Pensamento Oriental: Budismo I. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 28 de maio de 2012 por

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Depois que postei o artigo sobre Zen e a resenha do Ramayana, pensei em aprofundar um pouco mais a questão do pensamento oriental. Assim inicio alguns artigos curtos sobre o Budismo, uma das escolas mais importantes de filosofia e religião do Oriente.  Aos poucos, vou desenvolvendo o tema e indicando alguma bibliografia a quem quer saber mais. Vamos lá:

Falar sobre o Budismo como uma religião é cometer o mesmo erro que descrever o Cristianismo como uma religião. Na verdade, tanto o Budismo quanto o Cristianismo, hoje se constituem numa série de religiões diferentes devido as interpretações e reinterpretações diferenciadas que foram feitas no âmbito de cada uma ao longo dos séculos. Se temos no Cristianismo os Católicos, Protestantes de diferentes confissões, Espíritas e muitos outros, também no Budismo temos adeptos do Theravada, Zen (nas suas diferentes escolas), Lamaísmo, Tantra (também em diferentes escolas), Nitirem etc.

             Parte dessa diversificação ocorrida em ambas as doutrinas deve-se ao fato de que nem o Cristo nem o Buda deixaram nada escrito do próprio punho. Os Evangelhos (no caso cristão) e os Sutras (no caso budista) foram compilados após a morte de cada um, por discípulos que seguiam os mestres durante a vida ou mesmo por alguns conversos que viveram bem depois dos fundadores, e que,  portanto, não conheceram  os mestres.

            Mas outra parte desse fenômeno se deve a uma tendência natural das pessoas reinterpretarem as doutrinas e os escritos de acordo com seus universos culturais, sociais, econômicos, políticos e de suas necessidades imediatas ou crenças anteriormente estabelecidas. Assim, no Tibet o budismo será adaptado a partir de crenças locais ( O “Bon” que era a religião original tibetana) e das necessidades várias da população que habitava a região quando o Budismo lá chegou. Um exemplo, o Lamaísmo, escola mais conhecida do budismo tibetano, admite o consumo de carne de mamíferos, coisa evitada em outras confissões budistas. Por quê? Simples, o Tibet não tinha e não tem terra o suficiente para realizar uma agricultura que mantenha o povo. Porém o pastoreio é possível. Daí o consumo de carne ser uma necessidade de sobrevivência que acaba por ser aceita no Lamaísmo.

             Mais adiante retomaremos essa questão das diferentes confissões dentro do Budismo. Por ora e para encerrar, gostaríamos de levantar o seguinte aspecto do Budismo enquanto pensamento mais amplo: mais do que tudo, rituais, costumes, leis etc. O Budismo se caracteriza por uma intensa investigação psicológica do ser humano, com propostas que, antes de serem dogmas de verdade, são convites a experimentação e a vivência pessoal.  Assim, antes de ser um conjunto de leis absolutas, de ter definições imutáveis de certo e errado, o pensamento budista nos convida a uma análise equilibrada da vida e de nossas posturas mentais e psicológicas frente a ela. Nesse mundo tão ansioso e complicado em que vivemos, parte do fascínio que o Budismo tem provocado no ocidente, diz respeito exatamente a este caráter psicológico e investigativo.

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