IV – LINGUAGEM DO GRAFITE:
Com o crescimento do número de Grafiteiros/Pixadores, o próximo passo era buscar se diferenciar dos demais. Num primeiro momento todos os tags eram parecidos. Começam a surgir, setas, asteriscos, estrelas e símbolos que marcassem um estilo próprio. Era necessário dar um valor artístico maior às letras. A evolução natural levou as letras a ganharem novos contornos, novas formas e cores. Assim surgiram os estilos Bubble (letras mais cheias e arredondadas), Broadway (letras em blocos), Mechanical (inspiradas em metais) e Wild Style (estilo mais complexo onde as letras se fundem formando uma nova composição estética).
O surgimento dos marcadores (canetas com pontas de 1 cm a 5 cm) ajudou que os tags fossem multiplicados com uma velocidade incrível. Sua tinta não saia com facilidade e o tamanho de uma caneta ajudava no uso, podendo guardar no seu bolso sem problemas.
O Metrô foi o maior aliado na divulgação desta nova forma de intervenção urbana. Ao pintarem um vagão em determinado bairro, sabiam que este vagão passaria por todas as linhas, em todos os cantos da cidade. Após quinze anos de perseguições, as administrações da cidade de Nova York conseguiram extinguir com as intervenções no dia 12 de maio de 1989. Foram 150 milhões de dólares gastos em limpeza e segurança somando mais de 80 mil horas de trabalhos limpando vagões. O fim dos Grafites nos metrôs afetou a divulgação da arte de muitos grafiteiros.
Os trens foram outra opção para esses artistas. A comunicação neste caso deixou de ser apenas “dentro da cidade”, passando a ser “entre cidades”.
3D – Estilo tridimensional, baseado num trabalho de brilho / sombra das letras.
Asdolfinho – Novo estilo de grafite desenvolvido por americanos, no qual é visado a pintura animal.
Backjump – Comboio pintado em circulação, enquanto está parado durante o percurso (numa estação por exemplo).
Bite – Cópia; influência direta de um estilo de outro writer; imitar o estilo de outro grafiteiro.
Bomb – É a evolução seguinte à do Tag. As letras são preenchidas e possuem 2 cores.
Bombing – Grafite rápido, associado à ilegalidade, com letras mais simples e eficazes.
Bubble Style – Estilo de letras arredondadas, mais simples e “primárias”, mas que é ainda hoje um dos estilos mais presentes no grafite.
Cap – Cápsula aplicável ás latas para a pulverização do spray. Existem variados caps, que variam consoante a pressão, originando um traço mais suave ou mais grosso (ex: Skinny”, “Fat”, “NY Fat Cap”, etc).
Characters – Retratos, caricaturas, bonecos pintados a grafite.
Crew – “Equipa”, grupo de amigos que habitualmente pintam juntos e que representam todos o mesmo nome. É regra geral os writers assinarem o seu tag e respectiva crew (normalmente sigla com 2 a 4 letras) em cada obra.
Cross – Pintar um grafite ou assinatura por cima de um trabalho de um outro writer.
Degradé – Passagem de uma cor para a outra sem um corte direto. Por exemplo uma graduação de diferentes tons da mesma cor.
End to end – Carruagem ou comboio pintado de uma extremidade à outra, sem atingir a parte superior do mesmo (por ex. as janelas e parte superior do comboio não são pintadas).
Fill-in – Preenchimento (simples ou elaborado) do interior das letras de um grafite.
Hall of Fame – Trabalho geralmente legal, mural mais trabalhado onde normalmente pinta mais do que um artista na mesma obra, explorando as técnicas mais evoluídas.
Highline – Contorno geral de todo o grafite, posterior ao outline.
Hollow – Grafite ou Bomb que nao tem fill (preenchimento) algum e, geralmente, é ilegal.
Inline – Contorno das letras, realizado na parte de dentro das letras.
Kings – Writer que adquiriu respeito e admiração dentro da comunidade do grafite. Uma posição que todos almejam e que está inevitavelmente ligada à qualidade, postura e anos de experiência.
Outline – Contorno das letras cuja cor é aplicada igualmente ao volume das mesmas, dando uma noção de tridimensionalidade.
Roof-top – Grafite aplicado em telhados, outdoors ou outras superfícies elevadas. Um estilo associado ao risco e ao difícil acesso, mas que é uma das vertentes mais respeitáveis entre os writers.
