Medo e Coragem. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 28 de agosto de 2012 por

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Na próxima quinta feira, como mostra o cartaz ilustrativo, acontecerá a IV Quinta com Tema, realizada pela Trupe GiraMundus, de quem já sou fã.

O tema é “A Coragem” e ao ver que era este, lembrei-me deste texto que escrevi tempos atrás. Publico o cartaz do evento e abaixo o texto, que talvez possa servir de subsídio de reflexão para quem vai e para quem, como eu, infelizmente não poderá ir ao evento.

Segue o texto.

Nunca diga: eu não tenho medo!!!

Isto não seria uma verdade…

Você tem sim! Têm muitos, a não ser que você seja alguém anormal. Alguém que não está bem psicologicamente, mentalmente. Se, no entanto, você for e estiver  são, com certeza você tem medos. Dos mais simples aos mais complexos eles estão lá: medo de barata, de perder o emprego, o amor, a família, medo da dor, da solidão, da tristeza, da morte…

Ah, sim, você e eu estamos cheios de medo e medos…

Eu tenho tantos que nem sei de alguns. Só vou descobrindo-os aos poucos, quando as situações em que eles se fazem invocar, aparecem. Acredito que seja este o seu caso também, seu e da humanidade que não é ou não está louca.

E, sabe, alguns destes medos são muito saudáveis!

Ter medo de cachorro bravo ou de cobras, por exemplo, é saudável. A não ser que você seja um exímio encantador de serpentes ou amestrador de cachorros (o que não é o meu caso..) ter medo destes bichos evita que você seja imprudente, descuidado com eles.

Outros medos, porém, são perigosos, tanto pelo tipo quanto pela intensidade.  

Quando temos muito medo de cães ou cobras, medo em demasia, isto pode se tornar perigoso, porque podemos ver ameaça em minhocas ou em filhotes indefesos. Neste caso, você está preso e castrado por um medo irreal.

Eu sei que existem muitos e muitos medos absolutamente irreais. Eu próprio fui e sou vítima de muitos deles. Montaigne dizia que a sensibilidade e a inteligência são geradoras de grandes temores. Dizia que quando somos sensíveis, tendemos a imaginar os acontecimentos e temê-los por antecipação. Ora, os temores imaginários estão exatamente nesta classe. São frutos do que antecipamos imaginando. É através disto que uma minhoca vira cobra.

Se você for atento, terá percebido que os medos reais as vezes são assim também. As vezes eles são só a antecipação do sofrimento e do que pode acontecer se você enfrentar a situação que teme.

Mas o fato é que reais ou imaginários, saudáveis ou patológicos, você terá, muitas vezes, que enfrentar os medos. Talvez um dia você se veja frente a frente com um cão bravo, sem ter para onde correr. Talvez tenha que enfrentar uma doença, uma extração de dentes dolorosa (terrível para quem teme dentistas…) ou até mesmo que enfrentar uma pessoa que lhe ameaça ou faz mal, física ou psicologicamente.

E daí, o que acontece?

Talvez você possa fugir, é certo. Mas a fuga real só acontece se você fugir não só do objeto do seu temor mas também do medo em si, enquanto sentimento, sensação. Se você não for capaz disso, então mesmo fugindo levará seu medo com você e ele vai incomodá-lo sempre.

Você pode ficar paralisado. Isso acontece muito. E neste outro caso, você não somente não vai se livrar da sensação do medo como pior, você vai ser vítima do causador do seu medo. Seja um dente inflamado, seja um cão bravo ou alguém que lhe faz mal, ele vai crescer, machucar e dominar… Ele vai acabar por destruir você ou parte de sua vida.

Resta então enfrentar… Fazer, ir lá, tomar as providências, agir… qualquer coisa que signifique realmente enfrentar. Enfrentar o objeto do seu temor e o seu temor juntos.

Não, não é fácil… E a gente as vezes perde, as vezes a gente ganha (mas só se enfrentarmos, não se ganha paralisado ou fugindo). Porém, mesmo perdendo, não conseguindo vencer o que nos ameaça, se enfrentarmos uma coisa nós conseguimos: nós vencemos o medo enquanto sensação, enquanto algo que nos oprime e paralisa. Vencemos o medo enquanto algo que nos faz sofrer, não somente quando o objeto dele está ali presente, mas também algo que nos faz sofrer sozinhos, em casa, com a cabeça nos travesseiros. Vencermos algo que nos corrói por dentro, em todo e qualquer lugar.

É por isso que, penso eu, nós temos que enfrentar o que tememos. Porque não há saída… Ou enfrentamos ou este medo nunca nos abandonará e nunca nos dará paz.

Por isso, da próxima vez que você se ver diante de um medo que precisa enfrentar, enfrente. Seja qual for o resultado, algo você ganhará. A luta ou o fim do medo.

E da próxima vez em que estiver nesta situação, não diga a ninguém: “eu não tenho medo”.

Diga, somente a você mesmo ou aos outros, se quiser “eu tenho medo, mas vou fazer assim mesmo”.

Nesta hora, você terá descoberto a coragem…

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