Começa agora para a maioria dos professores, uma das épocas difíceis do ano. Época de correção de provas de fim de semestre. E o problema não é só as muitas provas a corrigir, mas principalmente o conteúdo delas. Para muitos alunos, os professores “se divertem” com provas ruins. Bem, talvez alguns maus professores o façam. Mas quem quer que leve sua profissão a sério, lamenta resultados ruins. Se um professor é digno do nome, então se frustra e entristece com provas que mereceriam notas negativas, se isso fosse possível. Afinal, o sucesso de seu trabalho é o crescimento do aluno e as avaliações, embora imperfeitas, são um dos principais instrumentos para observar tal crescimento. Provas lastimáveis são um dos sinais de um aprendizado lastimável.
Claro que o desempenho fraco tem muitas causas. Algumas, inclusive, ligadas a inadequação do próprio professor. Outras causas estão ligadas a má formação anterior dos alunos e outras ainda ao caráter de “linha de montagem” que o ensino parece estar tomando. Se fossemos elencar todos os motivos e analisá-los, teríamos que produzir uma obra em vários tomos e, de qualquer modo, gente mais competente do que eu já faz este tipo de estudo. Hoje, porém, gostaria de tocar num dos pontos que, a meu ver, é um dos grandes motivos de notas baixas entre alunos.
Acontece que para se compreender qualquer matéria e para responder uma questão, são necessárias duas coisas absolutamente básicas: saber ler e escrever. É isso que você entendeu mesmo. A maior parte dos alunos de hoje lê e escreve muito mal. Pior é que muitos deles estão na faculdade e é difícil acreditar que eles foram aprovados no ensino fundamental e médio com tal nível de leitura e escrita. E não me refiro somente a ortografia, embora esta seja péssima (um aluno escreveu, por exemplo, a palavra “sexiçoal” querendo dizer sexual, na única prova em vinte e cinco anos de magistério que xerocopiei e guardei…), mas o pior mesmo é a incapacidade de construir um texto coerente, com princípio, meio e fim. A incapacidade de expressar um conceito ou ideia. Em alguns casos, conversando depois com os alunos, o professor percebe que eles sabiam o conceito, mas simplesmente não souberam explicar. Não conseguem se expressar por escrito. Em provas de exatas o erro vem, muitas vezes, de não se entender o que a questão pedia.
Agora eu me pergunto. Caso se aprove um aluno assim, então o que ele vai conseguir em termos profissionais? Sem este básico, como ele pode almejar um emprego e um bom salário? De que adianta o país estar crescendo e recebendo indústrias novas se este crescimento necessita de mão de obra especializada e quem estamos formando mal sabe redigir uma mensagem eletrônica? Você acha que eu exagero? Então pergunte a outros professores. Pergunte à OAB cujo exame de admissão reprova a grande maioria dos candidatos. Segundo meus amigos advogados e professores de direito, a reprovação lá deve-se, em grande parte, a esta incapacidade de se entender e produzir um texto.
Da mesma forma que existem muitos motivos, como eu disse acima, para explicar o mal desempenho acadêmico em geral, também existem muitos motivos para explicar esta dificuldade específica e básica. Pretendo sim, voltar a este assunto mais vezes, mas por hora e para não extrapolar o espaço desta coluna, fica uma dica para o leitor: quando você vir dados estatísticos de quantos alunos temos cursando o ensino fundamental, o ensino médio e o ensino superior, não leve a sério. A quantidade aqui não significa qualidade. Aliás, penso que não significa quase nada.
Valéria Pisauro
7 de junho de 2012
Para sermos capazes de ler sentimentos humanos descritos em linguagem humana precisamos ler como seres humanos – e fazê-lo plenamente.
Marcos Vinhas
7 de junho de 2012
No ponto, eu estive ano passado na turma de Ciência da Computação na EEP, e ainda adiciono o fato de que o desempenho de um professor é completamente irrelevante numa turma como aquela, que em sua maioria é composta por pseudo alunos que não querem esforsar-se para nada além de respirar, viver e fazer sexo…
O pior problema da educação brasileira, é obrigar a todos a estudar, conhecimento é algo que exige dedicação no processo, coisa que estes aluninhos não são capazes de entender.
Portanto não fique abatido, a culpa pode não ser sua.
Fabiani
9 de junho de 2012
Eu ficaria muito abatido se escrevesse “esforsar-se”.
