Os Argumentos e os Fatos. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 7 de março de 2013 por

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Quando uma criança é flagrada fazendo algo errado ou duvidoso ou ainda é questionada pelo que deixou de fazer (uma lição de casa, por exemplo), costuma argumentar em comparação ou colocando a culpa em outra pessoa. Em geral diz algo como: “mas o meu coleguinha também não fez”, ou então: “mas ele fez pior” ou ainda: “a culpa não é minha, é dele”. Estes “argumentos” são na verdade uma falta de justificativas, vindas, penso eu, do fato de que a criança sabe que não pode oferecer uma explicação aceitável para o que fez de errado ou para o que deixou de fazer. Assim, para amenizar uma situação de erro ou omissão ela estabelece comparações, como se isso fosse suficiente para isentá-la da sua responsabilidade.

Espera-se que quando as crianças cresçam, comecem a elaborar suas argumentações de outra maneira, justificando de fato suas atitudes ou assumindo que não foram capazes de se portar diferente. Isto é um dos significados de ser adulto. No entanto, nem sempre isso acontece, muitos adultos continuam a se portar como crianças na hora de assumir suas responsabilidades e também posições. Infelizmente, este parece ser o caso de alguns defensores do aumento das tarifas de ônibus em Piracicaba. Recentemente vi um ex-secretário escrever no JP defendendo o reajuste. Sua argumentação segue duas linhas: em cidades governadas por outros partidos a tarifa é maior e em segundo lugar, aqui temos isenção para maiores de sessenta anos, enquanto nas ditas cidades da “oposição” só se isenta os maiores de sessenta e cinco. Na mesma linha de raciocínio, alguém que se intitula militante do PSDB escreveu uma carta para o mesmo JP e a Prefeitura afixou panfletos nos terminais comparando tarifas entre municípios. E isto para não falar dos pronunciamentos de vereadores na Câmara e fora dela. Alguns chegaram a dizer que “quem tem que decidir sobre as tarifas são os técnicos da prefeitura”, descartando uma audiência pública para discutir o assunto e dando a entender que a população não tem nada a ver com o preço da passagem. Fiquei pensando com quem teria a ver então. Somente com os proprietários de empresas de transporte público talvez? Outro tem afirmado em público, que, caso a tarifa abaixe, haveria a retirada do sistema de integração de ônibus (e lamentavelmente, este é um dos que se elegeu com os votos da periferia…). Eu posso estar enganado, talvez mesmo esteja meio “aéreo”, mas não me parece que tais argumentações são de “gente grande” diante de um fato tão importante quanto transporte e suas tarifas.

Vamos a alguns fatos. Em primeiro lugar, o aumento de tarifa afeta, e muito, a economia de quem depende do transporte público. Aliás, afeta toda a economia da cidade, já que gera aumento do custo de vida local e altera outros preços e salários. Daí a situação é tão importante que diz respeito a todos os cidadãos, não só aqueles que se utilizam do transporte público. Isto me faz indagar por que os vereadores da base do governo não aceitaram uma audiência pública sobre o assunto. Retorno a pergunta anterior, será que o assunto só diz respeito ao Executivo e às empresas de transporte? Eu estou sendo ilógico ou a atitude de evitar uma audiência é “infantil”?

Em segundo lugar, temos o fato de que NÃO interessa se nesta ou naquela cidade a tarifa é maior ou mesmo menor. Interessa a todos que a NOSSA tarifa seja a menor possível. Interessa que todos possam pagar o menos possível para se locomover. Isto permite que o salário do trabalhador não fique comprometido demais com os transportes e possa se reverter em outras despesas, tais como saúde, educação, cultura e até no consumo. Entendo portanto, que o papel do poder público, incluindo vereadores e Executivo, não pode ser o de “ficar comparando situações”, como crianças que comparam suas “artes”, mas sim lutar para que tenhamos a menor tarifa possível com a melhor qualidade possível. Isto, a meu ver, significa governar. Afinal, governa-se em nome do povo e para o povo, ou não?

E o que acontece em caso dos nossos custos serem realmente muito altos e não houver maneira de abaixar esta tarifa? Como o poder público deveria reagir? Penso que de duas maneiras, a primeira tendo a humildade de reconhecer a situação e pedir desculpas à população afetada. Se for o caso, até de reconhecer que o assunto deveria ter sido mais bem analisado no passado. A segunda forma de reação seria a de assumir um compromisso para com a população de criar alternativas e planejamentos para que, no futuro, esta tarifa caia ou pelo menos não suba. Penso ainda ser possível sim buscar tais alternativas e que esta busca é parte da administração de uma cidade.

O prefeito de nossa cidade tem em suas mãos um estudo feito por professores da USP sobre os custos de transporte público na cidade. Ele não divulgou o resultado até o momento em que escrevo. Fica aqui uma sugestão. Divulgue e o faça publicamente, numa audiência pública. Isto é o que os seus eleitores esperam, um prefeito que esteja com eles mesmo que seja para dar más notícias. Quanto aos vereadores que defendem a tarifa atual e não querem audiência pública, além de outros defensores dos R$ 3,40 pagos no ônibus, pelo menos revejam sua argumentação e discutam os fatos com argumentos de adultos. Crianças tem a desculpa de serem imaturas ao se defender. Mas adultos tem que se portar diferente, sob pena de acreditarmos que eles estão defendendo interesses outros que não os do povo.

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