Spot – Lugar onde é praticada a arte do grafitismo.
Tag – Nome; pseudônimo do artista; assinatura e/ou Pixação; tanto pode ser a assinatura do autor de um grafite, como a assinatura solta pelos muros. Também se refere ao ato de “pixar” (com x). Pixar é expressar e popularizar um nome, um pseudônimo, uma marca.
Throw-up – Estilo situado entre o “tag”/assinatura de rua e o bombing. Letras rápidas normalmente sem preenchimento de cor (apenas contorno).
Top to bottom – Carruagem ou carruagens pintadas de cima a baixo, sem chegar no entanto às extremidades horizontais.
Toy – O oposto de King; writer inexperiente, no começo ou que não consegue atingir um nível de qualidade e respeito dentro da comunidade; o grafiteiro iniciante.
Train – Denominação de um comboio pintado.
Whole Train – Carruagem ou carruagens inteiramente pintadas, de uma ponta à outra e de cima a baixo.
Wild Style – Estilo de letras quase ilegível. Um dos primeiros estilos a ser utilizado no surgimento do grafite.
Writer – Escritor de grafite; pessoa que manipula a lata de spray na realização dos grafites; o artista que pinta.
Depois surgiram as Produções (trabalhos complexos com um contexto único amarrando todo o Grafite).
V – ARTISTAS REFERIDOS:
Taki 183 é visto como o primeiro que ganhou fama com o Grafite em Nova York/EUA. Vivendo num ambiente onde o Grafite/Pixação era utilizado por gangues para fins de demarcação de território e propaganda, Taki 183 lança seu primeiro Grafite/Pixação em um caminhão de sorvete no verão de 1970 assinando-o por “Julio 204”.
Antes dele, Cornbread e Cool Earl já faziam história na Filadélfia/EUA, como ficou registrado pela revista Philadelphia Inquirer Magazine, em maio de 1971. Além das gangues, o Grafite/Pixação fazia parte de atividades de protesto, como uma forma de expressão direta e rápida.
Hugo Martinez, ao criar o grupo chamado United Graffiti Artists estabeleceu um novo padrão à Arte Grafite. Neste projeto eram encontrados os melhores de Manhattan, Bronx e do Brooklyn. A eles eram dadas a oportunidade de trabalhar como um grupo e com metas visando uma melhor educação para os próprios artistas e para demais interessados. Com a UGA, Hugo realizou a primeira Exposição de Arte Grafite na faculdade City College em Nova York. No ano seguinte, a Razor Gallery expôs 20 telas gigantescas feitas por membros da UGA estabelecendo a ponte entre os Grafiteiros e o mercado de arte novaiorquino.
Os primeiros mestres da Arte Grafite foram: Super Kool 223, Stay High 149, Topcat 126, Barbara, Eva 62, Lee 163d, Phase II, Tracy 168, Julio 204, Taki 183, Lady Pink formando a primeira leva do Grafite norte-americano.
Foi Superkool 223 que descobriu que ao usar bicos de perfumes, venenos e outros produtos o traço poderia variar se tornando mais espesso ou mais fino. Nos dias de hoje, os Fat Caps (grossos) e os Thin Caps (finos) são vendidos por revistas especializadas em Grafite.
No início dos anos 80 uma segunda geração surge entrando em galerias de arte de renome e fazendo turnês pela Europa. Dondi, Futura 2000, Ladi Pink, Blade, Fab 5 Freddy e Lee Quiñones levaram a Arte Grafite para a Mídia. O cinema foi um grande impulsionador nesta época. Os filmes “Beat Street” e “Wild Style” bem ou mal divulgaram a Cultura Hip-Hop por todo o mundo. Também os livros “Subway Art” e “Spray Can Art” serviram como guia para os interessados de outros continentes.
A Europa, hoje, é rica em Grafiteiros de renome mundial como Daim, Loomit e Mode 2, só para citar alguns. E não só a Europa, mas em todos os continentes a Arte Grafite está presente e evoluindo sempre. Cada país coloca uma pitada de sua cultura enriquecendo o Grafite e os demais elementos da Cultura Hip-Hop.
