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