ELO PERDIDO. Por Antônio Carlos Danelon

Posted on 19 de agosto de 2012 por

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Com a negação pela Justiça do pedido de impugnação da chapa adversária feito pelo PSDB, cada vez fica mais claro que o poder deixa cego quem não tem lastro para lidar com ele. Acham que podem tudo. Em vez de incentivar mais pessoas a pleitearem cargos públicos; valorizar mentalidades novas; estimular a participação de pensamentos diferentes a fim de qualificar o debate, preferem miná-los. Aliás, Piracicaba tem gente de renome, universidades de referência, mas dificilmente são chamadas para discutir as causas dos problemas e contribuir na elaboração e execução de políticas públicas eficientes e sustentáveis. Foi se o tempo dos seminários e congressos onde a sociedade debatia as questões e apresentava sugestões. As organizações populares nem existem mais. O orçamento participativo virou piada. Vereadores nem a lei do Orçamento discutem. Tudo é aprovado no escuso balcão dos interesses.

Não que os outros sejam melhores, mas esse partido parece um elo perdido do tempo da ditadura. Se fosse seu eleitor, mudaria meu voto, pois apagar a luz dos outros para que brilhe a própria é deslealdade. Seus caciques querem uniformidade. A diversidade os assusta, não sabem lidar com ela. Gostam do imediatismo e do segredo; tanto que até seus candidatos foram ‘pegos de surpresa com a própria escolha’. Quem não está com eles é tachado de oportunista, interesseiro e perturbador da ordem. Só eles podem ter interesses políticos, ninguém mais. Querem hegemonia. Realmente a massa está com eles, menos os que pensam com cabeça própria. Deve ser desconcertante atrair corações e sentimentos exceto inteligências.

Discutir causas é coisa de desocupado. Querem mostrar serviço. É a chamada administração apaga-fogo. São muitos os doentes? Unidades de saúde, remédios e hospital neles, menos descobrir por que ficam doentes. Muitos carros? Não interessa se um ônibus tiraria das ruas 50 automóveis. Derrubam árvores, estreitam calçadas e tome viadutos e avenidas. Muita violência? Câmeras falantes, mais polícia, armas, presídio e Águias cruzando os céus. Muito lixo? Manda pra fora a preço de ouro. Faltam casas? Não para os ricos. Para os assalariados existem centenas a mil, mil e duzentos o aluguel. Morar não é direito, é sorte. Por isso fazem sorteios. Mil casas para 20 mil pessoas. O Estádio fica lotado de desesperados. Isso dá ou não visibilidade?

Faltam vagas nas creches? Dividem uma em duas para ter o dobro. Constroem prédios em ritmo chinês – especialmente antes das eleições – ou ampliam os existentes, sobrecarregado ainda mais o já explorado pessoal de base. Alunos mal sabem escrever e interpretar um texto? Reformam prédios, trocam carteiras, melhoram equipamentos, dão mochilas e livros; contratam e até aumentam salários. Só não levam em conta o que pensa o protagonista da educação, que é o aluno. Muitos pobres? Não interessa por que são tantos. Bolsa Família neles, e outras benemerências para que se calem. Molecada está na droga? Polícia neles. Programas de recuperação, atividades inclusivas e que despertem talentos para o esporte, educação, lazer, artes? Mas, essa gente vota? Falta lazer? Pra pobre um zoológico está bom demais. O esporte na cidade é ruim? Buscam atletas de fora para ganhar troféus a fim de serem expostos no Centro Cívico. Servem para quê? Para gerar empregos ainda se servem do obsoleto estratagema de aliciar empresas com incentivos e infraestrutura. Embora empreguem mais e gerem mais impostos, pequenas empresas não dão visibilidade e nem bancam campanhas. A população precisa comer mais legumes, frutas e verduras? Uma boa política de incentivo à agricultura familiar e orgânica ajudaria muito. Porém, a cana de açúcar é mais vantajosa; para políticos e usineiros, claro.

É bem verdade o que disse o Marques de Maricá: “Os sábios recusam o poder; os loucos o cobiçam”.

Antônio Carlos Danelon é Assistente Social.