Em meio à crise política atual, que se arrasta há anos, chegamos a um novo momento. Michel Temer é acusado de incentivar propinas a Eduardo Cunha para que esse não “abra o bico”. Aécio Neves, cujo partido que preside fez um bombástico programa eleitoral na semana passada, defendendo uma nova política ética, humilde e honesta, foi pego (gravado e rastreado) pedindo propina que foi paga. A Lava a Jato ainda não conseguiu, ou pelo menos não mostrou, provas de que Lula realmente recebeu o famoso triplex como propina, mas está tentando.
Agora, o quadro se complica. Pela Constituição, em caso de renúncia (o que ele diz que não irá fazer), cassação ou impeachment de Temer, quem assume o governo, por trinta dias, é o presidente do Congresso, Rodrigo Maia, que está com indiciado em inquérito, assim como seu pai, César Maia, aberto por recebimento de propina. Ainda segundo a Constituição, Rodrigo Maia terá trinta dias para convocar eleições indiretas, ou seja, feitas pelo Congresso. Esse mesmo Congresso, por sua vez, tem um grande número de deputados e senadores também sob investigação. Destes, 65%, segundo o jornal Folha de São Paulo, pertencem à base aliada de Temer. Pior, esse Congresso é, a meu ver, ilegítimo não só pelas suspeitas que recaem sobre ele mas também pela postura abertamente interesseira que demonstrou até agora, trocando votos por vantagens, por emendas parlamentares (liberação de verbas para seus currais eleitorais) ou cargos no governo para seus protegidos. E isso para não falar no franco parasitismo de outros lá, cheios de privilégios, com poucas propostas, negociando sempre sua eternidade no cargo.
Como podemos aceitar isso? Se você que lê esse artigo, pode, eu não posso. Eu não aceito. Não considero esse Congresso legítimo e digno da minha confiança, para não dizer do meu respeito. Assim como considero que nada de bom pode sair de uma eleição presidencial indireta com esse senadores e deputados. O mais provável é que se loteiem os cargos e vença um nome que tentará atenuar as punições aos políticos citados. Aécio Neves, agora há pouco, já falou em “frear a lava a jato” e legalizar o caixa dois de campanha (e olha que, segundo o Ministério Público, o dinheiro que ele recebeu da JBS foi parar em uma empresa de outro deputado). O que virá, penso eu, é outro presidente ilegítimo e leniente com a casta política, em detrimento de nós, “párias políticos”.
Diante de tudo isso, e na imperiosa necessidade de ser uma pessoa pensante, dotada de um senso ético que procuro cultivar, eu defendo uma eleição geral já. Geral mesmo, com a destituição de todos os deputados, senadores e, claro, de Temer. Vou além, de todos os governadores e deputados estaduais.
E defendo essas eleições não somente porque repudio o Congresso e políticos agora no poder, mas porque penso que, diante da comoção geral, haverá a possibilidade de termos “sangue novo” sendo eleito. Acredito que há possibilidade de velhas ratazanas perderem as eleições. Que uma campanha eleitoral assim, seria curta e cruel, uma verdadeira “carnificina” de imagens, nas quais os acusados teriam que se defender ás claras e os isentos poderão se colocar. Acima de tudo é nesse debate, nessa campanha acirrada, necessária à verdade e à democracia, que aposto.
Claro, um processo assim terá riscos, como já vi amigos dizendo nas redes sociais. Riscos (para muitos que o odeia ou se decepcionaram) de Lula ser reeleito, mas também risco de uma aberração ideológica como Jair Bolsonaro ganhar a eleição. Há o risco do populismo ganhar força e do autoritarismo também.
Mesmo assim, eu penso que esse risco é digno de ser corrido. A opção, como eu já disse, é a manutenção desse Congresso ou de um presidente desacreditado. Dessa estrutura viciada até que toda a poeira assente e sorrateiramente os mesmos ser reelejam no ano que vêm. A manutenção de uma política de imagens e privilégios.
Você pode argumentar que, mesmo que eu esteja certo, nada garante que os novos eleitos serão honestos. E terá razão, nada garante. Mas, também há a chance de uma verdadeira mudança no Brasil. Uma mudança em direção a uma política mais limpa, com mais observação, controle e empoderamento da população. Isso pode acontecer. Vai depender do nosso empenho em cobrar e protestar. E o clamor público por isso, já seria um claro recado aos políticos de que as coisas têm que mudar. Melhor ainda, serviria para que a população se sentisse (pela primeira vez, quem sabe) relevante, para que reconhecesse enfim, que o poder emana dela e não de castas privilegiadas.
As eleições gerais que defendo não estão na Constituição. Todos os partidos vão argumentar isso, assim como especialistas. Mas a lei deve existir para o bem comum e, por isso e para isso, pode ser mudada, ainda que em momentos de tensão e, talvez, exatamente nestes, onde ficam mais claros os cenários de afastamento dos políticos e do povo.
A partir de amanhã, uma vez que não consegui uma hoje, vou usar, até tudo isso se concluir, uma braçadeira preta, de luto, com a inscrição “Eleições Diretas Já!”.
Será, assim como este artigo, minha manifestação solitária. Talvez algumas pessoas que concordem façam o mesmo. Talvez milhares. O mais provável é que sejam poucas. Não importa. Eu usarei e defenderei essa ideia assim mesmo, porque acima de tudo, meu compromisso ético e minha capacidade de reflexão, começam comigo mesmo. Isso pede minha coerência pessoal, ainda que seja para usar uma braçadeira solitariamente.
Mesmo que nada mude e eu tenha defendido a ideia sozinho, mesmo que eu esteja errado e perceba no futuro, vou fazer isso agora.
Não será a primeira vez (e nem a última) em que defendi algo que não se concretiza. E não será a primeira vez (e em a última) em que me sentirei em paz comigo mesmo. Em paz, não por ser “dono” da verdade ou ética, uma vez que não o sou. Mas por buscar a verdade e a ética, mesmo que isso me leve a pensar e me manifestar sozinho.
Luis Fernando Amstalden
PS: Antes de ouvir as inevitáveis críticas de que estou defendendo este ou aquele, aviso que seja por um triplex, seja por centenas de milhões, quero que todos aqueles que cometeram desviam sejam punidos. Não acredito em “líderes supremos”, “pessoas perfeitas” ou “salvadores da pátria”. Acredito em escolhas, racionalidade, democracia, direitos humanos, justiça social e controle social da política.
Maricell
18 de maio de 2017
Também “Não acredito em “líderes supremos”, “pessoas perfeitas” ou “salvadores da pátria”. Acredito em escolhas, racionalidade, democracia, direitos humanos, justiça social e controle social da política.”
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