Voto de protesto, ou voto de “zoeira” como se diz hoje, não é novidade. Em 1959, os eleitores de São Paulo “elegeram” o rinoceronte Cacareco, então morador do zoológico daquela cidade, para vereador com mais de 100 mil votos. Depois veio o macaco Tião, do zoo do Rio de Janeiro, em 1988, com 400 mil votos. Mas antes os animais fossem os únicos candidatos. Os partidos sabem que lançar candidatos “excêntricos” para não dizer esdrúxulos, é uma boa forma de capitalizar votos. Ocorre que pelas leis eleitorais atuais, votos em um partido ajudam a legenda toda. Se um partido ou coligação lança um candidato assim, os votos dele ajudarão a eleger outros membros que, caso contrário, não alcançariam um número suficiente para ocuparem cargos. O caso mais significativo foi e é o do palhaço Tiririca, que foi eleito em 2010 com mais de um milhão e trezentos mil votos. Nos vídeos de sua campanha, alegava em tom irônico que não sabia o que um deputado federal fazia e que cuidaria da família, principalmente a dele… (tenho certeza de que esta promessa de campanha foi cumprida à risca).
Conheci várias pessoas que votaram em Tiririca. Alegavam ser um protesto e que nada melhor do que eleger um palhaço para o circo que seria o Congresso. Outros ainda, principalmente mais jovens, alegavam que era “zoeira”, a bagunça sem sentido que parece ser uma das características de nossa sociedade atual. O que estes eleitores talvez não saibam (ou não levam em conta, no espírito da “zoação”, é que Tiririca levou com ele para o “circo”, mas três deputados que não conseguiriam votos suficientes se não fosse a palhaçada. E aí se configura a situação. Tiriricas são “puxadores de votos” que capitalizam a insatisfação popular ou a pura infantilidade e servem brilhantemente para os políticos e partidos que mantêm a estrutura clientelista, egoísta e corrupta de nossa política.
Na sociedade midiática de agora, na qual vale tudo para aparecer, independente de quão ridículo isso seja, os partidos “caçam” palhaços, excêntricos e as vezes alguns ingênuos desfavorecidos, para capitalizarem seus votos em prol de candidatos que realmente vão se eleger. Em Piracicaba, um dos “puxadores de voto” é o chamado torcedor símbolo do XV, Saponga, que concorrerá agora em 2016. Não conheço pessoalmente este cidadão e digo que pode até ser uma boa pessoa, mas não acredito que aqueles que o convidaram estejam pensando em outra coisa a não ser nos votos de protesto (ou de “zoeira”) que ele trará, ajudando a eleger ou reeleger os velhos políticos.
Saponga vai ser eleito? Não sei. A julgar pelo descontentamento geral com a política hoje, eu diria que tem chances. Mas quem realmente vai ser eleito são alguns vereadores que já estão no poder e que, valendo-se da legenda, contabilizarão os votos de Saponga. Você duvida? É fácil conferir. Basta analisar a coligação à que ele pertence e ver quem, da mesma coligação, já está na Câmara e se valerá do coeficiente eleitoral inflado por Saponga (e não é só ele, tem outros, vários outros).
A maioria das pessoas que conheço está insatisfeito com a política. Querem mudanças, querem seriedade, querem participação. Mas muitos, infelizmente, vão votar nulo, branco ou em protesto, nos “Sapongas”. Se você realmente está insatisfeito, quer mudança, pare para pensar. Só existe uma maneira de conseguir que a política se transforme realmente em uma democracia. Escolha alguém cujas ideias você compartilhe, vote nele e depois cobre, cobre muito, fique por perto, mande mensagens, dialogue e se for necessário proteste. Votos brancos e nulos não fazem a menor diferença. Ao contrário dos boatos que voltam a circular oportunamente nessa época, uma eleição NÃO é anulada se mais de 50% dos votos forem inválidos. Ao contrário, quando você vota nulo ou branco diminui a chance daqueles que talvez sejam melhores a aumenta a das velhas raposas políticas. Tampouco o voto de protesto nos Tiriricas e Sapongas muda alguma coisa. Votar assim (ou não votar) é cuspir para cima. Você pensa cuspir na velha estrutura, mas cospe na sua própria face. Não existem milagres ou coisas fáceis na política. Existe voto de acordo com suas convicções e cobrança, muita cobrança.
PS: Caso eu esteja enganado e o candidato Saponga tenha, realmente, uma proposta concreta para a vereança e um bom conhecimento do papel de um vereador, estou à disposição para conversar com ele e transcrever as minhas perguntas e as suas respostas. Nesse caso eu me penitenciarei pelo meu engano e ao mesmo tempo divulgarei suas concepções políticas.
Marcelo Dotta
11 de setembro de 2016
Caro Amstalden, o resultado de uma divisão é quociente. As vagas do legislativo são disputadas levando – se em conta o número de votos válidos, divididos pelo número de cadeiras na Câmara. Daí o quociente eleitoral.
Espero ter contribuído com este importante tema pois sei o quanto é confuso.
Cordiais saudações, Marcelo Dotta
Antonio
11 de setembro de 2016
Professor, mais uma vez preciso em um post pequeno, mas suficientemente claro para um bom entendedor.
Devemos essa lei eleitoral ao Sr. Ulysses Guimarães, o Sr. Diretas, deputado que em mais de 50 anos na Câmara Federal não teve um único projeto aprovado. Este senhor cantado de odes de democrata, na minha opinião, legitimava os ditadores militares na medida em que concorria sabendo de antemão que seria derrotado. Sua candidatura nada mais era do que legitimar o vencedor o general colocado como plantonista.
O Sr. Ulysses como todos devem se recordar, lutou e brigou muito para que o Congresso fosse constituinte também ao invés de ser exclusiva. Desta forma, gambás e raposas foram chamados para construir o galinheiro, circo, pocilga prostíbulo ou qualquer nome mais apropriado para nossas casas de leis.
Para mim, francamente, pouco importa se nas próximas eleições ou nas subsequentes houver puxadores de votos.
Diante do golpe de estado que este país sofreu, de forma “legal” completamente imoral com objetivo de atender interesses estrangeiros e internos, neste caso para livrar de punição notórios corruptos que é para onde se caminha, não pretendo mais perder meu tempo analisando plataformas e o próprio candidato.
Já que poucos são donos deste país, já que justiça é uma mera formalidade que serve aos interesses de uns poucos e os tribunais são apêndices de partidos políticos, para que querem meu voto.
Desta vez pouco mais de 54 milhões de eleitores foram desrespeitados naquilo que é o âmago do que chamam democracia, o voto, que importa se esse candidato de Piracicaba ou outro qualquer em qualquer cidade seja eleito ou reeleito, se for do agrado dos poderosos permanece e termina o mandato senão, como cabalmente demonstrado, será defenestrado.
Desta forma, deveríamos olhar o candidato não com os olhos de eleitor, mas com olhos de quem manda neste país, grandes corporações, empresários e mídia. Não concordo com isso, portanto daqui para frente não voto mais e aguardo uma lei que torne o voto facultativo para não perder tempo em justificar.
E nessa crítica aos gambás e raposas, sem querem ofender os bichinhos da natureza, incluo aqueles que eram contra o golpe de estado que na minha opinião deveriam ter renunciado em bloco, no momento seguinte à consumação do golpe.
Permanecer nas casas legislativas, federal, estadual e municipal é repetir o triste papel de Ulysses Guimarães, referendar os ditadores de plantão.
Dar legitimidade a quem não tem nenhuma!