O Voto e o “Nulo”. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 3 de agosto de 2012 por

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Em tempos de eleição crescem as declarações de voto nulo e/ou as intenções de anulá-lo como forma de desencanto ou protesto. Eu posso entender a maioria destas reações. Os constantes escândalos de corrupção em nosso país, as muitas promessas não cumpridas de políticos, a dificuldade de sabermos que partido defende o quê, uma promiscuidade de políticos amigos/inimigos e a demora eterna em se investir realmente em educação, segurança e saúde. Tudo isso faz com que muita gente desanime.

Alguns acreditam, e divulgam pela internet, que uma eleição toda pode ser anulada se mais da metade do total dos votos for nulo. Até que a ideia não seria má. Eu realmente penso que poderia ser uma boa coisa invalidar um pleito porque a maioria dos eleitores não está satisfeito com os candidatos. Mas acontece que isso não é verdade. Os votos anulados na urna são simplesmente desconsiderados. Se em uma eleição votarem cem mil pessoas e destas sessenta mil anularem, não acontecerá nada. Os candidatos vencedores serão escolhidos do total dos quarenta mil votos válidos. Assim o que acontece é que o seu “protesto” ser torna efetivamente nulo. Aliás, você como eleitor e como um voto, se torna “nulo”.

No final das contas, quem agradece o voto nulo são as velhas raposas da política. Você conhece “as feras”. Alguns estão aí desde antes da ditadura militar. Outros despontaram mais recentemente e apesar de tantas falcatruas, tantas desonestidades, continuam sendo eleitos. Sabe por quê? Em parte porque eles mantêm seus “currais” eleitorais, seus esquemas de distribuição de favores, dentaduras, camisas de futebol e emprego. Mas em parte também porque muita gente que poderia votar diferente, poderia votar em outros, anula, se abstém. Os eleitores das velhas raposas, no entanto, nunca se abstém ou anulam. Votam direitinho naqueles eternos mandatários. E, claro, os “podres políticos” dão todo apoio logístico para que seus eleitores não faltem. Eu presenciei, certa vez, a chegada de várias peruas Kombi a um posto de votação. Elas traziam eleitores de todas as partes da cidade, inclusive dois que foram retirados do hospital para votar! A curiosidade de sociólogo me fez ficar lá tempo o suficiente para perceber que as peruas estavam fazendo estes transportes por toda a cidade. Quer mais? Uma eleitora analfabeta (foi o primeiro pleito em que os analfabetos votaram), vendo-me parado na frente do prédio (e provavelmente me confundindo com os cabos eleitorais que infestavam o local) veio me perguntar como ela fazia para votar no “Isquércia”… Não sei se ela conseguiu, mas acho que ela não anulou.

Agora, você pode perguntar o que fazer quando nenhum dos candidatos o convence ou ganha sua confiança. Isto é realmente um problema. Aliás, um problema do qual eu não estou isento. As vezes simplesmente não encontro nenhum candidato em que realmente confie e fico desanimado. Para cargos do legislativo é mais fácil encontrar alguém. Afinal são tantos os candidatos que se você procurar bem encontra um que realmente merece o seu voto. Mas para cargos de executivo, com cinco ou seis candidatos a situação fica mais complicada.

Complicada mais ainda não o suficiente para justificar minha anulação. Quando a indecisão e a insatisfação me atingem (e olha que isso tem acontecido em quase todas as últimas eleições em que votei) opto por outro caminho. Eu escolho aquele que me parece um pouco melhor, mais honesto, mais coerente e que tenha propostas mais concretas. Depois disso, eu “pego no pé dele”. Durante seu mandato eu o acompanho pelos jornais, pela televisão e pela internet. Mando mensagens, discuto e “incomodo”. Se você pensar bem, mesmo aquele candidato que parece excelente, se não for “vigiado” pelos seus eleitores, pode se esquecer de suas propostas ou deixar o poder lhe subir a cabeça. A saída, a verdadeira democracia, é tornar o voto o começo de um processo, e não o final. Escolha, vote, não se anule. E depois de votar, continue não se anulando. Cobre, questione, exija e proteste quando for o caso, mas não se torne “nulo” nem na urna nem depois dela.

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