Cuspindo para Cima. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 11 de setembro de 2016 por

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tiririca

Voto de protesto, ou voto de “zoeira” como se diz hoje, não é novidade. Em 1959, os eleitores de São Paulo “elegeram” o rinoceronte Cacareco, então morador do zoológico daquela cidade, para vereador com mais de 100 mil votos. Depois veio o macaco Tião, do zoo do Rio de Janeiro, em 1988, com 400 mil votos. Mas antes os animais fossem os únicos candidatos. Os partidos sabem que lançar candidatos “excêntricos” para não dizer esdrúxulos, é uma boa forma de capitalizar votos. Ocorre que pelas leis eleitorais atuais, votos em um partido ajudam a legenda toda. Se um partido ou coligação lança um candidato assim, os votos dele ajudarão a eleger outros membros que, caso contrário, não alcançariam um número suficiente para ocuparem cargos. O caso mais significativo foi e é o do palhaço Tiririca, que foi eleito em 2010 com mais de um milhão e trezentos mil votos. Nos vídeos de sua campanha, alegava em tom irônico que não sabia o que um deputado federal fazia e que cuidaria da família, principalmente a dele… (tenho certeza de que esta promessa de campanha foi cumprida à risca).

Conheci várias pessoas que votaram em Tiririca. Alegavam ser um protesto e que nada melhor do que eleger um palhaço para o circo que seria o Congresso. Outros ainda, principalmente mais jovens, alegavam que era “zoeira”, a bagunça sem sentido que parece ser uma das características de nossa sociedade atual. O que estes eleitores talvez não saibam (ou não levam em conta, no espírito da “zoação”, é que Tiririca levou com ele para o “circo”, mas três deputados que não conseguiriam votos suficientes se não fosse a palhaçada. E aí se configura a situação. Tiriricas são “puxadores de votos” que capitalizam a insatisfação popular ou a pura infantilidade e servem brilhantemente para os políticos e partidos que mantêm a estrutura clientelista, egoísta e corrupta de nossa política.

Na sociedade midiática de agora, na qual vale tudo para aparecer, independente de quão ridículo isso seja, os partidos “caçam” palhaços, excêntricos e as vezes alguns ingênuos desfavorecidos, para capitalizarem seus votos em prol de candidatos que realmente vão se eleger. Em Piracicaba, um dos “puxadores de voto” é o chamado torcedor símbolo do XV, Saponga, que concorrerá agora em 2016. Não conheço pessoalmente este cidadão e digo que pode até ser uma boa pessoa, mas não acredito que aqueles que o convidaram estejam pensando em outra coisa a não ser nos votos de protesto (ou de “zoeira”) que ele trará, ajudando a eleger ou reeleger os velhos políticos.

Saponga vai ser eleito? Não sei. A julgar pelo descontentamento geral com a política hoje, eu diria que tem chances. Mas quem realmente vai ser eleito são alguns vereadores que já estão no poder e que, valendo-se da legenda, contabilizarão os votos de Saponga. Você duvida? É fácil conferir. Basta analisar a coligação à que ele pertence e ver quem, da mesma coligação, já está na Câmara e se valerá do coeficiente eleitoral inflado por Saponga (e não é só ele, tem outros, vários outros).

A maioria das pessoas que conheço está insatisfeito com a política. Querem mudanças, querem seriedade, querem participação. Mas muitos, infelizmente, vão votar nulo, branco ou em protesto, nos “Sapongas”. Se você realmente está insatisfeito, quer mudança, pare para pensar. Só existe uma maneira de conseguir que a política se transforme realmente em uma democracia. Escolha alguém cujas ideias você compartilhe, vote nele e depois cobre, cobre muito, fique por perto, mande mensagens, dialogue e se for necessário proteste. Votos brancos e nulos não fazem a menor diferença. Ao contrário dos boatos que voltam a circular oportunamente nessa época, uma eleição NÃO  é anulada se mais de 50% dos votos forem inválidos. Ao contrário, quando você vota nulo ou branco diminui a chance daqueles que talvez sejam melhores a aumenta a das velhas raposas políticas. Tampouco o voto de protesto nos Tiriricas e Sapongas muda alguma coisa. Votar assim (ou não votar) é cuspir para cima. Você pensa cuspir na velha estrutura, mas cospe na sua própria face. Não existem milagres ou coisas fáceis na política. Existe voto de acordo com suas convicções e cobrança, muita cobrança.

PS: Caso eu esteja enganado e o candidato Saponga tenha, realmente, uma proposta concreta para a vereança e um bom conhecimento do papel de um vereador, estou à disposição para conversar com ele e transcrever as minhas perguntas e as suas respostas. Nesse caso eu me penitenciarei pelo meu engano e ao mesmo tempo divulgarei suas concepções políticas.