Em tempos de eleição crescem as declarações de voto nulo e/ou as intenções de anulá-lo como forma de desencanto ou protesto. Eu posso entender a maioria destas reações. Os constantes escândalos de corrupção em nosso país, as muitas promessas não cumpridas de políticos, a dificuldade de sabermos que partido defende o quê, uma promiscuidade de políticos amigos/inimigos e a demora eterna em se investir realmente em educação, segurança e saúde. Tudo isso faz com que muita gente desanime.
Alguns acreditam, e divulgam pela internet, que uma eleição toda pode ser anulada se mais da metade do total dos votos for nulo. Até que a ideia não seria má. Eu realmente penso que poderia ser uma boa coisa invalidar um pleito porque a maioria dos eleitores não está satisfeito com os candidatos. Mas acontece que isso não é verdade. Os votos anulados na urna são simplesmente desconsiderados. Se em uma eleição votarem cem mil pessoas e destas sessenta mil anularem, não acontecerá nada. Os candidatos vencedores serão escolhidos do total dos quarenta mil votos válidos. Assim o que acontece é que o seu “protesto” ser torna efetivamente nulo. Aliás, você como eleitor e como um voto, se torna “nulo”.
No final das contas, quem agradece o voto nulo são as velhas raposas da política. Você conhece “as feras”. Alguns estão aí desde antes da ditadura militar. Outros despontaram mais recentemente e apesar de tantas falcatruas, tantas desonestidades, continuam sendo eleitos. Sabe por quê? Em parte porque eles mantêm seus “currais” eleitorais, seus esquemas de distribuição de favores, dentaduras, camisas de futebol e emprego. Mas em parte também porque muita gente que poderia votar diferente, poderia votar em outros, anula, se abstém. Os eleitores das velhas raposas, no entanto, nunca se abstém ou anulam. Votam direitinho naqueles eternos mandatários. E, claro, os “podres políticos” dão todo apoio logístico para que seus eleitores não faltem. Eu presenciei, certa vez, a chegada de várias peruas Kombi a um posto de votação. Elas traziam eleitores de todas as partes da cidade, inclusive dois que foram retirados do hospital para votar! A curiosidade de sociólogo me fez ficar lá tempo o suficiente para perceber que as peruas estavam fazendo estes transportes por toda a cidade. Quer mais? Uma eleitora analfabeta (foi o primeiro pleito em que os analfabetos votaram), vendo-me parado na frente do prédio (e provavelmente me confundindo com os cabos eleitorais que infestavam o local) veio me perguntar como ela fazia para votar no “Isquércia”… Não sei se ela conseguiu, mas acho que ela não anulou.
Agora, você pode perguntar o que fazer quando nenhum dos candidatos o convence ou ganha sua confiança. Isto é realmente um problema. Aliás, um problema do qual eu não estou isento. As vezes simplesmente não encontro nenhum candidato em que realmente confie e fico desanimado. Para cargos do legislativo é mais fácil encontrar alguém. Afinal são tantos os candidatos que se você procurar bem encontra um que realmente merece o seu voto. Mas para cargos de executivo, com cinco ou seis candidatos a situação fica mais complicada.
Complicada mais ainda não o suficiente para justificar minha anulação. Quando a indecisão e a insatisfação me atingem (e olha que isso tem acontecido em quase todas as últimas eleições em que votei) opto por outro caminho. Eu escolho aquele que me parece um pouco melhor, mais honesto, mais coerente e que tenha propostas mais concretas. Depois disso, eu “pego no pé dele”. Durante seu mandato eu o acompanho pelos jornais, pela televisão e pela internet. Mando mensagens, discuto e “incomodo”. Se você pensar bem, mesmo aquele candidato que parece excelente, se não for “vigiado” pelos seus eleitores, pode se esquecer de suas propostas ou deixar o poder lhe subir a cabeça. A saída, a verdadeira democracia, é tornar o voto o começo de um processo, e não o final. Escolha, vote, não se anule. E depois de votar, continue não se anulando. Cobre, questione, exija e proteste quando for o caso, mas não se torne “nulo” nem na urna nem depois dela.
