Hoje, recebi de um amigo um link de vídeo no qual o deputado/pastor Marco Feliciano conduz uma coleta entre os fiéis. Não posso julgar a crença de quem dá dinheiro às Igrejas, mas ao assistir o vídeo, e o fiz várias vezes, não pude deixar de pensar em alguns fatos.
Primeiro, os incentivos para que os fiéis doem dinheiro e bens, assim como a postura do pastor diante das doações, inclusive “parcelando-as” ou pré datando cheques, lembra profundamente a política de venda de indulgências da Igreja Católica no Século XVI. Uma política na qual a benção de Deus e suas graças podiam ser alcançadas mediante doações financeiras. O pastor usa o termo “sacrifício”, o que era, também um termo utilizado pelo papado para justificar as doações. Eu não sei qual a justificativa teológica da Igreja de Marco Feliciano, mas parece ser a mesma dos antigos católicos. O incrível é que a Reforma Protestante que gerou Igrejas como a de Feliciano, começou exatamente pela indignação de Martinho Lutero com a venda de indulgências pelos católicos. Estes aboliram a prática, mas os que vieram da Reforma parecem tê-la retomado com entusiasmo.
Em segundo, me ocorreu que a linguagem do “sacrifício” tem algo de idólatra. Ao ouvir a fala do pastor, lembrei-me dos cultos pagãos nos quais se sacrificava animais e até pessoas a deuses mercenários, que então distribuíam suas bênçãos. Esta me parece outra contradição do pastor. Os evangélicos não são radicalmente contra idolatrias? Não proíbem imagens pelo mesmo motivo? Aliás, eu pensava que o Cristianismo com um todo tinha abdicado deste tipo de sacrifícios. Estarei errado?
Em terceiro e último, o vídeo deu-me a impressão de que Deus é um grande negociante que troca bênçãos por dinheiro. Não sou teólogo, mas fui ensinado que Deus é bondade infinita. Talvez ele queira sim, algum sacrifício de nós, mas talvez este sacrifício seja aquele mais difícil, que Cristo nos pedia, o de amar ao próximo como a nós mesmos. O dinheiro doado não significa, a meu ver, amor a ninguém, mas apenas uma barganha.
Marco Feliciano acaba de assumir a presidência da CDH, Comissão dos direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Uma opção errada, penso eu, dadas as declarações homofóbicas e racistas que ele já fez. Sua nomeação é um exemplo das malditas barganhas políticas feitas no Congresso, assim como também são exemplos as nomeações de Blairo Maggi para a presidência da Comissão de Meio Ambiente e a de Renan Calheiros para a presidência do Senado. Mas o que torna as declarações de Feliciano mais negativas e coloca ainda mais em dúvida sua nomeação, é o fato dele justificar suas posturas em relação aos negros e aos gays em termos religiosos. Da mesma maneira que justifica a “coleta” financeira que faz no seu culto.
Segue o link do vídeo. Confira você mesmo e depois me diga. Talvez eu é que esteja errado…
PS: por favor, me poupem de argumentos do tipo “Igreja Católica e Pedofilia”. Não estou criticando Feliciano para dizer que a Igreja Católica é boa. Aliás, quero cadeia, pura e simples, aos religiosos pedófilos, sejam eles padres, bispos ou até o Papa.
Anônimo
10 de março de 2013
é triste ver pessoas que em nome de Deus, aproveitando a vulnerabilidade das pessoas, fazem, na minha opinião, um acharque com as pessoas. O pastor é claro ao dizer que será abençoado quem fizer a doação. E sempre a mesma tecnica: começa com bens de enormes valores, cheques de R$1.000,00 e depois va diminuindo, ou seja, vence pelo constrangimento. A doação é livre. Se as pesoas acham que devem doar seu dinheiro, que doem, mas espertalhões utilizar o nome de Deus isso sim não tem preço…
blogdoamstalden
12 de março de 2013
Concordo. Parece um leilão as avessas. Começa com uma quantia maior e vai diminuindo.
Evandro Mangueira
10 de março de 2013
O direito a religião é garantido constitucionalmente, cada um faz o que quer de suas escolhas. O grande problema é que quando não se tem informação suficiente, o direito as escolhas fica comprometido. Para ser franco, pouco me importa que o pastor Marco Feliciano cometa o mesmo crime de indulgência, que já foi tão praticado pela igreja Católica, ou que os seus fieis doem tudo o que possuem. Embora eu ache errado tal prática, o que não pode passar impune, sem observação crítica e severa, é tal pessoa, com histórico homofóbico e racista, se tornar Presidente da comissão dos direitos humanos e minorias, Quais humanos que tem direitos? Algumas igrejas descobriram até onde o poder os levará, e alguns pastores descobriram o que o poder de persuadir proporciona. Para mim, e sendo franco, pessoas como o Silas Malafaia e Marco Feliciano são os verdadeiros ateus, não acredito que tais práticas cometidas por esses homens, tenha a fé como plano de fundo. E por fim, digo, o poder público não pode ficar em mãos de criminosos e pilantras. Até quando o nome de Deus será usado para práticas tão mesquinhas? Até quando justificaremos toda criminalidade com o uso da Bíblia, e até quando as pessoas serão tão facilmente enganadas? Marco Feliciano pode continuar com suas igrejas (afinal, ainda não é crime, enganar através da fé), mas tem que perder, pelo menos, o cargo que ele cospe e zomba com suas declarações racistas, nem vou falar homofóbicas, porque essa última parece que virou bandeira partidária do PSC – PARTIDO SEM CORAÇÃO!
