No vídeo acima, temos mais uma manifestação contra a permanência de Marcos Feliciano na Comissão de Direitos Humanos. Desta vez feita pela cantora Elza Soares num show em São Paulo na última quinta feira. Amanhã, dia 26 de março de 13, a sua situação pode ser revista. O presidente da Câmara, Deputado Henrique Alves, declarou na semana passada que a situação de Feliciano é “insustentável”. André Mora, líder do PSC na Câmara também pediu a Feliciano que reavalie sua decisão de não sair da presidência da Comissão.
Enquanto isso, hoje, dia 25 na sede da Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro, uma ato público em protesto a Feliciano está marcado para acontecer com a presença de vários artistas, líderes religiosos e intelectuais.
Já me manifestei várias vezes aqui e pelo jornais sobre isto. Penso que é um caso de, no mínimo, infelicidade nas falas e no máximo, de preconceito puro e simples. Ambas as situações não são compatíveis, penso eu, com o cargo que ele ocupa.
Mas, seja o que for que acontecer amanhã, Feliciano já garantiu sua reeleição. Criando uma atmosfera de guerra religiosa, na qual opõe os “cristãos” aos “ímpios” e fala de uma perseguição dos primeiros pelos segundos, o Deputado dificilmente perderá as próximas eleições para a Câmara. Esta, me parece, é sua real intenção.
Um belo truque político, que utilizando da irracionalidade, dos preconceitos e do discurso de perseguição, troca um cargo pela reeleição certa.
Minha esperança é que a população mais religiosa, mesmo que não aceite a homossexualidade como uma condição normal, seja capaz de separar o joio do trigo. Que seja capaz de entender que, seja qual for a orientação sexual, cor de pele ou opção religiosa, todos os seres humanos (e cada vez mais penso que todos os seres vivos) têm direitos e que a Comissão dos Direitos Humanos é o local onde estes direitos devem ser garantidos. Ela não tem poder e nem terá de impor nenhuma restrição de culto a ninguém e muito menos a aceitação desta ou daquela condição ou modo de vida. Só tem o dever de garantir que os homossexuais, negros, não cristãos, heterossexuais, brancos, orientais, mulheres, homens, crianças e toda espécie humana tenham seus direitos reconhecidos por lei, tal como o direito a vida.
Tenho a esperança de que os mais religiosos percebam a diferença e percebam que não se trata de uma questão de perseguição religiosa, mas de manobra política. Por último, tenho a esperança de que todos se lembrem que o Deputado Feliciano não tem somente uma dívida em relação às suas declarações. Mas também tem por empregar pessoas como assessores parlamentares com dinheiro público e que deveriam estar em Brasília trabalhando, mas estão nas igrejas do deputado realizando cultos. Isso não é uso do dinheiro público para fins particulares? Não significa que os que não pertencem a sua igreja estão pagando por ela também? Isso é justo? Isso é cristão? Também há um processo contra Feliciano, de estelionato, movido por evangélicos que pagaram ao deputado para que ele fizesse uma pregação e não a receberam, tampouco receberam o dinheiro de volta. Peço a todos, evangélicos, católicos e membros de qualquer religião que atentem para estes fatos. Quem fala em nome de Cristo deve se portar como tal. Afinal, o que será do mundo se o sal da terra perder seu sabor?
Segue um manifesto do CONIC, Conselho Nacional das Igrejas Cristãs, entidade que reúne católicos de diversas correntes e protestantes históricos. Eles parecem ter percebido a diferença entre os princípios religiosos e o uso político da religião.
Moção de Repúdio
O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, reunido entre os dias 8 a 10 de março na cidade de São Paulo, em Assembleia Geral, por seus delegados e delegadas, vem expressar publicamente o seguinte:
- Considerando a importância da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados na implementação dos DHESCAs (Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais) em nosso país;
- Considerando a necessidade de que esta Comissão seja presidida por quem tem histórico de compromisso coerente com os DHESCAs;
- Considerando o corolário de nossa missão, à luz dos valores que a inspiram, e as manifestações de diversos segmentos da sociedade brasileira, expressamos nosso repúdio ao processo que levou à escolha do Deputado Marco Feliciano (PSC), o qual, por suas declarações públicas, verbais e escritas de conteúdo discriminatório, de cunho racista e preconceituoso contra minorias, pelas quais responde a processos que tramitam no Supremo Tribunal Federal. Tal comportamento o descredencia para liderar a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e propugnamos por seu imediato afastamento.
Pela ética na Política!
Por um Congresso Nacional transparente e com ficha limpa!
Pela Reforma Política do Estado brasileiro na busca da ampliação da cidadania!
São Paulo, 09 de março de 2013.
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil
Gleison
25 de março de 2013
Pelo posicionamento de muitas pessoas, favoráveis e contrárias ao Feliciano, penso que esta polêmica certamente irá ajudá-lo nas futuras eleições, pois muitos conservadores, retrógrados, alienados e fanáticos religiosos que ainda não o conhecem passarão a conhecê-lo e se identificar com sua ideologia, não o suficiente para elegê-lo para um cargo majoritário (governador, prefeito, senador ou presidente da república), mas certamente para reelegê-lo deputado federal, e com votos suficientes para eleger mais alguns candidatos do seu partido pelo coeficiente eleitoral. Infelizmente.
Evandro Mangueira
25 de março de 2013
Um dos melhores artigos! Concordo com o Gleison, mas a democracia tem um preço e temos que pagar! Nesse momento é importante que ele caía fora! Se ganhou visibilidade, paciência, temos que confiar no poder da democracia!