Não tive filhos e isso não é um problema. Por uma série de motivos, creio que se fosse para tê-los, deveria ter sido muito tempo atrás, mas não agora. No entanto, sou tio de dois garotos e isso, às vezes, me rende momentos de “Pai”. Claro que eu não substituo nada, não provenho e nem tenho as grandes dificuldades da paternidade. Às vezes acabo por partilhar algo mais difícil e outras (que tem sido maioria até agora) partilho coisas melhores, bons momentos e alegrias.
Espero, sinceramente, que os momentos bons tenham sido marcantes para meus sobrinhos. Que nestes momentos eu possa ter-lhes dado alguma alegria e, quem sabe, passado algumas coisas boas, alguns valores. Como professor, sei que o máximo que podemos fazer é “plantar”, mas que tipo de fruto virá depende de muitas variáveis.
Um dos bons momentos, dentre muitos, que passei como tio/pai, foi um domingo com um de meus sobrinhos. Na época ele tinha uns seis anos e eu busquei algumas coisas que poderiam ser divertidas. Choveu, o que seria um problema, mas tentamos ver as coisas por outro ângulo. Fomos almoçar, fomos ao rio, ao museu da água, à livraria e à casa de um amigo meu que tem duas filhas mais ou menos da idade dele, a fim de que as crianças pudessem brincar. Depois, no fim do dia, eu ouvi de meu sobrinho que eu “era o melhor tio do mundo”. Quem é pai (e também quem é tio) deve saber que não existe melhor presente do que este, vindo da boca de uma criança. Eu, pelo menos, acho que nada que pudesse ter sido comprado em lojas teria sido tão precioso. O momento da fala está gravado em minha memória e, enquanto eu estiver vivo e lúcido, não vou me esquecer. Voltando para minha casa, eu escrevi um pequeno relato dos nossos diálogos durante os passeios, como se fora o meu sobrinho falando. Que o leitor não estranhe a forma do texto, mas tentei seguir nossa interação e os comentários dele naquele dia. Ficou assim:
“Hoje almoçamos, mas o tio comeu mais salada e ganhou de mim no “braço de ferro””.
Hoje vimos o Museu da Água debaixo de chuva que molhava a careca do tio, e exploramos as cavernas que levavam água para os antigos moradores de Piracicaba. Combinamos voltar e procurar múmias ali, por que sim, é um lugar muito interessante para se esconder uma…
E vimos os peixes grandes no aquário, que não existem mais no rio, e combinamos de crescer e lutar para que um dia os peixes possam voltar.
E vimos as garças que ficavam nas pedras e, de repente… zás, pegavam um peixinho que nós nem imaginávamos que estava lá. E era o almoço delas… e as garças tem sorte… Elas não precisam comer salada para ficarem fortes e ganharem dos tios delas…
E nós vimos como o rio é bonito… como a chuva é boa, e ficamos felizes porque o rio é bonito, a chuva boa e a vida tão interessante…
Hoje nós fomos a livraria.
E exploramos uma enciclopédia que falava de tudo, até de quanto a Terra pesa. Mas acabamos comprando um livro de grandes dinossauros e que vem com um óculos de 3D pra gente ver o dinossauro de perto.
E tomamos um sorvete e um café.
E vimos que o Tio conhece um monte de gente porque ele é professor e teve um monte de alunos.
E depois fomos a casa de um outro tio.
Que é amigo do Tio.
E que tem duas filhas que chamam o Tio de “tio” também (mas ele não é tio delas de verdade, elas só chamam ele assim…)
E lá tinha uma piscina.
E nós nadamos na chuva com as filhas do tio, amigo do Tio. (o Tio e o tio-amigo-do-Tio não nadaram porque acharam que estava frio)
E lá tinha um videogame, mas a gente não jogou.
A gente brincou de balanço e de carrossel, e depois de “quente-ou-frio”.
E comeu pipoca, cachorro quente, e chocolate. E tomou refrigerante. E foi pegar acerola, mas elas não estavam boas ainda.
E depois, a gente estava cansado e voltou pra casa do “Vô”.
E foi ver os cachorrinhos.
E correu e brincou com eles. E eles só querem saber de morder e de subir no colo do Tio.
E falamos com o Niko, o gatinho, pra ele não ficar triste porque a gente gosta dele também.
Aliás, a gente agora gosta muito mais dele porque, mesmo que ele não corra, também não morde a gente.
E depois fomos tomar banho e descansar e o Tio foi embora…
Mas antes de ir, o Tio ouviu que ele é o melhor TIO DO MUNDO…
E o Tio, agora, está muito feliz.
Porque o rio é bonito…
A chuva é boa.
Ele é o melhor tio do mundo.
E este foi um domingo muito legal… “
Desejo a todos os pais (e tios) que tenham muitas vezes o prazer imenso de ouvir de seus filhos (sobrinhos) que eles são os melhores do mundo. E digo ao meu Pai, Luiz Amstalden, que ele foi o melhor pai do mundo. O melhor que eu poderia ter tido.
Heloisa A. Tivelli Angeli
11 de agosto de 2012
Amei de paixão!!!! Bela lembrança! Muitooooo meigo mesmo!
Grande abraço e que Deus te abençoe sempre pai-TIOZÃO!!!
Angelica OR
12 de agosto de 2012
Adorei,lindo registro deste bom momento.
Como mãe e tia me identifiquei com a história.
O tempo está passando tão rápido para todos nós
que vale a pena “colecionar” essas pequenas relíquias:
desenhos,textos,pequenos objetos e papeizinhos…
dentro de uma linda caixa.
Quem sabe no futuro,numa tarde chuvosa com pipocas,
ao abrir a caixa,voltem as lembranças desses bons momentos
em meio a risos e sorrisos!
Jean-Louis Buffet
12 de agosto de 2012
Luís, pelo bonito relato que você fez do domingo passado com seu sobrinho, tenho certeza de que, se você tivesse tido um filho, seria sem dúvida um excelente pai. Gostei muito do fato de teu sobrinho não ter jogado vídeo game… Abraço!
Carla Betta
13 de agosto de 2012
Que delícia!! Eu também fiquei muito feliz, porque a chuva é boa, o rio é bonito, mas as relações humanas são mais: “mais boas” e mais bonitas.
blogdoamstalden
16 de agosto de 2012
Obrigado, Carla. Bj.