Mamãe falei foi ao “mercado exterior”. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 7 de março de 2022 por

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Já é consenso entre a opinião pública, os analistas políticos, articulistas e jornalistas que Arthur do Val agiu como um moleque, aliás, ele mesmo  disse ter se portado como tal no vídeo em que tentou se defender.

Mas, na verdade ele não agiu como um moleque, ele É um moleque e seu sucesso midiático e político deve-se EXATAMENTE a isso, a esse comportamento infantil, mal educado, irresponsável como aquele atribuído pela língua portuguesa ao adjetivo “moleque”.

Em uma sociedade de consumo como a nossa sociedade em que temos menos importância enquanto produtores do que enquanto consumidores, todos nós, segundo o sociólogo  Zygmunt Bauman, tornamo-nos também “mercadorias  a venda”, seja em nossos currículos, para efeito de contratação, seja enquanto “influenciadores digitais” a sermos seguidos e monetizados pelos likes e acessos aos nossos perfis, ou ainda para nos inserirmos na sociedade que passa a nos valorizar enquanto “imagens” e não enquanto seres humanos.

Nessa sociedade de consumo, somos treinados socialmente para sermos infantis, para sermos moleques e molecas. O cientista político Benjamin Barber nos lembra que crianças agem por pulsão, sem as considerações racionais e de responsabilidade de um adulto. Assim, não interessa ao mercado a existência de adultos, e sim de adultos infantilizados,  incapazes de refletir para além da aparência, de calcular custos e benefícios, de entender que o futuro é imprevisível  e demanda responsabilidade. Somos treinados para sermos “”consumidores soberanos” que, tal qual uma criança em um supermercado ou  loja de brinquedo, joga-se no chão e grita que quer poque quer algo, não importando nada mais do que a satisfação daquele desejo imediato.

Não é de se espantar, portanto, que a sociedade de consumo produza jovens e adultos que se portam como crianças, seja na forma de se vestir, na relação com o outro ou até mesmo na sua “análise irreal” do mundo que nos cerca. Crianças que se vendem e se compram, sem razão, ética ou responsabilidade.

Nesse sentido, “mamãe falei” se coloca como produto, sempre se colocou assim em suas redes sociais: um produto cuja imagem é de “contestação e enfrentamento” de uma sociedade estabelecida. Mas também se coloca como consumidor na medida em que do alto de sua “autonomia do consumidor sempre tem razão”, exige aquilo que deseja, em altos brados, sem argumentação, sem diálogo e sem mesmo conhecimento profundo do que está querendo “consumir”.  Ele age como a criança do supermercado que grita, e com isso atraiu a atenção de outras “crianças” que o “compram” porque ele é um “produto consumidor” com o qual elas se identificam.

É o mesmo caso do “influenciador” Monark sobre o qual escrevi há pouco, que admitiu não gostar de estudar e disse em uma entrevista com Gabriela Prioli que discutir em cima de dados “é muito chato”. Aliás, Monark, “mamãe falei”, assim como seu “amiguinho” Kin Katagiri, parecem defender o “livre mercado e o livre” consumo em tudo, até o “mercado e o consumo” de ideologias da morte, como o nazismo.

Mas voltemos ao Arthurzinho. O que ele foi fazer na Ucrânia nada tinha a ver com humanitarismo, solidariedade ou ideologia. Ele foi vender a si próprio enquanto um ativista ousado e corajoso, sendo que enquanto deputado estadual, teria muito mais a fazer aqui do que atrapalhar a movimentação de refugiados. E para ser sincero, a “venda” estava sendo muito boa, tendo conseguido até dinheiro de outros “consumidores” que fizeram “doações” para a viagem.

O problema é que o “vendedor” também quis “comprar”, como é o “correto” na sociedade de consumo. Ele quis comprar uma “mercadoria” antiga, a mulher bonita e pobre. Aliás, a mulher em geral, se bem que as mais bonitas são, obviamente, mais cobiçadas, seja lá qual for o padrão de beleza.

E com seu amiguinho Renan Santos, ele acreditou ter encontrado um ambiente de boas “oportunidades de negócio”, composto por loiras de olhos azuis, “produto” tão valorizado aqui nos trópicos já que é  mais raro no nosso “mercado de pretas, latinas e morenas” que é tão abundante quanto barato.

Uma oportunidade excelente uma vez que imaginou, e declarou,  que a pobreza delas, até pela situação de fragilidade pela guerra, facilitaria muito a sua aquisição por um “excelente custo benefício”.

“Mamãe falei” é um excelente vendedor e consumidor. Mas exatamente por isso é infantil, um moleque.  E também exatamente por isso ele tinha que alardear para seus amiguinhos consumidores que o “mercado” era bom e que voltaria lá, depois da guerra, para fazer assuas compras, do mesmo modo que uma criança conta para a outra o que vai pedir para o pai comprar.

O problema é que o “mercado” é “dinâmico” e ele anunciou sua futura “aquisição” no momento em que o “produto da moda” é a solidariedade, falsa ou verdadeira, e por isso acabou perdendo uma grande “venda”.

Mas eu não me iludo.

Logo “mamãe falei” voltará para o mercado e vai encontrar seus consumidores/eleitores que afinal, são tão moleques quanto ele e bem que gostariam de “comprar” uma mulher bonita, de preferência uma “deusa de olhos azuis”.

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