VI – GRAFITE NO BRASIL:
O grafite foi introduzido no Brasil no final da década de 1970, em São Paulo. Os brasileiros por sua vez não se contentaram com o grafite norte-americano, então começaram a incrementar a arte com um toque brasileiro, o estilo do grafite brasileiro é reconhecido entre os melhores de todo o mundo.
Alex Vallauri (1949-1987) é considerado um dos precursores do grafite no Brasil. Etíope, chegou a São Paulo em 1965. Estudou gravura e formou-se em Comunicação Visual pela FAAP. Em 1978, passou a fazer grafites em espaços públicos da cidade. Produziu silhuetas de figuras, utilizando tinta spray sobre moldes de papelão.
Morou em Nova York entre 1982 e 1983. Durante esse período, também fez grafites nos muros da cidade. Em sua produção destaca-se a série A Rainha do Frango Assado, que também foi tema de instalação apresentada na 18ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1985. Sua obra foi apresentada na retrospectiva “Viva Vallauri”, realizada no Museu da Imagem e do Som – MIS, em São Paulo, em 1998.
Juntamente com o grafite de Vallauri, destacam-se os trabalhos de Waldemar Zaidler e Carlos Matuck. O grupo Tupinão Dá composto por Carlos Delfino, Jaime Prades e Milton Sogabe é outra referência importante quando o assunto é o grafite em São Paulo. O grupo realizou performances e grafitagens pela cidade durante toda a década de 1980.
O Dia Nacional do Grafite é 27 de março e foi instituído após a morte de Vallauri, que ocorreu nesse dia, no ano de 1987.
Muro onde convivem vários tipos de grafites, no Rio de Janeiro.
Fachada decorada com grafite, em Olinda, Pernambuco.
VII – LIGHT GRAFITE:
Os artistas de rua não param de inovar. Há alguns anos, o “Graffiti Research Lab”, grupo formado por grafiteiros que pesquisam novas tendências e formas de expressão criou o “Light Grafite.”
Mesmo não utilizando tintas, o “Light Grafite” não deixa de lado a contestação. A ideia surgiu dos conceitos de luz e fotografia sendo baseado na técnica para capturar as imagens. No “Light Grafite”, o artista utiliza projeções de luz e registra as imagens em fotografia, formando assim um grafite de luzes. No entanto, para se produzir da maneira correta o “Light Grafite” o custo é bem maior do que o do Grafite tradicional, fator que dificulta a popularização da nova tendência.
Para se fazer o “Light Grafite” é preciso ter um projetor, ou um jogo de luzes para desenhar no objeto ou muro. O produto final poderá ser em várias cores, de acordo com as cores das luzes usadas nos desenhos. Para captar a imagem, o artista também precisa de uma câmera com sistema de velocidade e programá-la para fotografar com um maior tempo de exposição (velocidade lenta). Desta forma, as luzes irão incidir na fotografia e resultar no efeito desejado. O tempo ideal de exposição é de 10 a 30 segundos. Para tanto, é necessário utilizar um tripé, ou fixar a câmera em um local, evitando que a imagem fique tremida. Em outros casos, o artista pode criar pequenos filmes com o “Light Grafite”, sempre utilizando as técnicas de exposição das luzes.
Com tantos recursos tecnológicos (luzes e câmeras adequadas), o “Light Grafite” é ainda pouco utilizado no Brasil. Foram apresentadas algumas técnicas no SESI e na Avenida Paulista, no Festival Internacional de Linguagem Eletrônica. Convidados pela ONG Oficina de Imagens, os integrantes do “Graffiti Research Lab” ensinaram a técnica e desenharam com laser em Diamantina, Minas Gerais. Na ausência de um prédio ou paredão, eles projetaram em uma pequena casa.
Outra forma de se fazer o “Light Grafite” é utilizando “leds” (pequenos pontos de luzes). No caso, são fixados os pontos de “leds” na forma de um desenho e quando acesos criam o efeito desejado. Com os “leds”, o custo é menor. O resultado final, porém, é bem diferente do “Light Grafite” projetado. Recentemente, os filmes de “Light Grafite” ganharam ainda mais força após a utilização da técnica em uma campanha publicitária de uma companhia telefônica norte-americana.
Valéria Pisauro é Professora de Literatura e História da Arte.
Oliver
2 de fevereiro de 2014
Belos grafites!! Você sabe dizer em qual rua fica esse grafite da “fachada decorada” em Olinda?