Joffre Oliveira
3 de agosto de 2012
Penso que se deixarmos as coisas correrem soltas e não participar do processo eleitoral, tudo se dará conforme os piores políticos querem, uma vez que eles não deixam ao acaso. O que o povo precisa de fato fazer é usar a técnica da surpresa e nada surpreenderia mais o político mal intencionado que uma população politizada que busca suas referências e sabe o que cobrar. Um exemplo clássico de estratégia muito bem montada foi a inserção do Tiririca na última eleição. como sabemos o parlamentar venceu com número recorde de votos para o cargo no estado de São Paulo e pior, levou exatamente o bando proposto por seus mentores. Voto de protesto é o voto consciente que insere no cenário político alguém capaz e com propostas coerentes. A cobrança intensa e constante é parte até mais importante que a votação em si.
Não tenho esperanças de ver esta mudança tão em breve por diversos fatores, mas acho que sonhar e batalhar para que isto se torne realidade ainda que distante não custa né?
Forte abraço e obrigado pela fonte de informação e cultura.
Antonio
4 de agosto de 2012
Parabéns pelo artigo O voto e o “nulo” muito bem lembrado nestes meses que antecedem as eleições.
A cantilena do voto nulo é a mesma que prega o voto facultativo com o argumento que democracia permite o direito de não querer votar e isto é exatamente o que querem as raposas de sempre.
Nas grandes cidades a abstenção seria imensa, mas nos rincões os poucos votos manteriam os cargos das raposas e a um custo muito menor.
No caso de Tiririca e outros, é voz corrente que ele foi convidado pelo bando que controla o partido ao qual se inscreveu. O “convite”, claro, foi acompanhado de uma polpuda quantia que seria acrescida dos salários e benefícios que teria nos quatro anos de mandato.
O convite ao Tiririca foi a forma que o bando que possui um “partido político” encontrou para renovar o mandato de quem se coloca como presidente deste partido. A mesma técnica com pequena variação foi adotada pelo Sr. Roberto Freire que se mudou para São Paulo porque em Pernambuco não seria reeleito. Alugou seu partido, veio a São Paulo candidatou-se, foi eleito e recebeu cargos nos conselhos de administração de estatais paulistas, de onde tira o complemento do seu salário. Não é um político, é um profissional da política!
Já me coloquei e concordo com o Joffre no aspecto que diz respeito à cobrança.
Deve ser intensa e contínua!
Fazer com que o eleito perceba, saiba, tenha conhecimento que está sendo vigiado e que não pode tomar atitudes por si, mas que suas atitudes representem o desejo da maioria que o elegeu.
Infelizmente, também concordo com o Joffre quando diz que não esperar mudança em breve. mas isto não é motivo para esmorecer. Cada um faz sua parte e o tempo, senhor de tudo, se encarregara do restante.
Cito o caso da “Ficha Limpa”, apesar de ser um projeto posto em votação por uma proposta da população, conseguiram adiar por algum tempo as grandes mudanças que ela embute.
Não tem problema, como tratamos com profissionais, as mudanças servem como Aviso Prévio.
Em alguns anos será completada a limpeza.
Quanto ao voto, o articulista coloca bem, para os cargos legislativos, no meio de tantos sempre é possível encontrar alguém que julgamos merecedor da nossa confiança.
Para os cargos majoritários, é mais difícil e as vezes erramos. O candidato se mostra indigno da nossa confiança.
Cidadão consciente, nunca mais deveria votar nesta pessoa.
Infelizmente tal ainda não acontece.
Mas como a humanidade caminha sempre para frente e o progresso é inexorável, chegaremos lá.
Mariana Borzino
6 de agosto de 2012
Professor, fui sua aluna no Liceu, em 2005. Atualmente, faço Ciências Sociais na UFF, e vejo que esse seu posicionamento é de grandiosíssimo valor e de uma afinação política que é rara na academia. Vejo alguns dos meus professores se abstendo de posicionamentos, votos, greves e lutas. Uns até mesmo se colocando contra todos os mecanismos de participação política, sejam protestos, seja até mesmo assembléias. Acho importante que existam ainda pessoas que valorizem esses espaços preciosos, e mesmo que critiquemos a prostituição da política, ainda assim ela é política. Fique feliz, compartilhei esse texto com alguns companheiros de luta (pela opção de vida que fiz), e acredito que contribua e muito para alguns debates que a esquerda coloca. Muito obrigada!
Abraços!