blogdoamstalden
12 de março de 2013
Evandro, fui questionado pela internet pelas minhas críticas ao pastor. E a pérola maior foi a fala de alguém que disse que não se podia negar, pelo texto bíblico, que os africanos haviam sido amaldiçoados. Logo o pastor tinha direito de dizer o que disse. Quer pior? A mesma pessoa perguntou se eu questionava biblicamente que os judeus haviam sido amaldiçoados…. O que eu posso responder? Tive vontade de escrever: “Heil Hitler”
Carla Betta
10 de março de 2013
Não sei nem o que dizer… Concordo com o texto e com os comentários acima em gênero, número e grau, mas não saberia nada escrever, porque não consigo passar deste estágio de um aperto doído e paralisante correndo pelas minhas entranhas!
Pablo Carajol
10 de março de 2013
Meu caro Amstalden, boa tarde,
A atual configuração do sistema político brasileiro invoca e provoca ao eleitor, mais especificamente aos cidadãos, uma postura mais crítica e ativa frente às principais questões do país, sejam elas econônicas, sociais ou ambientais. Não basta mais somente eleger esse ao aquele candidato, teremos que fiscalizar os mandatos, os partidos,avaliar e se for preciso vetar publicamente coligações ou acordos, cobrar explicações públicas dos mandatários, dirigentes partidários, lideranças, participar de movimentos sociais independentes dos partidos políticos, convocar referendos, consultas enfim, ir ao extremo dos pressupostos e estruturas democráticas. É evidente que muitas destas questões passam pela Reforma Política, como a questão do financiamento púbico de campanha, o fortalecimento dos partidos, a ética entre tantos assuntos importantíssimos. A velha “carta branca” dada aos mandatários é a primeira medida para promover uma valorização da política!
Pablo Carajol
10 de março de 2013
Corrigindo, o último parágrafo: O FIM da velha “carta branca” dada aos mandatários é a primeira medida para promover uma valorização da política!
blogdoamstalden
12 de março de 2013
Concordo em gênero, número e grau, Pablo. Mas o pior é que os mecanismos de controle que temos sobre os deputados são fracos. Se eles não fizerem algo absolutamente ilegal, não há jeito formal de controlá-los. Daí eu pergunto, alguém acredita que eles farão uma reforma política que altere isso? Eu vou propor outra coisa. Que boicotemos as legendas destes deputados infelizes. Talvez seja uma opção.
Antonio
10 de março de 2013
A frase, caso tenha sido dita pelo deputado, já é preconceituosa. Nela ele já diz claramente o que pensa sobre qualquer um.
Infelizmente, antes da politicagem envolvida nessa nomeação, antes das verbas que serão desviadas a nomeação deste deputado e a visão dada pela mídia a pessoas que pensam da mesma forma. As seitas pentecostais, todas com origem nos EUA, direta ou indiretamente confirmam algo que eu pessoalmente acredito: O mundo caminha para uma Nova Idade Média.
Aqueles que conhecem e gostam de ler sobre a história da humanidade veem um paralelo entre a situação atual e a situação do mundo nos anos que precederam a queda do Império Romano.
Uma poténcia monopolista, insuflamento das desvenças religiosas, cupidez dos governantes à semelhança do que ocorria com os consules romanos poder economico nas mãos de poucos e falta de cultura e de capacidade de análise. Não me refiro a informação que existe em quantidade inclusive em razão da net mas, e a qualidade desta informação?
A capacidade de análise e senso crítico, onde estão? .
Caminhamos céleres para uma Idade Média, este deputado é mais um sintoma.
blogdoamstalden
14 de março de 2013
Antônio, acho que está mais para uma perigosíssima proximidade com a Alemanha Nazista…
Daisy Costa
10 de março de 2013
os ‘fiéis’deixam de ser pessoas dignas e se transformam em interesseiros barganhando ‘ofertas’ em troca de ‘futuras bençãos-na verdade, maldições’… e vão se deixando levar literalmente ao inferno! Maldito pastor…
Evandro Mangueira
10 de março de 2013
Como se fosse pessoas normais! (?)
Anônimo
12 de março de 2013
Meu Deus.. n consegui terminar de assistir ao vídeo!!! É Nojento!!!! Triste ver a boa intenção e fé de pessoas ingenuas serem usadas desta forma!!!!