Renata Whitaker Penteado
7 de junho de 2012
Perfeito. Na minha época de ensino médio (aliás, colegial rsrrs) a dificuldade em se expressar por escrito já preocupava, em seguida, na faculdade, tive colegas brilhantes, mas que nas provas tiravam notas baixas pois seus textos eram péssimos. Hoje, vejo as provas dos alunos do meu marido (professor de História no ensino médio) e percebo que os alunos não conseguem escrever textos simples com coerência, o que dirá explicar algum assunto mais específico. E infelizmente essa é a realidade: as pessoas estão perdendo sua capacidade de se expressar, de contestar.
blogdoamstalden
9 de junho de 2012
Estão perdendo a capacidade de pensar e existir, Renata. Este Blog é um movimento contra a corrente. Daí meu esforço nele.
Bjs.
E Obrigado.
Meire Franco Nobre
7 de junho de 2012
Caro Luis, isso é realmente uma lástima. Como Educadora que sempre fui, sempre tive essa preocupação ao observar essa situação. Nas mãos de quais profissionais estaremos futuramente. Tenho muito medo… Quanto ao professor, me sinto compadecida com todos eles, salvo as exceções éclaro. Mal sabe o aluno do empenho de um mestre, para elaborar, contextualizar o conteúdo de uma aula, de uma prova. Mal sabe o aluno do esforço de um mestre, que para ter uma vida descente, tem que ministrar aulas em várias instituições de ensino, inclusive enfrentando viagens para outras cidades, o que põe hj em dia, triplicamente, devido ao volume de carros e imprudências nas estradas, sua vida em risco. Enfim, tb não me estenderei, pq esse assunto não tem fim. Mas deixo aqui meu apreço por todos aqueles, que mesmo mediante a td isso, ainda levam sua profissão com amor e seriedade. Quantoto ao mau desempenho de certos alunos… O mercado irá cobrar!!! Abs.
blogdoamstalden
9 de junho de 2012
Olá Meire.
É verdade, o mercado irá cobrar. Mas é também o mercado que tem sido responsável pela queda de empenho de muitos professores. As escolas, públicas ou privadas, pagam cada vez pior. Daí o excesso de aulas que leva a mediocrização do ensino por parte de muitos docentes e o comodismo dos alunos (veja a resposta que dei ao Guilherme Horák). Penso que é um problema de muitos lados e o início de uma solução só virá a partir do momento em que realmente a educação for um projeto sério no Brasil. Até agora ela passou por dois momentos históricos principais: a da elitização, no qual o ensino era razoavelmente bom mas para poucos, e a popularização medíocre, que lembra mais a produção em massa de produtos baratos do que um processo consistente. Creio que podemos dizer que a educação tem se tornado “made in China”.
Obrigado pelo comentário e seja bem vinda sempre que quiser.
Mario Rodolfo Novello
7 de junho de 2012
Olá Luis, estou tendo esta experiência, voce foi muito feliz em seu pronunciamento, realmente é uma calamidade!
O que se percebe nos dias de hoje é apenas o incentivo ao protesto. Mesmo aqueles que tem conhecimento de sua incapacidade se acha no direito de discutir com professores o porque de seu baixo resultado, ou seja quer discutir situações obvias.
blogdoamstalden
9 de junho de 2012
Olá Mário.
Tenho uma amiga que pediu demissão de uma boa faculdade privada porque um orientando seu, que havia plagiado um texto e negava que o tivesse feito, gritou com ela afirmando que ele a pagava, que ele era o cliente e que, portanto, ela não poderia tratá-lo assim (questionando o texto dele). A coordenadoria ao invés de punir o aluno (plágio é crime) tentou por panos quentes. Só restou a minha amiga a demissão. Creio que este pequeno caso ilustra a tragédia, não acha? Abraço e obrigado pela sua participação.
Hannah Verheul
7 de junho de 2012
Ha anos que se percebe a defasagem na cultura geral do aluno do ensinho basico!! Levavamos dicionarios para a classe de aula, liamos e tinhamos que discutir e escrever um resumo do livro. Hoje a educacao estah baseada no copy+paste do Google it & Wikipedias de plantao na net.. revelando a cada semestre um resultado desastroso na capacidade de entendimento e dissernimento do aluno. Resultado desastroso para futuros profissionais de qq area!!! Lamentavel!
