Todo ano escolhia os cartões de Natal, geralmente de acordo com o destinatário. Alguns com temas mais religiosos, outros com temas mais gerais ou ainda alguns da UNICEF que eram modernos e muito bonitos.
E esse era o primeiro tempo, o tempo de escolher de acordo com o que eu sabia de quem iria receber. Depois vinha o segundo tempo, o tempo de escrever uma mensagem.
Bem, nem todos eram especiais. Haviam os que escrevíamos por obrigação, por serem parentes ou pessoas que nos enviavam cartões ou com quem mantínhamos algum tipo de relacionamento profissional ou social que precisavam ser atendidos. Mas esses demandavam pouco do “segundo tempo”, eram protocolares e não requeriam mensagens muito elaboradas e, verdade seja dita, nem os cartões mais bonitos ou selecionados.
Mas para as pessoas mais especiais, ah, para essas o “segundo tempo” era longo. Eu escolhia trechos de poemas, trechos de livros, falas sábias de grandes autores ou personagens religiosas e humanistas ou até mesmo arriscava um pequeno texto poético de minha autoria. E, claro, sempre havia alguém muito especial. No meu caso, geralmente uma moça por quem eu estava secreta ou abertamente apaixonado. Para essa o tempo era infinito e delicioso e pelo menos uma vez eu consegui escrever um poema que jugo, até hoje, aceitável para meu senso crítico de leitor inveterado e, para o ser apaixonado que eu era, ainda julgo muito bom. Esse poema não coube em um único cartão, mas foi escrito em duas folhas de papel de carta (outra coisa da qual talvez você não se lembre ou não saiba do que se trata…). bem delicadas e adequadas a destinatária do cartão e de minha esperança. As folhas foram dobradas com cuidado e inseridas no cartão mais bonito que pude encontrar.
E então vinha o terceiro tempo. O tempo da espera. Começava com uma visita aos correios, lotados nesta época porque enviar cartões era comum e só o carteiro os levava. Selados os envelopes (no meu caso com os selos natalinos da edição do ano) seguia-se a ansiedade doce da espera. A ansiedade que tentava calcular o tempo que o correio levaria para entregar, o tempo que a pessoalevaria para escrever e o impacto de afeto que nossa mensagem causaria.
Nesse “tempo” a ansiedade causava um frio gostoso na barriga, um frio das emoções declaradas e enviadas, trabalhadas por mim cuidadosamente, sempre de acordo com o que eu conhecia ou pensava conhecer da pessoa para quem escrevia . Não, não era só para “a pessoa mais especial” que eu sentia frio na barriga. Mas por todos e todas mais preciosos, mais amados e próximos.
E então vinha o “quarto tempo”, o tempo da resposta recebida.
A cada chegada do carteiro, havia uma emoção especial seguida da distribuição dos maços de envelopes entre os moradores da casa. E mais cedo ou mais tarde, estavam lá as retribuições dos cartões especiais cujo tipo, forma e texto eu degustava com alegria satisfeita.
Pelo menos em minha casa os cartões eram incorporados aos enfeites da árvore de Natal e, quando eram muitos, presos a grade do vitrô na frente da qual estavam a árvore e o presépio E lá eles ficavam durante as festas, como a materialização de nossos afetos, amizades e paixões, até depois do dia de reis, quando a maioria era descartada, verdade, mas alguns eram cuidadosamente guardados.
Sim, era trabalhoso e acabava sendo efêmero como tudo o mais na vida é. Também custava algum dinheiro e levava tempo. Muito mais tempo do que se leva hoje para enviar um zap, para fazer uma postagem de imagem natalina nas redes sociais e ainda mais do que divulgar um “gif” ou um “emoji”. Mas era o tempo justo da solidificação dos laços, dos afetos, da gratidão, da amizade e também dos amores e das paixões.
Era o tempo do plantio, da rega ou do cultivo das nossas relações familiares e sociais. Era o tempo em que se garimpava e lapidava as palavras da mensagem como se fossem pedras preciosas que queríamos dar de presente. Era, finalmente, o tempo entre o impulso, o desejo e a realização de um ato, tempo este que parece ter sido comprimido até quase o desaparecimento na era digital e no isolamento real frente a sensação de conexão que ela nos trouxe.
Sabe o que eu lhe desejo?
Desejo que nesse Natal e no Ano Novo, você tenha para quem escolher um cartão, mesmo que não seja de Natal, e tenha tempo para escolher o mais bonito, de acordo com quem vai receber, e tempo para buscar um texto ou escrever um de próprio punho, que traduza realmente o afeto, a amizade e, porque não, a paixão que você sente.
E que você tenha o tempo certo de enviar, aguardar e receber a resposta, ainda que esta demore.
Eu desejo que você tenha a quem e o que cultivar e que esse cultivo leve tempo porque quanto mais levar, maior será a chance de ele ser sólido e também duradouro.
Feliz Natal e Feliz Ano Novo, rodeados de afetos para todos e todas.
Luis Fernando Amstalden. 24/12/2022
Marco Lorenzzo Cunali Ripoli
24 de dezembro de 2022
Feliz natal amigo! Sempre desejando o melhor aqueles que fazem o melhor!
blogdoamstalden
24 de dezembro de 2022
Feliz Natal meu querido, para você e para todo mundo aí
Soraya
25 de dezembro de 2022
Texto gostoso de.ler para quem.tem.uns aninhos a.mais. Feliz Natal , meu amigo. Saúde e paz pra.você. Fomos contemplados com a graça de dividir esse pequeno trecho da.vida juntos. É isso por só, já é um presente. Parabéns pelos textos.
Daniel de Mattos Höfling
30 de dezembro de 2022
Excelente texto!!
Daniel Höfling
30 de dezembro de 2022
Excelente texto!!