Gostar de Ler. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 19 de janeiro de 2013 por

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Foto de Juiana Machado Amstalden

Foto de Juiana Machado Amstalden

A partir de hoje, a seção “Estante” deste Blog será publicada sempre aos sábados. Por que aos sábados? Oras, porque é final de semana e geralmente temos mais tempo para pegarmos um livro e até para irmos a uma livraria.

A novidade é que pretendo também publicar aqui, além de dicas de livros e resenhas meus e de outros colaboradores, alguns textos para quem está iniciando ou precisando iniciar um hábito de leitura. Convenhamos, você não ouviu alguém lhe dizer, seja um professor ou  outra pessoa, que você precisa ler mais? Não disse isso a si mesmo em algum momento? Bem, então aqui você vai ter algumas dicas de como fazer isso nos textos regulares. A cada semana haverá uma variação. Em uma um texto, como hoje, em outra uma resenha, como será na semana que vem. Por enquanto, segue o primeiro. Boa leitura agora e no futuro.

Amstalden

“Tive a sorte de sempre gostar de livros. Desde antes de saber ler eu folheava aqueles que tinham ilustrações. Meus pais e uma tia muito querida, liam para mim e, talvez isso tenha ajudado a criar uma imagem positiva dos livros. E este gosto, este prazer, foi-me e é útil o tempo todo. Meu primeiro emprego, como estagiário numa pesquisa na UNICAMP, deveu-se ao fato de eu já ter lido antes um livro de um curso. Fiz a prova semestral da disciplina e, como leio bastante, escrevo razoavelmente, daí fui bem, muito bem. O resultado me valeu o emprego.

Em tudo o mais ser um leitor me ajudou. Ajuda minha fluência, meu conteúdo de informações e minha capacidade de imaginação e até em meus contatos sociais e profissionais. No entanto, minha relação com os livros é, antes de tudo, uma relação de prazer. A cada um que leio, tenho diversão e reflexão ao mesmo tempo. Sinto uma enorme satisfação em abrir um livro e entrar num universo diferente. Uma estória ou um pedaço da História que me envolve e me transporta para outra realidade ou para outra visão da realidade. É assim que vejo os livros, como “portais” para outras vidas, tempos e mundos que eu não conheço. Um bom escritor, de ficção ou técnico, consegue compartilhar comigo parte da sua experiência de ser, de viver e pensar. Aí está o maravilhoso da escrita e da leitura, a partilha de experiências que são únicas e continuariam a ser caso não houvesse este meio de transmissão que é a escrita.

A música, as artes plásticas e os filmes também podem fazer isso, transformar-se em “portais” para outros “mundos”. Mas eles não substituem a leitura, só a complementam. Quando você assiste a um filme baseado num livro, por exemplo, por mais fiel que esta adaptação seja, ainda assim geralmente o livro é melhor. E por quê? Por vários motivos, mas aqui eu escolho dois em particular. O primeiro é porque em geral um filme tem que condensar as cenas e informações e, assim, trechos saborosos e até personagens e situações de uma obra se perdem no filme. Em segundo porque ao ler temos que fazer um esforço mental de criar as imagens e situações do livro. No filme elas estão explícitas. E aí é que vem o interessante: nem sempre a sua imagem é igual a do diretor do filme. Nos trechos que mais lhe agradam, geralmente você cria uma imagem muito mais bonita, completa ou impressionante do que aquela que está na tela. Isso depende muito de cada um, de cada universo psicológico e cultural que lê e/ou assiste a um filme baseado num livro. Mas na esmagadora maioria das vezes eu escuto as pessoas comentando que, o livro que gerou um ou outro filme, é muito melhor do que o filme. Você leu Harry Potter? Assistiu ao filme? Cá para nós, se fez os dois, qual lhe agradou mais?

Agora, se você não lê ou lê pouco, pode apostar que esta perdendo muita coisa. Está perdendo o prazer a que me referi mas também a fluência, as informações e boa parte de sua capacidade de escrita. Ao lecionar hoje, noto que a maior dificuldade de meus alunos não é necessariamente a de entender o conteúdo da matéria nas minhas explicações, mas sim a de interpretá-las em um texto e de transmiti-las em outro. Em uma prova, muitos dos meus alunos erram porque não entenderam a pergunta (interpretação) ou porque não conseguem escrever a resposta (transmissão). Sempre ouço a mesma coisa: “eu entendi, professor, mas na hora de escrever eu não consegui…”. E vendo os vestibulares atuais, tenho a impressão que esta dificuldade de comunicação é geral. Na minha visão, as provas de ciências humanas no ENEM e nos vestibulares hoje, têm cada vez mais textos para se interpretar do que dados para se reproduzir. Será que eles estão tentando “reverter” a falta de capacidade de leitura dos alunos? Eu imagino que sim.

Bem, mas como se “reverte” isso? Reverte-se, obviamente, com leitura. E aí é que entra algo muito legal, pode-se reverter esta situação com prazer, o prazer em ler. Quando digo isso aos alunos, eles geralmente dizem que “não gostam de ler”, logo não têm prazer nisso. Este é o grande problema, transformar a leitura em algo prazeroso. Dá para fazer isso? Eu penso que sim. E é aí que entram algumas dicas importantes, que pretendo ir colocando aos poucos nesta seção do Blog. Para não cansar os que ainda estão começando, vamos aos poucos. Segue hoje somente uma dica:

Primeira Dica:  se você não tem o hábito de ler e quer adquiri-lo, não adianta começar com um livro sobre um assunto que não lhe interessa ou mesmo com algum que seja algo famoso. Você não vai gostar de ler uma obra clássica se a pegar somente porque ela é clássica. Ao contrário é capaz de desenvolver mais aversão ao livro ainda. Escolha um livro sobre um assunto que você gosta realmente. Do que você gosta? De futebol? Bem, tem vários sobre isso, de contos, de História, técnicos etc. Pegue um destes primeiro. Não gosta de futebol? Gosta do quê? De notícias policiais? Procure um livro policial, oras. Tem milhares. O importante é isto, começar pelo que lhe é agradável. Caso contrário, você vai se frustrar e acabar por desistir de vez da leitura. E o prejuízo, pode apostar, será todo seu… “

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