Deus, o Dinheiro e os Direitos Humanos. Por Luis Fernando Amstalden.

Posted on 10 de março de 2013 por

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Marco Feliciano

Hoje, recebi de um amigo um link de vídeo no qual o deputado/pastor Marco Feliciano conduz uma coleta entre os fiéis. Não posso julgar a crença de quem dá dinheiro às Igrejas, mas ao assistir o vídeo, e o fiz várias vezes, não pude deixar de pensar em alguns fatos.

Primeiro, os incentivos para que os fiéis doem dinheiro e bens, assim como a postura do pastor diante das doações, inclusive “parcelando-as” ou pré datando cheques, lembra profundamente a política de venda de indulgências da Igreja Católica no Século XVI. Uma política na qual a benção de Deus e suas graças podiam ser alcançadas mediante doações financeiras. O pastor usa o termo “sacrifício”, o que era, também um termo utilizado pelo papado para justificar as doações. Eu não sei qual a justificativa teológica da Igreja de Marco Feliciano, mas parece ser a mesma dos antigos católicos. O incrível é que a Reforma Protestante que gerou Igrejas como a de Feliciano, começou exatamente pela indignação de Martinho Lutero com a venda de indulgências pelos católicos. Estes aboliram a prática, mas os que vieram da Reforma parecem tê-la retomado com entusiasmo.

Em segundo, me ocorreu que a linguagem do “sacrifício” tem algo de idólatra. Ao ouvir a fala do pastor, lembrei-me dos cultos pagãos nos quais se sacrificava animais e até pessoas a deuses mercenários, que então distribuíam suas bênçãos. Esta me parece outra contradição do pastor. Os evangélicos não são radicalmente contra idolatrias? Não proíbem imagens pelo mesmo motivo? Aliás, eu pensava que o Cristianismo com um todo tinha abdicado deste tipo de sacrifícios. Estarei errado?

Em terceiro e último, o vídeo deu-me a impressão de que Deus é um grande negociante que troca bênçãos por dinheiro. Não sou teólogo, mas fui ensinado que Deus é bondade infinita. Talvez ele queira sim, algum sacrifício de nós, mas talvez este sacrifício seja aquele mais difícil, que Cristo nos pedia, o de amar ao próximo como a nós mesmos. O dinheiro doado não significa, a meu ver, amor a ninguém, mas apenas uma barganha.

Marco Feliciano acaba de assumir a presidência da CDH, Comissão dos direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Uma opção errada, penso eu, dadas as declarações homofóbicas e racistas que ele já fez. Sua nomeação é um exemplo das malditas barganhas políticas feitas no Congresso, assim como também são exemplos as nomeações de Blairo Maggi para a presidência da Comissão de Meio Ambiente e a de Renan Calheiros para a presidência do Senado. Mas o que torna as declarações de Feliciano mais negativas e coloca ainda mais em dúvida sua nomeação, é o fato dele justificar suas posturas em relação aos negros e aos gays em termos religiosos. Da mesma maneira que justifica a “coleta” financeira que faz no seu culto.

Segue o link do vídeo. Confira você mesmo e depois me diga. Talvez eu é que esteja errado…

PS: por favor, me poupem de argumentos do tipo “Igreja Católica e Pedofilia”. Não estou criticando Feliciano para dizer que a Igreja Católica é boa. Aliás, quero cadeia, pura e simples, aos religiosos pedófilos, sejam eles padres, bispos ou até o Papa.

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