A imprensa noticiou que entidades do setor sucroalcooleiro tentaram – e não conseguiram – derrubar liminar da Justiça Federal proibindo a queima da palha da cana sem estudos prévios. Alegam prejuízo.
Deveriam sim ser os primeiros a defender tal medida; mais ainda, pedir perdão à sociedade pelas décadas de poluição que fez sofrer crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias; as alérgicas e as com problemas de pele. Sem dizer do transtorno que passou essa gente e suas famílias com gastos imprevistos e tempo perdido nas unidades de pronto atendimento. E quem senão essa mesma sociedade tem arcado com os custos que isso tudo acarreta ao sistema? E quem banca o desperdício de água tratada na lavação da fuligem que emporcalha quintais, suja de novo as roupas nos varais, invade as casas, se assenta nos berços e até nos pratos de comida?
Vem essa gente falar de prejuízo depois de ter devastado nossas florestas, matado de fome, sede, fogo e solidão os animais que aqui moravam; espantado nossos sabiás, pintassilgos, curiós, papacapins, picapaus, borboletas e colibris? Piracicaba virou um deserto verde. Até agora quem ganhou foram eles à custa do sofrimento da maioria. Somos pólo sucroalcooleiro, mas a que custo? Sem álcool, sem açúcar e sem etanol sobreviveremos, e muito bem. E sem a natureza? “O Brasil tem mais terra, água e floresta per capta do que qualquer outro país, então deveria estar investindo, não destruindo”. (Vind Thomas – economista indiano, diretor do BIRD. Folha 24.05.09).
Sedentos de lucro trataram e ainda tratam o solo que sustenta a vida de forma pior que o diabo deve tratar o inferno. Fogo, veneno, destruição e morte. Muitos canavieiros agem como cafetões da terra já que se interessam unicamente nos lucros que ela lhes tem para dar. Respeitá-la e dela cuidar; cultivá-la, dar-lhe descanso e respeitar seu ciclo natural nem pensar. Como todos os infelizes, essa raça de gente precisa de muito dinheiro para enganar a solidão moral e a tristeza d’alma em que vive. Acontece que, como dizia Gandhi, a terra produz o suficiente para satisfazer as necessidades e não a cobiça dos humanos.
Proprietários entregam suas terras à voragem das usinas, que consomem sua carne deixando expostas suas entranhas nas profundas e irreversíveis feridas abertas pelas erosões. Envenenam seu sangue com pesticidas que, além dos insetos exterminam abelhas, mangavas e outros agentes polinizadores. Mesmo exausta e clamando por alento, não lhe dão trégua. É forçada a se recompor na marra engolindo toneladas de fertilizantes químicos, elevando cada vez mais os lucros das multinacionais do ramo.
E as vidas humanas? Não fossem organizações internacionais e locais darem em cima provavelmente ainda estariam transportando bóiasfrias como gado em caminhões; mantendo alojamentos análogos às senzalas e matando gente de trabalhar como aconteceu com muitos heróis anônimos que tombaram de exaustão misturando seus corpos às cinzas da natureza desolada. Esses pecados clamam aos céus e certamente o Senhor, como a Caim lhes perguntará naquele dia: “Onde está teu irmão”?
O nome do dono da COSAN consta na lista dos bilionários do mundo. Como pode alguém ser tão rico com tamanha dívida social, humana e ambiental? Se tivesse respeitado a natureza ou ressarcido os danos que nela causou; se tivesse repartido um pouco do lucro com os que o ajudaram certamente não acumularia tanto assim; teríamos gente menos pobre e um meio ambiente com mais saúde.
Quanto aos “prejudicados” com a suspensão das queimadas, plantem comida, frutas, legumes e terão mais lucros já que a produção local não dá conta da demanda. Se estiverem realmente a fim de cultivar a terra, um pé de mamão, por exemplo, dá mais lucro que muitos pés de cana.
Antônio Carlos Danelon é Assistente Social.
Carla Betta
4 de setembro de 2012
Excelente texto! Sinto que um grito preso na garganta foi berrado por outra voz! Foi berrado_ é o que importa! Precisamos gritar mais e formar um coral, um coral pela justiça social e pela justiça à natureza!
Eloah Margoni
4 de setembro de 2012
Caro Antônio Carlos, tão verdadeiro e comovente seu artigo, que trava a lingua; quase mais nada a dizer. Apenas uma pergunta: será que nosso “reino” está neste mundo???
Antonio Carlos Danelon
5 de setembro de 2012
Eloah, grande amiga de memoráveis lutas. Sei como lhe doi ver a natureza sofrer nas mãos do seu algoz, mas sigo seu exemplo, não desito nunca. Sei que o homem vem aprendendo na marra que neste planeta ele é rei sem trono. Obrigado por ler e comentar o texto.
Antonio Carlos Danelon
5 de setembro de 2012
Carla, sempre presente fazendo o mundo ouvir sua voz. Como isso é bom! Obrigado. Sua atitude é um incentivo para mim e para todos que acreditam na vitória do bem
Edgar G. F. de Beauclair
9 de setembro de 2012
Existem muitos erros técnicos misturados a ideologias e erros de analise. Primeiro, queimar a cana para colher e mais caro, e os produtores nao tem interesse nisso. Segundo existevacordo TRABALHISTA, pois a queima e exigida pelos trabalhadores, naompelos empregadores. Finalmente, o investimento inicial e alto, e a proibição pura e simples sem financiamento ao pequeno produtor (2000 só em Piracicaba) gera um movimento social concentrador de renda. Quanto a questão de saúde, os efeitos da queima da cana apenas contribuem para fatores mais importantes que Sao a baixa umidade do ar e a temperatura.
A cana crua e melhor sob todos os pontos de vista técnicos e científicos e já superou a marca de 90% da área colhida voluntariamente, afinal e desperdício evidente de energia e $, e quem escreveu esta muito mal informado. Por exemplo, vcs sabem que em Alagoas e Pernambuco foram feitos pedidos diretos dos governadores para nao acabar com o corte manual? O problema e social, falta emprego e educação e colocar a culpa nos produtores e falso, hipócrita, populista ou mera incompetência de analise dos fatos.
Estou disposto a maiores esclarecimentos no endereço edgar.beauclair@usp.br
Antonio Carlos
9 de setembro de 2012
Você não sabe discordar sem agredir? Escreva seu ponto de vista com clareza e não essa bagunça de (des)informações que você postou. Não estou interessado nos lucros de quem quer que seja, Estou falando que vejo e sinto. Você já andou pelos canaviais e viu o que é predação?