Como assistente social trabalhei cerca de 30 anos com mulheres. Tive colegas maravilhosas. Com elas apurei minha masculinidade e desenvolvi um pouco minha feminilidade. Observei muita coisa e aqui faço algumas considerações. De modo algum quero generalizar. São considerações baseadas em conceitos subjetivos, passíveis de ampla contestação.
Observei que a mulher é uma criatura admirável. Fiel, forte no sofrimento, e na adversidade consegue reverter a favor. Tem habilidade incrível para organizar e fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Quando administra a casa para o supérfluo não dá moleza. Sua capacidade de acolher e cuidar desarma. Consegue compreender o coração e o jeito de ser de cada filho, sem olvidar as carências do companheiro, que se for um banana perde o comando; se explosivo, ela faz o contra peso e se pisar não fica impune.
Seu semblante bonito – e sempre é – alegra o olhar. Sua ausência torna a vida um deserto. Trabalha com afinco, mesmo doente. Qual homem seria capaz de levar as crianças em ordem à creche, trabalhar o dia inteiro, apanhá-las de volta e começar uma nova jornada, com as intermináveis implicações que os cuidados do lar acarretam? “Nenhum homem se aproxima, nem de longe, do amor e da compaixão de que uma mulher é capaz”. (Madre Tereza).
Por outro lado – retomo que não estou generalizando – observei que essa mesma fantástica criatura nas relações de trabalho, mais ainda em cargos de chefia ou mando, se torna irreconhecível. O poder as fascina, e um salário melhor se torna irresistível.
No caso da Assistência, por exemplo – onde a presença masculina é rara – a prevalência da visão feminina, embora importante, compromete diagnósticos precisos porque, grosso modo, mulheres são imediatistas e tarefeiras; não interpretam fatos e nem percebem suas causas porque lhes falta visão do todo. Pensam mais com o coração justamente por sentirem dificuldades em planejar e avaliar. Desperdiçam recursos importantes refazendo coisas sob nomes diferentes; as ações são paliativas porque os objetivos são desfocados. Uma mosca pode virar um elefante e viceversa. Evitam o trabalho em equipe, não gostam de negociar e são apegadas ao cargo. Melindrosas e concorrentes relutam admitir e assumir as próprias limitações.
Aceitam condições precárias de trabalho e a jornada tripla as oprime, contudo, puxam para si o ônus. Como se tivessem em dívida com os seus, se esgarçam tentando dar conta de tudo. Do que ganham, pouco lhes sobra, e com isso se sentem justificadas. Só são reconhecidas como boas profissionais, boas mães e boas mulheres nas hipócritas homenagens dos dias das Mães e da Mulher. O resto do ano é trabalho e opressão.
Na verdade, a parte mais pesada ficou para elas; basta observar que na maturidade muitas mulheres parecem mais velhas que os homens. Com exceção das vitimizadas pela injustiça, muitas delas teriam feito mais pela coletividade se tivessem gasto consigo mesmas e com os seus, o tempo que dedicaram enricando patrões.
É certo que a mulher deve ser financeiramente emancipada, e sua presença no mundo do trabalho é irreversível. Porém, só isso não a realiza e o preço está sendo muito alto. “Na América do Norte e na Europa, entre as empresas que oferecem aos seus funcionários trabalhos em meio período, 89% dos que aceitam são mulheres. Na Holanda a maioria delas não trabalha o dia inteiro, tendo filhos ou não. Para as mulheres, a vida não é apenas trabalho, salário e promoções”. (Susan Pinker, psicóloga, Folha de São Paulo 21.03.10).
O mundo precisa de boas profissionais. Antes, porém carece de acolhimento, segurança, beleza, mesa rodeada, família tranquila, gente contente e bem cuidada.
E quem melhor que a mulher entende disso?
Antônio Carlos Danelon é Assistente Social.
totodanelon@ig.com.br
Ninfa Sampronha Barreiros
8 de março de 2013
Totó, boa lembrança a sua. Por todas as mulheres, agradeço. Só contribuindo com a sua reflexão. Li, dentre tantas coisas que leio, de algumas empresas multinacionais, principalmente as da Europa, que preferem contratar mulheres que possuem filhos. Fiquei curiosa por essa postura. Considerei um avanço, vez que em nosso país a primeira coisa que se pergunta é o seu estado civil. A minha surpresa foi de que para os padrões europeus as mulheres que possuem filhos são mais “rápidas” e mais eficientes que os homens no seu pensamento, mais organizadas e com isso mais objetivas. Isto porque pensam 3 ou 4 coisas ao mesmo tempo, com certeza deve ser pelos longos anos de prática dos afazeres do lar e quando assumem algum posto, já deixaram tudo organizado. Este trabalho exige de nós a eficiência e eficácia de uma boa administração. Portano, você há de convir que agora que os homens estão participando pontualmente dos afazeres doméstico. Continuando, para essas empresas, o olhar da mulher para com o meio de produção é consciente de que é mais uma a vender a sua força de trabalho e só. Essas empresas pagam o mesmo salário que pagariam para um homem no mesmo cargo. Elas não desejam ser donas da empresa, é histórico. Mas, não se alongando não é uma beleza que os direitos sejam iguais? Essa é só uma ótica de como a mulher é vista pelo capitalismo, que refleti e me lembrei pelo seu texto. Se tiver que discorrer do ponto de vista de moda, de moral, da cidadania, da fé por exemplo, tomaria conta de todos os comentários, prefiro deixar que outras companheiras reflitam sobre o seu escrito. Não deixo de expressar “Ainda bem que a convivência com todas as mulheres que passaram pela sua vida, fez você ter essa consciência aflorada”.