Se paga no final do caminho…Por Gyorgy Henyei Neto

Posted on 14 de julho de 2012 por

1



Foto de Juliana Machado Amstalden

Carros passam e se cruzam por entre passagens estreitas em lugares que as vezes nem ao menos se podem passar. Querem chegar a lugares, querem ser levados sem força para algum compromisso, querem ao menos se locomoverem. Eles não passam rápido, se cruzam devagar, sem pressa. Por que pressa? Os compromissos podem esperar, a hora pode parar um pouco, não tem necessidade de correr. Apreciam a vista, se divertem com o caminhar das imagens pelos seus olhos que não conseguem captar nenhuma sozinha, mas recebem as mensagens que todas tem a passar. As imagens se formam lá fora, longos troncos riscados de vento se levantam em altas copas puxadas pelo movimento que não corresponde ao estar parado. O que se vê é mais rápido que o pensamento, é mais conturbado que o pensamento. Mas ainda assim admiram. Cruzam-se e se entreolham, se cumprimentam, fingem que não veem, comparam as suas máquinas com os dos outros. Qual a melhor? Qual a mais bonita, a que tem mais cores e bugigangas sem sentido nem utilidade. Se comparam com os que andam, que inveja devem sentir agora, já que tem de andar. Pobres coitados. Nem ao menos podem se dar ao luxo de se sentar e ser levado aonde quiser, quando quiser, só bastando chegar, sentar e relaxar. Mas por que não falam? Por que não conversam? Não tem consciência? Será que desejam também, como os que estão sendo levados por eles? Como poderiam? São apenas servidores, são máquinas que nos levam e trazem. Mas existem tantos e tão iguais e tão diferentes. Quantos deles será que pensam? E o que pensam? Não pensam nisso, apenas se deixam levar, apenas se permitem esse momento em que estão a sós, sendo encaminhados sem esforço para onde quiserem. Mas ainda assim, as máquinas intrigam. As imagens que proporcionam, os movimentos que apenas aqui, apenas agora veem, sentimento que apenas aqui e apenas agora sentem.
Mas agora acaba o caminho. E chega ao fim o passeio. E os pais pagam os senhores. E eles voltam a sua jornada dentro do universo infantil, onde são coadjuvantes de uma relação de amizade da criança com o carrinho. E tudo mais se movimenta em curtos períodos de passeios.

 Gyorgy Henyei Neto é Antropólogo, mestrando em Ciências da Religião e jovem ainda, tem já livros publicados.