Guilherme Horák
8 de junho de 2012
Há um constante tratamento forjado a um vínculo funcionário-cliente, sendo este o aluno e aquele o professor. Nas universidades, muitos professores, salvo alguns, não se interessam pelo relacionamento saudável com para seus alunos, pois há um conflito de interesses entre orientar o ser “sem luz” e outras atividades que poderiam trazer retornos mais “significativos”. O aluno, por sua vez, sentindo-se desmotivado, mesmo ele se sentindo “cliente”, o que, à essa luz, deveria reclamar pelos seus direitos de consumidor, se vê como peça aleatória em todo esse jogo. A Educação é uma via de mão dupla. É necessária a participação entre os corpos docente e discente. A notável mercantilização de diplomas, feito por muitas universidades espalhadas pelo Brasil, reflete o estado de emergência no ensino, algo muito preocupante, pois, por exemplo, quando um cidadão vai até o médico à procura de uma orientação, esse não recebe tratamento adequado, uma vez que muitos médicos não olham para os olhos do paciente a fim de se colocar no lugar do enfermo, não tocam o paciente para realizar a avaliação física, avaliação não substituível por qualquer outro exame etc. Isso é apenas um exemplo, daí se pode generalizar para outras profissões, como de advogados, engenheiros etc. O Brasil anda a galopadas para um substancial “crescimento” econômico, porém para um catastrófico “desenvolvimento”, ou seja, nesse contexto, pode-se elaborar a seguinte questão: de quê adianta aumentar o número de profissionais, sendo que esses estão muito mal capacitados? Melhora-se a quantidade, porém piora a qualidade. No âmbito econômico, infla-se o mercado, porém não prepara a infra-estrutura. Moda brasileira? É o “jeitinho”? Até quando irá demorar para todos percebermos que estamos construindo um “castelo de areia”, pois uma hora ele, por si só, irá se desmoronar?
blogdoamstalden
9 de junho de 2012
Guilherme, concordo plenamente com o que você afirma a respeito dos muitos profissionais despreparados, inclusive professores. No entanto eu diferencio dois tipos de fenômeno nas Universidades. As privadas diminuem salários e priorizam os horistas, diminuindo os custos a aumentando o lucro. Com isso muitos docentes acabam por assumir aulas demais, não dão conta e então ministram aulas ruins. Nas públicas prioriza-se a produção acadêmica em detrimento da docência, o que gera, inclusive, uma grande quantidade de publicações medíocres e até “recicladas”. Sem tempo para planejar um curso decente e determinar resultados com seus alunos, muitos professores sacrificam este último dando aulas ruins. Um segundo fenômeno nas públicas é o aporte de verba externa para pesquisas (muitas vinculadas ao interesse privado) que aumenta a renda do docente. Mas então, atrelado a uma pesquisa que pode ter mais interesse a uma empresa do que a comunidade, falta também ao professor/pesquisador o tempo para as boas aulas. Quer um fenômeno que acho terrível nas públicas? O atrelamento da pós graduação ao interesse de pesquisa de docentes. Hoje muitos orientadores praticamente determinam qual será a pesquisa do aluno em função do seu próprio projeto.
No final, o prejuízo recai sempre sobre os alunos. Mas mesmo estes não se preocupam muito. Para a maioria basta ser aprovado. E se um professor não dá bons cursos não pode cobrar bons resultados. Tem que aprovar todos e os alunos não reclamam. Como se vê, é uma “ciranda da enrolação”. Também quero voltar a este tema.
Abraço.
André Bacchi
8 de junho de 2012
Também penso assim. Essa questão da baixa qualidade na educação é multifatorial e tem como causa problemas relacionados aos estudantes, às instituições de ensino (principalmente aquelas que pressionam pela aprovação do aluno) e também em parte por culpa do professor, que muitas vezes não consegue se adequar ao perfil das novas gerações, dificultando o elo de comunicação…
blogdoamstalden
9 de junho de 2012
André, adaptar-se as novas gerações nunca é fácil. Mas acho que os fatores que impedem os professores de fazerem esta adaptação são outros, inclusive o excesso de aulas, a falta de vocação dos próprios docentes (aqui ser professor não é a primeira escolha profissional, ao contrário de outros países) e até o desinteresse público em valorizar a carreira e o bom ensino. Mais tarde quero escreve e discutir com os leitores estes temas. Abraço.
