Os Bolsonaro, a China e a epidemia. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 20 de março de 2020 por

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Fnte UOL

Se você ainda não está sabendo, ontem Eduardo Bolsonaro criticou a China pelas redes sociais. Afirmou que o país escondeu dados sobre a epidemia de coronavírus e não tomou as medidas necessárias a tempo de evitar uma pandemia.
O embaixador chinês reagiu , também pelas redes sociais, dizendo que aquilo era um insulto ao povo chinês e que Eduardo parecia ter contraído uma doença intelectual. Como nada é ruim o suficiente, hoje o deputado Feliciano, pródigo desde que afirmou que a África era um continente amaldiçoado, apoiou o “”chefe” e pediu a expulsão do embaixador chinês. Mourão, pouco antes, havia tentado acalmar os ânimos declarando que a posição de Eduardo não era a do governo. Mas, à tarde, o ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, também saiu em defesa do clã Bolsonaro e exigiu desculpas do embaixador chinês. Este último fato torna, portanto, a questão “oficial”, contrariando Mourão.
Pessoalmente eu não sou nenhum entusiasta da crescente influência chinesa em nossa economia e considero o fato de dependermos de exportações para este país, um risco. Mas a reversão desta dependência não pode ser alcançada por afirmações estúpida, e a afirmação de Eduardo bem como a de Feliciano e Ernesto, foram estúpidas.
E foram por dois motivos: em primeiro lugar, embora um governo distrital chinês tenha ignorado o alarme do médico Li Weliang, que acabou falecendo pela infecção e hoje é herói nacional, a Chna em si tomou medidas drásticas, tanto em termos sociais quanto econômicos para deter a epidemia, tanto é verdade que hoje o número de mortos chineses é menor do que os mortos da Itália, país muito menos populoso. (3400 italianos mortos até hoje contra 3,250 chineses). A china também construiu hospitais (públicos) em tempo recorde, bem como investiu em equipamentos de respiração artificial e de proteção.
Em segundo lugar, as afirmações são estúpidas porque, embora indesejável e perigosa, nossa dependência econômica em relação a China existe agora e estamos em uma crise econômica monstruosa, tanto pela epidemia quanto pela própria situação de desemprego no Brasil.
Neste contexto, criar uma polêmica com o governo chinês, é extremamente imprudente e, em português claro, mesmo que repetitivo, estúpido.
Se os chineses alimentarem esta discussão, a bolsa de valores brasileira pode sofrer novas quedas, já que as bolsas trabalham em cima de expectativas e as mesmas podem ficar ruins. Pior, se a China fizer mesmo que uma pequena retaliação ao comércio com o Brasil ou em seus investimentos aqui, nossa crise pode ficar intolerável.
Os Bolsonaro se elegeram movidos a fake News e teorias da conspiração, tais como a da “mamadeira de piroca e o kit gay”. Se elegeram criando inimigos monstruosos para que a população fique com medo e os veja como salvadores da nação. Agora fazem o mesmo com os chineses, atribuindo a eles a culpa pela pandemia. O povo tende a acreditar. É um fenômeno antigo o de buscar culpados para catástrofes. Na época da peste negra culpava-se os judeus. Agora culpa-se os chineses.
Os Bolsonaro inventam conspiradores para justificar sua incapacidade de governar e sua falta de planos para o país, bem como para que seus próprios crimes sejam obscurecidos (Queiroz, rachadinhas, milícias. Laranjas).
Mas independente da crença da população em um vírus “fabricado” pela China, como temos visto e ouvido muitos falarem e em cuja “onda” Eduardo Bolsonaro quer “surfar”, a China não é um país desprezível. Na noite do dia 19 a embaixada chinesa refutou a comunicação de Araújo e voltou a exigir desculpas de Eduardo.
Cabe lembrar que o governo chinês ofereceu, inclusive para o Brasil, ajuda para combate a pandemia, inclusive com materiais de segurança e equipamentos hospitalares. Pode ser que essa ajuda, tão necessária, não venha mais. E essa seria a retaliação mais branda.
Por último, se a crítica de Eduardo foi a de falta de liberdade de expressão na Cina que teria retido as informações da doença, devemos lembrar que seu pai não é simpático a tal liberdade, inclusive a de imprensa. Seu pais também tem minimizado a pandemia, inclusive ficando em meio aos seus apoiadores, como fez no último domingo.
Isso é tão ruim quanto reter informações. Talvez seja até pior, porque não deixa de ser algo que desinforma o povo e o expõe.
Torçamos para que a China não faça retaliações ou, o que é menos provável, que o governo brasileiro peça desculpas.