RÉQUIEM – Por Antônio Carlos Danelon

Posted on 13 de julho de 2012 por

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…para as 29 árvores da rotatória da Avenida Vollet Sachs com Piracicamirim que tombarão para dar passagem ao protagonista do “desenvolvimento” de Piracicaba desses últimos anos: o automóvel. Dentro dele o prefeito e sua corte. Acompanhando a carreata vão vereadores, deputados, magistrados, sindicalistas, jornalistas, religiosos, empresários que bancam campanhas; interesseiros e simpatizantes da década de 50.

Dever do poder público é garantir mobilidade de pessoas não de carros. Congestionamento é problema de quem gosta de automóvel. Na cidade, transporte particular não é direito, é concessão. Direito é transporte público, que se fosse priorizado não precisaríamos destruir tanto o meio ambiente e nem desperdiçar dinheiro em obras para carros. Desde quando trocar oxigênio de árvores por veneno de carros é evolução? Investir no particular é incentivar os acidentes, a desigualdade, o individualismo; a morte da natureza e das pessoas além de atravancar a mobilidade dos coletivos e dos atendimentos de urgência e emergência.

Nesse sentido, reportagem da Folha de São Paulo (03.06.12) relata o drama do paulistano que, para ir ao trabalho, joga fora 17 dias de vida por ano dentro de ônibus. “Chego em casa cansada. Não consigo ficar com os meus filhos”. (Sueli Dias da Silva, 44 anos, executiva, mãe de dois filhos).

Congestionamento de 300 quilômetros São Paulo chega a ter. O ônibus precisa disputar espaço com o automóvel, que cada dia entope mais as ruas para levar uma ou duas pessoas. Especialistas defendem expansão dos corredores de ônibus. O prefeito Kassab prometeu 66 km, mas não fez nenhum. “Os benefícios da ampliação da marginal Tietê, que custou quase 2 bilhões, não duraram um ano. Nos períodos de pico os congestionamentos voltaram. Se não priorizarmos o transporte coletivo, o transporte individual irá tomar todo o espaço que dermos, e não será suficiente” (Horácio Augusto Figueira, mestre em engenharia de transporte pela USP. Folha, 10.03.12).

E Piracicaba segue o mesmo caminho equivocado. De quantos urbanistas e especialistas em tráfego o município dispõe em seu corpo técnico? Arquitetos fazem prédios, não sabem criar cidades. Em questão de mobilidade urbana parece que nossos administradores olham para trás. Se não, perceberam que investir no automóvel dá mais visibilidade já que agrada uma população sem responsabilidade coletiva. Por cima expandem sempre mais o perímetro urbano deixando o centro desabitado, sendo que o conceito de ‘cidade compacta’ ganha reforço entre urbanistas. (Folha 01.04.12).

“O primeiro artigo de todas as constituições, inclusive a brasileira, diz que todos são iguais perante a lei. Se isso é verdade, um ônibus com cem passageiros tem direito a cem vezes mais espaço nas ruas que um carro com uma pessoa”. (Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá e consultor de trânsito. Folha 24.06.12).

Deveriam ser responsabilizados gestores públicos que gastam mais com quem não deixa o carro nem para ir à padaria da esquina que com os usuários dos coletivos. Dizem que nas cidades da Europa carro é para emergência ou passeio, não para trabalhar. “Numa cidade avançada, ricos usam transporte público. Pode parecer que fazer estradas melhora o trânsito, mas isso não é verdade. Você conhece uma única cidade no mundo que tenha resolvido o problema fazendo vias maiores? Não há”. (Enrique Peñalosa, idem). Mas, o caipiracicabano acha que andar de ônibus, bonde, bicicleta ou a pé é coisa de pobre.

Por aqui temos um transporte coletivo sucateado, insuficiente e caro. Os terminais são deprimentes, mal cuidados e inóspitos. Neles os políticos só entram no tempo das eleições para iludir um povo que, feito boiada, caminha todos os dias para o abatedouro.

Antônio Carlos Danelon é Assistente Social

     totodanelon@ig.com.br

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