Henrique José servolo filho
8 de junho de 2012
Prezado!!
Apesar de muitos ‘torcerem” o nariz, eu insisto que os alunos leiam , leiam, pois a geração “hiper link’ não consegue ter momentos sem estarem pilhados e conectados……Você consegue imaginar uma pessoas verificar o cel. a cada intervalo de uma série de musculação…..Imagina essa mesma pessoa ficando absorta alguns minutos mergulhada nas páginas de alguma leitura que requeira pequena concentração. Pois eu começo a ver estas atitudes com frequência!! ‘poor generation”
blogdoamstalden
9 de junho de 2012
Henrique, esta dificuldade de concentração está preocupando gente que estuda a área. Para muitos a rapidez do computador e de outras formas de comunicação, não favorecem a atenção mais profunda. Daí vemos fenômenos como a dificuldade de escrever e ler. Não sei o que dizer sobre isso. Concordo que os computadores são necessários, mas vejo também os efeitos da desconcentração. Também insisto para que os alunos leiam e dou dicas, como as deste blog, mas não sei o que vai acontecer.
Guilherme Horák
10 de junho de 2012
Bela separação! São exatamente esses os fenômenos que ocorrem. Em relação à pesquisa, é lamentável um segundo determinar o que deve ser estudado. O pesquisador deve buscar aquilo que mexe com ele, aquilo que desperta interesse, algo que faz ele investigar com paixão. Hoje, assim como Maria Helena Chauí já disse incansavelmente, o mercado determina a lógica da universidade. Está aí uma inversão da lógica. Principalmente em relação às públicas, questiono: a universidade é ainda um espaço de liberdade no qual estabelece qual será o futuro após serem feitos estudos, reflexões, comprovações etc à sociedade sem a interferência de interesses de terceiros ou estamos caminhando na lógica do mercado e negligenciando também a preocupação em relação à sociedade, que nós mantém, em detrimento dessa tal liberdade?
Abraços! Boa semana!.
Tainá Moura
12 de junho de 2012
É realmente uma questão complicada. Acredito que é um conjunto de coisas: educação na escola e educação em casa.
Meus pais sempre incentivaram a leitura, tanto que eu sempre gostei de ler. É claro que muitos fatores contribuem com a baixa qualidade do ensino. O ambiente escolar, os alunos desinteressados, os professores desmotivados… etc. Estamos contribuindo com o objetivo dos governantes, crescimento na “educação” com nenhuma qualidade.
Eu acredito que o aluno faz a escola e não o contrário. E isso vem da educação básica dentro de casa. Eu vejo pelo o que a minha avó, os meus pais e tios contam como era na época deles, uma educação rígida, impondo respeito dentro e fora de casa.
Minha avó sempre falou que estudar é pensar no seu amanhã.
E o nosso presente é isso, pessoas formadas que não sabem ler e escrever.
Anônimo
13 de junho de 2012
Informação rápida a um mínimo esforço tem suas vantagens para “apagadores de incêndio”, mas não contribui para o conhecimento, uma vez que torna o ato de pensar um trabalho desnecessário, dado que se encontra informação fácil na web.
Em casos como estes, citados no texto e nos comentários, eu imagino o presente e o futuro destes profissionais “aprovados” no atual modelo, e qual será a formação dos docentes do futuro, que serão educados por estes mesmos “profissionais” que hoje mal conseguem expressar um ponto de vista próprio com clareza. Lamentável, porém real perigo. Não existe ganho sem esforço, e temo que esta e próximas gerações se acomodem com as facilidades que temos
Raoni Bandeira
13 de junho de 2012
Informação rápida a um mínimo esforço tem suas vantagens para “apagadores de incêndio”, mas não contribui para o conhecimento, uma vez que torna o ato de pensar um trabalho desnecessário, dado que se encontra informação fácil na web.
Em casos como estes, citados no texto e nos comentários, eu imagino o presente e o futuro destes profissionais “aprovados” no atual modelo, e qual será a formação dos docentes do futuro, que serão educados por estes mesmos “profissionais” que hoje mal conseguem expressar um ponto de vista próprio com clareza.
Lamentável, porém real perigo a frente.
Não existe ganho sem esforço, e temo que esta e próximas gerações se acomodem com as facilidades que temos e deixem de buscar o próximo passo.